Confusões sobre o Sínodo e sobre Verdade perene e imutável da Carne

Confusões sobre o Sínodo e sobre  Verdade perene e imutável da Carne


O Sínodo dos Bispos, iniciado pelo Papa Francisco esta semana, virou alvo de uma montanha de mentiras e desinformação. Sobretudo, pasme: por quem não é católico, louva o progressismo, mas curiosamente, busca desesperadamente a aprovação e a condescendência da Santa Igreja. 

Um exemplo? É de conhecimento público que nós católicos acreditamos que Deus Encarnado ensinou que o Matrimônio só existe e, por consequência sua aprovação perante Deus, entre um homem e uma mulher – já que o primeiro dos três bens sagrados do casamento, a prole, só pode ser gerada mediante a relação entre os dois gêneros biológicos. Chegaram a especular que Francisco, vigário de Cristo na Terra, está defendendo a “benção de união homossexual”, quando o Santo Papa deixou a explícito a sua percepção sobre abençoar, individualmente, duas pessoas – independentemente de elas fazerem parte daquilo que a igreja condena como pecado: a união homossexual. Ele não se referiu a abençoar a união entre os indivíduos, mas sim a abençoar os indivíduos. E ainda alertou para que estas bênçãos “ não impliquem um conceito equivocado de matrimônio”. Afinal, podem ser irmãos católicos tão pecadores quanto qualquer um de nós, que lutamos contra outras naturezas de pecados. Ninguém na Igreja Católica é melhor do que seu irmão. Analogia que abraça todo e qualquer natureza de pecado: a Igreja é um hospital onde todos nós pecadores, hipócritas, precisamos de algum tipo de curativo em nossas mais diferentes quedas. Basta uma rápida olhada nos dez mandamentos. O importante é entender que a benção é uma arma para lutar contra a continuidade do cometimento do pecado. E não uma salvaguarda para sua reincidência. 

Lamentavelmente, uma profunda falta de entendimento sobre a imutabilidade de dogmas e doutrinas católicos têm levado a especulações de notícias infundadas sobre uma suposta “nova” visão do Papa Francisco e de mudanças nos ensinamentos de Jesus Cristo, Deus Encarnado para nós católicos, sobre temas caros à ideologia progressista e à modernidade humanista – linha ideológica que tem a conveniência do ser humano como centro da crença, antes de Deus, em contraste com a posição que nós católicos colocamos Deus e o compromisso com ele, antes da conveniência humana. Essa nuvem de comentários enxerga, como um cardápio de itens a serem escolhidos separadamente, as obrigações de Fé que nós católicos acreditamos serem uma única Verdade inseparável, transmitida ao longo de dois mil anos pelos 265 papas que sucederam São Pedro.

“De fato, a Igreja de Cristo, diligente guardiã e vindicadora das doutrinas a ela confiadas, nelas nada jamais altera, nada omite, nada acrescenta, mas, com todo o zelo, tratando fiel e sabiamente os velhos dados que desde tempos remotos tomaram forma e que a fé dos Padres semeou, procura limá-los e poli-los de tal modo que aqueles antigos dogmas da doutrina celeste recebam evidência, luz e precisão, mas conservem <sua plenitude, integridade e característica e se desenvolvam somente segundo seu <próprio> gênero, ou seja, no mesmo dogma, no mesmo sentido, na mesma sentença”, registrou iluminado por Deus, o Papa Pio IX, na Bula “Ineffabilis Deus”, de 8 dez. 1854. 

E para aqueles se autodenominam cristãos, mas questionam a perfeição e imutabilidade dos pronunciamentos dos Papas, sobre Fé e Moral, com valor idêntico aos escritos da Bíblia Sagrada, gosto de lembrar uma reflexão precisa de Robert Sungenis, no livro “Não somente pelas escrituras”. Nenhum Protestante que crê na Bíblia tem dificuldades para aceitar a ideia de Deus guiando autores humanos falíveis na redação infalível das Escrituras. Porém, quando vem a ideia de Deus estendendo sua condução infalível às decisões dos bispos posteriores aos apóstolos para a decisão final do cânon das Escrituras, eles de repente farejam Catolicismo e hesitam. Os Protestantes já aceitam, implicitamente, o princípio de que Deus pode guiar de modo infalível homens falíveis para que ensinem infalivelmente, tanto nos ensinamentos orais dos profetas e apóstolos quanto na redação das Escrituras. Contudo, por isso, não faz absolutamente nenhum sentido negar que Deus guiou infalivelmente o processo pelo qual a Igreja composta por homens falíveis é capaz de se expressar infalivelmente por meio do Magistério dos bispos e papas. 

A essas dificuldades a Igreja tem respondido, desde o período da Reforma, com as palavras do seu divino Fundador: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Jesus Cristo, é evidente, quis que a sua doutrina fosse preservada ao longo das gerações e fielmente transmitida a todos os povos, sem desvios nem corrupções humanas. Era conveniente, portanto, que estabelecesse um órgão de transmissão dos seus ensinamentos que, por um lado, os protegesse de uma leitura arbitrária e de um subjetivismo pernicioso e, por outro, estivesse ao alcance fácil e seguro de todas as inteligências, conforme as palavras de Timóteo: Deus “deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2, 4). 

Do mesmo modo, a Bíblia não poderá ser entendida, na profundidade do seu significado, por quem não se deixar iluminar pela luz da verdadeira fé, dando o seu mais fiel e humilde assentimento tanto aos livros sagrados, cujo autor principal é o próprio Deus, e àqueles que o mesmo Senhor constituiu como seus únicos e legítimos intérpretes, ou seja, ao Magistério daquela que é, à semelhança de sua túnica inconsútil, a depositária incorruptível dos tesouros divinos e o prolongamento, na terra, do seu próprio Corpo: a santa Madre Igreja, una, católica, apostólica e romana.