Populares denunciam ação truculenta da polícia

Comando faz “vista grossa” e divulga nota à imprensa com informações que não condizem com o vídeo reproduzido nas redes sociais

Populares denunciam ação truculenta da polícia
A série de imagens reproduz a ação da polícia. Reprodução/Redes sociais
Populares denunciam ação truculenta da polícia
Populares denunciam ação truculenta da polícia
Populares denunciam ação truculenta da polícia
Populares denunciam ação truculenta da polícia
Populares denunciam ação truculenta da polícia
Populares denunciam ação truculenta da polícia
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Populares denunciam ação truculenta da polícia
Populares denunciam ação truculenta da polícia

Um ato visto pela maioria da população como ação truculenta de um policial militar foi reproduzido em vídeo e postado nas redes sociais, com inúmeras manifestações de repúdio na tarde de ontem, quarta-feira, dia 21. O fato aconteceu na área central da cidade, em frente à Escola Estadual 'José Gonçalves de Melo', na Rua Tácito Nogueira, quando policiais militares coordenavam o rebocamento de um veículo estacionado em local indevido.

Conforme as imagens, a ação do reboque se desenrolava quando o condutor do veículo, um idoso de 65 anos, chegou ao local. O vídeo mostra a partir de uma fala do motorista, perguntando ao policial: “Eu vou ser preso, por causa de quê? Eu fui descarregar ali”, tenta explicar e se dirige à porta do motorista, parecendo que ia entrar no carro. Nesse momento, o policial tenta segurá-lo e o homem diz: “Me solta, c...”, segurando o que parece ser um aparelho de telefone celular.

Em seguida, ele leva a mão à porta do carro e, nesse momento, o policial usa do cacetete para dar-lhe uma “gravata” e puxa-o, aplicando o que seria um “mata-leão”. O homem fala ao policial várias vezes: “Você vai me matar... você vai me matar...”.

A policial que está no local intervém e parece agir para soltar o motorista das mãos do policial, que o segura com enforcamento, usando o cacetete e o algema. O motorista, parecendo já sem forças, desaba e fica sentado ao chão. Uma senhora, idosa, cabelos brancos, chega no local e intervém, parece que pedindo calma ao policial, o mesmo sendo feito por um rapaz que também vai até o local, enquanto a policial parece apaziguar a ação.

Enquanto isso, um funcionário do guincho parece ameaçar pessoas que estariam filmando o ocorrido. É possível ouvir parte da sua fala, que seria no sentido de impedir as filmagens. A pessoa que estava gravando as imagens a que a FOLHA teve acesso afirma: “Tem que gravar sim, fique esperto sô, Zé b....”.

Nesse momento, o funcionário do guincho se vira e levanta o braço, apontando o dedo do meio, em gesto obsceno, e a filmagem é encerrada.

O que diz a lei?

Em 21 de outubro de 2021, foi sancionada a Lei 14.229, que “altera a Lei nº 7.408, de 25 de novembro de 1985, e a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), para dispor sobre a fiscalização do excesso de peso dos veículos; altera a Lei nº 10.209, de 23 de março de 2001, para dispor sobre a prescrição da cobrança de multa ou indenização nos termos que especifica; e dá outras providências”.

A partir de então, com a presença do proprietário ou condutor do veículo no local, ele não poderia ser rebocado. Também existe a situação, no caso em tela, de que o motorista alega que estava descarregando e, portanto, havia estacionado no local adequado, já que ali existe uma placa de “carga e descarga”. A assessoria da PM informa que, “quando a equipe chegou, o veículo estava estacionado, trancado e com condutor ausente. O reboque gastou mais de 10 minutos para chegar. Disse que estava descarregando, mas não apresentou nada que comprovasse que estava descarregando”.

A PM encaminhou nota à imprensa

No grupo de imprensa da 9ª Cia. PM Ind., responsável pelo policiamento em Itaúna e Itatiaiuçu, foi postada a seguinte nota:

NOTA A IMPRENSA

Durante o atendimento de uma ocorrência de um veículo que estava estacionado irregularmente, o proprietário do veículo entrou no carro para impedir a ação policial.

Após ordens legais para sair, ele desobedeceu, configurando crime de desobediência.

 Ao sair e dirigir-se ao porta-malas, tentou retornar ao veículo, foi impedido e agrediu os militares com empurrões.

Diante da agressão iminente, os policiais utilizaram técnicas de imobilização com tonfa e algemas, contendo o autor sem causar lesões.

O autor foi conduzido ao hospital, e posteriormente para Delegacia de Polícia Judiciária”.

Conforme as imagens do vídeo a que tivemos acesso, as informações da nota não condizem com o que se viu na ação.

O que dizem manifestantes

A FOLHA, desde a tarde/noite da quarta-feira, tem recebido diversas manifestações de populares questionando a ação da PM. Por esse motivo, buscamos apurar detalhes da operação, para não apelarmos ao sensacionalismo das redes sociais e apresentar os dados o mais claro possível para análise do leitor.

Dentre as alegações de populares estão, por exemplo, informações de que já foram feitas denúncias de que “proprietários dos guinchos estariam pagando propinas para que os veículos sejam rebocados”. Que os carros de reboque ficam próximos de onde os policiais estão agindo, “para não dar tempo de as pessoas questionarem o rebocamento dos carros”. Que há uma rigidez excessiva para determinados pontos e um afrouxamento para outros e citam, por exemplo com o caso motociclistas que estacionam tranquilamente em qualquer lugar sem serem incomodados.

A reportagem também recebeu informações de que, na ocorrência registrada, o condutor não teria sido levado até a Delegacia, como afirma a nota, tendo sido liberado pelo próprio policial militar, o que não estaria correto, pois o mesmo deveria conduzir o preso até a Delegacia.

Também existem vários questionamentos sobre o porquê de a PM só agir com eficiência em casos de estacionamento irregular e outras infrações, como avanço de sinal, ultrapassagem indevida, transitar em contramão de direção, veículos pesados circulando em locais impróprios, não receberem punições.

Para a maioria das pessoas, com a indústria da multa em Itaúna, comandada pela prefeitura, também se instalou a “máfia do reboque” e consequentemente o trabalho da PM, que seria o de proteger e oferecer segurança ao cidadão, passou a ser de agente de trânsito. 

VÍDEO REPRODUÇÃO REDES SOCIAIS: