Católicos ou não – fechar comércio no Corpus Christi é defender o progresso civilizacional de Itaúna
Fechar as portas comerciais em razão do dia de Corpus Christi fortalece a cidade que almejamos para nossas famílias – ainda que seja um ponto facultativo. Sejamos católicos ou não. O evento tem origem católica, mas suas consequências vão além da religião. Brasileiros que somos, nossa cultura, nossos óculos para ver o mundo, são amparados por valores provenientes da relação de cooperação entre a Igreja fundada por Jesus Cristo, há 2 mil anos, e o Estado Luso-Brasileiro. Nossa Educação, nosso desenvolvimento econômico, nossa base sociocultural e até o conceito de família, como o conhecemos, são frutos do catolicismo. Tão mais fortes em um município do interior de Minas. Tudo isso se enfraquece silenciosa e vagarosamente, quando se confrontam as bases inconscientes da mentalidade progressista moderna, a modernista teologia protestante da prosperidade, a cultura do divórcio e a do lucro. A liberdade de escolha legitimamente fez nascer uma parte da sociedade quem não abrace o catolicismo e suas datas santas. Entretanto, da mesma forma que um minuto de silêncio demonstra respeito à dor de um luto alheio, o respeito à interrupção de funcionamento comercial em um dia de feriado católico, demonstra deferência à crença da maior parte de nossos irmãos itaunenses.
Convido-o a se colocar no lugar de um funcionário católico assalariado, que se sentindo pressionado, não teve outra escolha, senão trabalhar normalmente no dia da celebração do Corpo de Cristo.
Jean Daniélou – cardeal francês, professor decano do Institut Catholique de Paris e respeitado pensador, próximo do Papa João XXIII – registrou que a religião cria o clima para a solução de problemas políticos e sociais. Ensinou que as realidades dessas questões fazem bem em reconhecer os valores cristãos. Em Itaúna, as bases da economia e da sociedade que conformou o munícipio de alta qualidade, alto IDH, atual, foram criadas pelas Companhia de Tecidos Santanense e pela Companhia Industrial Itaunense – berços da pujante sociedade que conhecemos. João de Cerqueira Lima, ao ensejo de fundar a Itaunense, nos exemplifica como os valores católicos participam ativamente da Itaúna próspera que dá guarida a nossas famílias. Segundo o historiador Guaracy de Castro Nogueira, em 4 de março de 1911, pouco antes da reunião sobre a fundação da empresa, o empresário redigiu seu voto de compromisso: “Coloco a Companhia sob a proteção de Maria Santíssima (...), que traga prosperidade a todos que cooperaram para o bem social. (...) Meu espírito vacila(...). [Mas, amparado por Ela, buscarei] a observância de todos os deveres para com os empregados (...), que se aplique alguma esmola em qualquer casa de caridade e meio por cento de minha renda para que Ela me inspire na prática do bem (...)”.
Na fé católica, a comemoração litúrgica do Corpo de Cristo se iniciou no ano de 1270 e ocorre sempre sessenta dias após a Páscoa. Celebra-se o mistério da Eucaristia. A doutrina oficial da Igreja Católica Romana segue o ensinamento de São Tomás de Aquino, segundo o qual – baseado na filosofia de Aristóteles, o pão e o vinho possuem características visíveis imutáveis a que ele chamou de “acidentes”. Mas, tem como essência aquilo que ele chamou de “substância”. Ela, durante a Eucaristia, se converte em corpo e sangue de Jesus.
Conforme nos ensina o festejado historiador mineiro, João Camilo de Oliveira Torres, em sua obra “História das Ideias Religiosas no Brasil”, diferente dos credos messiânicos (como o Judaísmo), o Catolicismo e suas crenças dissidentes cristãs são religiões de Salvação. São formas que procuram libertar o homem do mal e suas consequências não com base em razões e motivos temporais, mas, além da vida. Bem nos relembra o estudioso sobre como o povo vê no Cristo, Deus Encarnado, a imagem do irmão sofredor. O Cristo vivo, outrora tornado invisível pelas práticas tridentinas, passa a ser alcançável e especialmente próximo na quinta-feira de Corpus Christi.
O dia é muito especial religiosamente para a maioria dos itaunenses. Mas, também deveria ser para os não católicos. Em especial, aqueles que estão em posição de orientar, explicar e decidir sobre o fechamento ou abertura comercial da cidade.
Tito Lívio e Manuel Rodrigues Ferreira, em História da Civilização Brasileira, falam sobre o malogro da conversão católica intentada pelos jesuítas sobre os nativos brasileiros. Entretanto, em análise de João Camilo de Oliveira Torres, foram esses religiosos que estabeleceram o ensino hegemônico brasileiro, com formação humanística. Aquela arraigada na cultura “mineiresca”. Mais. Padre Manuel da Nóbrega ainda nos registra que esses mesmos jesuítas fizeram, combatendo, da ligação nascida da anarquia sexual brasileira, dos tempos coloniais, os casamentos cristãos que modelaram, também, a tradicional e respeitável família mineira.
Filantropia e benemerência também entram na lista dos valores espraiados pela Igreja Católica por meio de cada uma de suas datas, rituais e diretrizes. Repare: a geração de emprego e a produção econômica são frutos, em Itaúna, de uma cultura católica.
Seja como for, além dos valores católicos que devemos preservar e subconscientemente são os motores da Itaúna que cultivamos, fazer ao outro aquilo que gostaria que fizessem conosco é um dos ensinamentos pueris que são repetidos para além do catolicismo, mas nem sempre são completamente compreendidos. Mesmo por cristãos.