IMPÉRIO DO CRIME? - Praça da Matriz vira “Cracolândia”
Brigas diárias, tráfico de drogas em plena luz do dia e bandido afirmando que “sou o dono da praça”. Essa é a realidade daquele espaço

Nesta semana, a situação no local ficou insuportável! A Praça da Matriz virou uma “Cracolândia”! O crime tomou conta da Praça! Estou com medo de passar aqui até durante o dia! Essas e uma série de outras frases, no mesmo sentido, puderam ser ouvidas de diversas pessoas nos últimos dias. Tudo isso em meio a brigas de pessoas que passaram a ocupar o espaço público de forma a agir com violência e com abusos de todas as formas. Mas a frase mais grave, dita por um homem que vários apontam como o chefe do tráfico de drogas no local, é a seguinte: “A praça é minha!”. Isso mesmo, um espaço público da cidade está sendo tomado por um criminoso. E quem vai dizer que isso não é verdade, que não está acontecendo?
Nos últimos cinco, seis anos, as reportagens da FOLHA têm sido mais intensas em relação ao abandono em que a Praça da Matriz de Itaúna se encontra. Local que antes servia de ponto de encontro de famílias passou a servir de moradia para um grupo de moradores em situação de rua e outros que, mesmo tendo onde residir, resolveram se apossar do local em função dos que ali “moram”. Os abusos começaram com a mendicância agressiva. Homens abordando idosos, mulheres, crianças, exigindo dinheiro, que diziam ser “uma ajuda”. Depois, começaram a surgir as rodas de bêbados, que se embriagam ali mesmo, na Praça, à luz do dia. Sem quaisquer admoestações. Seja por parte de qual instância se averigue, do poder público. A chamada “assistência social”, a polícia, enfim, o poder público alheio ao que vinha ocorrendo em uma crescente perigosa, alertada quase que semanalmente nas páginas do jornal.
Tudo isso somado ao lixo espalhado, à utilização de locais como banheiro público e até “motel” – o que se via muito no espaço onde existiu uma fonte luminosa. Primeiro, à noite, depois, já na luz clara dos dias. Há muito que se denuncia que a Praça da Matriz serve de abrigo a traficantes e outros tipos de criminosos, no período noturno. A partir de um certo momento, ficou impossível passar pela Praça da Matriz, no período noturno, tamanho se tornou o risco às pessoas de bem. E as autoridades públicas – Prefeitura, Câmara, Polícia, Justiça, Ministério Público – alheios ao que vinha ocorrendo. Restava a imprensa como forma de desabafo aos cidadãos, assustados.
A Praça tomada pelo crime!
E, nos últimos dias, aconteceu o que se previa: a Praça da Matriz de Itaúna foi tomada pelo crime, a ponto de um homem, apontado como traficante, dizer em alto e bom som, que “a Praça é minha! Já está dominada”. Durante a semana, imagens de brigas de pessoas que frequentam a Praça da Matriz para fazer uso de bebidas e drogas circularam em todos os meios digitais. Homens, com porretes, correndo atrás de outros, para agredi-los. No domingo, dia 17, uma briga feroz entre eles alcançou as barraquinhas de artesanato montadas no local, ocasionando prejuízo ao erário e atrapalhou a tradicional missa das 10 horas na Igreja Matriz.
Na segunda, na terça-feira, na quarta-feira seguintes, outras brigas. Sobrou para o patrimônio público. Um carro foi depredado, com pedradas e pauladas em sua lataria. O trânsito interditado enquanto homens se agrediam em via pública. No meio da praça, pessoas assustadas, com medo daquela “Cracolândia” que se tornou a Praça da Matriz. Servidores públicos tentavam intervir, também receosos, pois eles têm famílias e não podem e nem devem se envolver a ponto de colocarem a si e a seus entes em risco, além de confessarem que não sabem o que fazer.
População sugere medidas
Posto policial na Praça da Matriz. Implantação da Guarda Municipal...
