Conselho aos Governantes

Conselho aos Governantes

O conselho editorial do Senado Federal publicou, há alguns anos, a coleção Clássicos da Política. Entre eles, uma obra intitulada Conselho aos Governantes. No belíssimo calhamaço, há textos selecionados de vários autores de teoria política clássica e moderna. O passeio nestes conselhos é um refresco atemporal.

Isócrates, conhecido como o pai da oratória, o primeiro a escrever discursos na Grécia antiga, abre o conjunto de lições grifando que a percepção do eleitor se baseia no fato de candidatos transmitirem autêntico senso de moralidade e de justiça. A menor percepção de injustiça alija pretensos políticos de suas alianças com o povo e com seus pares.

Platão chama a atenção para o choque inevitável entre ideais elevados, nobres, com a realidade pragmática do governo. A única maneira de transpor esta colisão é observar a relevância da amizade e da lealdade verdadeiras. Em especial, quando o jogo de vaidades e ambição substituir verdadeiros aliados, por alpinistas políticos de ocasião.

Kautilya, estadista e filósofo indiano dos séculos IV e III a.C, defende o governo pragmático, bem ao estilo da Realpolitik – diretriz que exalta os interesses gerais, em vez de se basear em princípios morais ou ideológicos. Ele exalta a administração eficaz e a moralidade adaptada às circunstâncias.

Maquiável, talvez o mais famoso da coleção, tem como linha central de “O Príncipe”, o polimento maleável da imagem de justiça e benevolência como meio para criar laços de lealdade. Exatamente o motivo que o levou a redigir esse livro, dentro da prisão, exaltando a mais poderosa família de sua época: os Médici.

Erasmo de Roterdã, ex-monge, teólogo e filósofo humanista dos Países Baixos, prega que o maior agregador de poder é a capacidade de o governante ser ético, moral, erudito e sábio. Ser um modelo de virtude e justiça.

Miguel de Cervantes, o autor de Dom Quixote, ensina sobre a importância em sonhar e lutar por ideais nobres, enquanto valorizamos o pragmatismo do conhecimento cotidiano e a importância de se cuidar do bem-estar pessoal e familiar.

Cardeal Mazarino, cardeal e primeiro-ministro do rei francês Luís XIV, explica que a legitimidade do poder se baseia na confiança e no respeito dos governados. A habilidade de inspirar confiança influencia na eficácia de um governo. As ambições, paixões e fraquezas podem ajudar ou atrapalhar o exercício da política. A prudência deve ajudar a pensar no longo prazo.

Maurício de Nassau, governador do Brasil holandês, testemunha que a diversidade é o que promove a coesão social e o desenvolvimento econômico. A administração bem-sucedida se dá por meio de um desenvolvimento econômico pragmático.

Sebastião César de Menezes, bispo do Porto e de Coimbra no século XVII, é lembrado com muito respeito por sua obra em que discorre sobre a importância de o governante ser um exemplo de moralidade e ética e a importância de se buscar o bem comum. A política deve resolver as disputas, em vez de criá-las. 

Dom Luís da Cunha, diplomata português de D. João V, exalta a razão e a prudência, o mérito e a experiência. Ele enfatiza que a política deve ser guiada pela sabedoria e pela experiência. O governante deve evitar decisões impulsivas que possam levar a conflitos e instabilidade. O fisiologismo só é combatido com ética proveniente da educação.

O Marquês de Pombal apresenta uma correspondência para seu sobrinho em que explica a importância da educação aprofundada, da moralidade e da ética no exercício do poder. Defende que o governante seja um constante modernizador da estrutura pública.

Frederico da Prússia, autor da obra Anti-Maquiavel, defende uma abordagem ética na governança. Ele enfatiza a moralidade, o bem-estar do povo e a justiça. A obra explica que a verdadeira liderança se baseia na virtude e na responsabilidade.

Dom Pedro II, provavelmente o maior estadista que já governou o Brasil, escreveu conselhos à Princesa Izabel, em que enfatiza a importância da responsabilidade, da ética e da educação na administração pública. Era um defensor verdadeiro do bem-estar da população.

Se conselhos fossem bons, já dizia o adágio que eles não seriam dados. Esta obra descreve com perfeição o significado de exceção.