Resposta a leitores e o Diário Oficial da Santa Sé sobre a Maçonaria

Resposta a leitores e o Diário Oficial  da Santa Sé sobre a Maçonaria


Alguns leitores me enviaram perguntas sobre o artigo recente em que tratei da INCONCILIABILIDADE ENTRE FÉ CRISTÃ E MAÇONARIA. Confrontaram-me com três argumentos. No primeiro, disseram que, no início, foram os católicos que mais compuseram a maçonaria, sob a proteção de um rei católico. Depois, disseram que após o Concílio Vaticano II, o ponto específico que proibia os católicos de aderirem a “seitas maçônicas” foi revisado. No novo código, promulgado em 1983 por São João Paulo II, a menção explícita à franco-maçonaria foi retirada completamente. Assim, me disseram argumentaram que a contradição era “uma questão política” e não ponto de fé. Por fim, me afirmaram que a maçonaria faz o contrário do meu artigo: disseram que ela incentiva o aprofundamento da fé cristã e a harmonia entra as religiões. 

Por uma questão de respeito e diálogo com os que optaram por seguirem a maçonaria, pela honestidade intelectual que o assunto merece e, sobretudo, pela convicção que minha Fé Católica merece em sua defesa – volto ao assunto para responder, esclarecer e me dispor sempre a receber quaisquer perguntas que nos permitam tirar a penumbra de segredo sobre o que é incompatível com aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo pregou ao dizer: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Mais do que apenas divagar por conta própria, começarei com informações pesquisadas pelo Catholic Herald Institute (Ed Condon) e na sequência transcreverei o texto do Diário Oficial da Santa Sé sobre a Maçonaria, com pequenas adaptações.

A versão mais recente da Franco-maçonaria teve início com a formação da Grande Loja da Inglaterra, em 1717, em um bar chamado Goose & Gridiron, próximo à Catedral londrina de São Paulo Apóstolo. Nos primeiros anos, ANTES que a Igreja fizesse qualquer pronunciamento formal sobre o assunto, muitos católicos já faziam parte da associação e a “diáspora” dos católicos e jacobitas ingleses foi crucial para espalhar a Franco-maçonaria na Europa continental. Ela chegou a se tornar, em alguns lugares, tão popular entre os católicos que o Rei Francisco I da Áustria serviu de protetor formal da instituição. Mesmo assim, a Igreja se converteu na maior inimiga das lojas maçônicas.

Muitos entenderam que a mudança no novo código de Direito Canônico, promulgado em 1983 por São João Paulo II como um indicativo de que a Franco-maçonaria não mais era considerada má aos olhos da Igreja. Na verdade, os membros do comitê responsável pela reforma esclareceram que eles queriam se referir não apenas aos franco-maçons, mas a muitas outras organizações; a conspiração da agenda secularista maçônica tinha-se espalhado para tão além das lojas que continuar usando um termo abrangente como “maçônico” seria confuso. O então Cardeal Ratzinger emitiu um esclarecimento da nova lei em 1983, no qual deixou claro que o novo cânon havia sido formulado para encorajar uma interpretação e uma aplicação mais abrangentes.

A 26 de Novembro de 1983 a Congregação para a Doutrina da Fé publicava uma Declaração sobre as associações maçónicas (cf. AAS LXXVI, 1984, 300). Desde que a Igreja começou a pronunciar-se a respeito da maçonaria o seu juízo negativo foi inspirado por multíplices razões, práticas e doutrinais. (...) Na Encíclica Humanum Genus de Leão XIII (20 de Abril de 1884), o Magistério da Igreja denunciou na Maçonaria IDEIAS FILOSÓFICAS E CONCEPÇÕES MORAIS OPOSTAS À DOUTRINA CATÓLICA. Para Leão XIII elas reportavam-se essencialmente a um naturalismo racionalista, inspirador dos seus planos e das suas atividades CONTRA A IGREJA. Na sua Carta ao Povo Italiano “Custodi” (8 de Dezembro de 1892) ele escrevia: “Recordemo-nos que o cristianismo e a maçonaria são essencialmente inconciliáveis, de modo que inscrever-se numa significa separar-se da outra”.

O primeiro grande problema de princípios da maçonaria é exatamente o fato de ela pregar para seus seguidores o “tanto faz quem seja o senhor da sua fé”, desde que, para além dos confins das diversas religiões e visões do mundo, reúnam-se homens de boa vontade com base em valores centrados em atender ao ser humano (e não a Deus), compreensíveis e aceitáveis por todos. 

A maçonaria constituiria um elemento de coesão para todos aqueles que creem no Arquiteto do Universo e se sentem comprometidos em relação àquelas orientações morais fundamentais que estão definidas por exemplo no Decálogo; ELA CLAMA QUE NÃO AFASTARIA NINGUÉM DA PRÓPRIA RELIGIÃO, mas pelo contrário constituiria um incentivo a aderir ainda mais a ela.

Nesta sede não podem ser discutidos os multíplices problemas históricos e filosóficos que se escondem em tais afirmações. Antes de tudo deve recordar-se que a comunidade dos “pedreiros-livres” e as suas obrigações morais se apresentam como um sistema progressivo de símbolos de carácter extremamente absorvente. A rígida disciplina do arcano que nela predomina reforça ulteriormente o peso da interação de sinais e de ideias. Este clima de segredo comporta, além de tudo, para os inscritos o risco de se tornarem instrumento de estratégias que lhes são desconhecidas. Embora se afirme que o relativismo não é assumido como dogma, todavia propõe-se de fato uma concepção simbólica relativística, e, portanto, o valor “relativizante” de uma tal comunidade moral-ritual longe de poder ser eliminado, resulta pelo contrário determinante.

Neste contexto, as diversas comunidades religiosas, a que pertence cada um dos membros das Lojas, não podem ser consideradas senão como simples institucionalizações de uma verdade mais ampla e incompreensível. O valor destas instituições parece, portanto, inevitavelmente relativo, em relação a esta verdade mais ampla, a qual se manifesta antes na comunidade da boa vontade, isto é, na fraternidade maçônica. 

Para um cristão católico, todavia, não é possível viver a sua relação com Deus numa dúplice modalidade, isto é, dividindo-a numa forma humanitária – super-confessional e numa forma interior – cristã. NÃO PODE CULTIVAR RELAÇÕES DE DUAS ESPÉCIES COM DEUS, nem exprimir a sua relação com o Criador através de formas simbólicas de duas espécies. 

Esta subversão na estrutura fundamental do ato de fé, realiza-se, além disso, geralmente, de modo suave e sem ser advertida: a sólida adesão à verdade de Deus, revelada na Igreja, torna-se simples pertença de uma instituição, considerada como uma forma expressiva particular ao lado de outras formas expressivas, mais ou menos igualmente possíveis e válidas, do orientar-se do homem para o eterno.

A tentação de ir nesta direção é hoje ainda mais forte, enquanto corresponde plenamente a certas convicções prevalecentes na mentalidade contemporânea. A opinião de que a verdade não pode ser conhecida é característica típica da nossa época e, ao mesmo tempo, elemento essencial da sua crise geral.

Por Rafael Corradi Nogueira