A reportagem da FOLHA ouviu algumas pessoas sobre os fatos que estão ocorrendo na Praça da Matriz de Itaúna, que está se tornando “uma Cracolândia”, conforme opinam algumas pessoas. E as soluções, ou medidas propostas, são várias. Um cidadão, por exemplo, afirmou que a PM deveria montar um posto policial na Praça, o que foi apoiado por vários outros cidadãos. Alegam, inclusive, que poderiam ser desviados para aquele local “os policiais que fazem ponto em postos de combustível”, por exemplo.
Um outro cobrou a imediata implantação da Guarda Municipal, que vem sendo prometida em Itaúna há pelo menos uma década e meia. Também apontam a necessidade de instalação de câmeras do “olho vivo”, outra promessa, essa de várias décadas. Identificação dos moradores em situação de rua e conferência da “folha corrida” deles, tomando medidas contra aqueles que tenham histórico policial. Internação compulsória de usuários/dependentes de drogas... As sugestões são inúmeras.
O setor de assistência social do Município também é muito cobrado, para que implante uma política pública que seja eficiente no combate ao problema. E apontam que, “se em outras cidades os programas funcionam, por que em Itaúna é diferente?”. E sobram críticas, inclusive, à população, que “distribui esmolas demais”. Algumas pessoas apontam que o trabalho das entidades beneficentes, apesar do lado benemérito, caritativo, também devem ser analisadas pelo lado da manutenção do ócio, como disse um cidadão.
“Se tem comida de graça, pois toda noite eu vejo que eles distribuem marmitex para esse pessoal. Se tem gente que dá dinheiro, inclusive, com distribuição em ponto fixo para os indigentes, e ainda podem contar com a ajuda do poder público, fica fácil viver na rua”, desabafou um itaunense. E acrescenta que esses tipos de ações fazem com que os moradores em situação de rua espalhem as informações e pessoas que estão em outras cidades venham para Itaúna.
Aumento da
população de rua
A população aponta também “sentimento” de que a população de moradores em situação de rua tem aumentado muito em Itaúna. Em fevereiro deste ano, a informação oficial era de que 55 pessoas estavam em situação de rua na cidade. Porém, na visão das pessoas ouvidas pela reportagem, nos últimos dias, esse número pode ser bem maior. Apontam que existem vários grupos espalhados por diversos pontos da cidade.
Próximo da rodoviária existiria um grupo. Em frente ao hospital, outro. Mais um no “alto da Jove Soares”, próximo do estádio José Flávio de Carvalho. Na área central, além da Praça da Matriz, e no início da Silva Jardim, na entrada da cidade, em frente à Cooperativa e outros locais são apontados. E até em bairros mais distantes, como o parque ecológico do Cidade Nova, no Morada Nova, na região da Nova Vila Mozart, em Santanense...
Para justificar esse “sentimento” de que o número de moradores em situação de rua em Itaúna tem aumentado, pessoas apontam até mesmo o trabalho beneficente que é feito. Conforme essas pessoas, são várias entidades que atuam na ajuda a essas pessoas. Diariamente, nas redes sociais, podem ser acessados vídeos, postagens de pessoas ligadas a essas entidades, informando sobre o volume do trabalho realizado.
Lembram ainda que os restaurantes e bares da cidade distribuem alimentos aos pedintes. Fregueses chegam a pagar bebidas, fornecem cigarros e dinheiro a eles. E tem ações como a de um empresário, muito citado na cidade, que distribui dinheiro, semanalmente aos pedintes. “Isso só ajuda a aumentar o número de indigentes, sem falar que o poder público se omite na questão”, arrematou um cidadão que acompanhava de longe uma desavença entre um grupo de andarilhos, em rua do centro da cidade.
Traficante da Praça foi expulso do Novo Horizonte
O homem que estaria comandando o tráfico de drogas na Praça da Matriz foi identificado à reportagem por várias pessoas. Disseram que ele não faz questão de se esconder e que vai à Praça, diariamente, de bicicleta, comercializar drogas. “Ele foi expulso do Novo Horizonte, por traficantes daquela região, e agora disse que a praça é dele”, como informaram à reportagem. Portanto, pelo que se vê, não é difícil localizar e prender o indivíduo.