CARIDADE “NA MEDIDA CERTA” - Entidades têm muito trabalho apresentado. Mas...

Ruas continuam cheias de andarilhos e usuários de drogas, muitos deles com atitudes “condenáveis”, segundo críticos

CARIDADE “NA MEDIDA CERTA” - Entidades têm muito trabalho apresentado. Mas...


Uma série de manifestações, contrárias e favoráveis, levam a um questionamento que deve ser feito pela sociedade em relação à abordagem aos andarilhos e às ações de entidades de acolhimento no município. O trabalho destas várias entidades é muito importante e tem gerado ótimos resultados, como destacam várias pessoas. Mas, ao mesmo tempo, existem críticas em relação ao que apontam como “excesso de caridade”, e que estaria gerando até mesmo uma propaganda em meio aos andarilhos e pessoas viciadas de que Itaúna é um bom local para eles virem e ficarem, viverem... conforme disse à reportagem uma itaunense que é crítica da situação.

O fato é que a condição das pessoas em situação de rua, que aumentaram muito nos últimos anos, principalmente, por causa do vício em drogas, precisa de um trabalho conjunto de autoridades públicas e entidades assistenciais para buscar uma solução. Também não há como deixar de destacar o brilhante trabalho realizado pelas entidades assistenciais e cidadãos que dedicam parte de seu tempo a causas humanitárias, num momento em que o poder público parece não apresentar um planejamento capaz de lidar com a situação. Assim ficam as entidades realizando ações de acolhimento e abordagens, muitas vezes até acima da capacidade real de suas possibilidades – o que gera um outro problema –, o poder público sem uma política apropriada para o setor e os andarilhos e pessoas em situação de rua, em meio a tudo isso.

Um exemplo é uma ação realizada na segunda-feira, 8 de maio, na Praça do Estádio José de Flávio, “pelas entidades e voluntários que cuidam das pessoas em situação de rua e dependentes químicos”, conforme cartaz divulgando o evento. Conforme apurado pelo jornal, de 50 pessoas em situação de rua que compareceram ao local, apenas 5 aceitaram o encaminhamento a uma entidade de acolhimento. Isso representa 10% do público atendido. Se, por um lado, é um excelente trabalho realizado pelas entidades, por outro, é preciso saber o que ocorre, como agem, como pensam essas outras 45 pessoas que foram ao local, participaram do evento, foram acolhidos naquele momento e, depois, voltaram para as ruas.

A ajuda sempre à mão não estaria fortalecendo a presença de andarilhos na cidade?

É a pergunta, em forma de crítica, que muitas pessoas têm feito, inclusive, em mensagens encaminhadas à redação da FOLHA. Não estaria acontecendo um “excesso” de caridade, na medida em que as pessoas em situação de rua recebem roupas, alimento, às vezes, dinheiro, e não é executado um trabalho mais efetivo para o enfrentamento da situação? É preciso chegar a esta medida de caridade para que uma solução apresentada pelas entidades não se torne um problema para a sociedade, conforme temem alguns críticos dos muitos movimentos.

“Na mesma medida do aumento na cidade do número de pessoas em situação de rua, pode-se ver o aumento de cães abandonados pelas vias, a partir do aumento da oferta de alimento e água para eles, por toda parte. Mas isso é um outro problema a ser debatido em outra ocasião. No caso das pessoas em situação de rua, a oferta da caridade em grande quantidade, como se tem visto, sem um projeto, uma política pública eficaz, não estaria fazendo com que aumente o número de pessoas nesta situação vindas para Itaúna? E que neste meio muitos são aproveitadores da caridade existente no município?”, são afirmações e interrogações apresentadas à reportagem por pessoas que veem a criação de um problema mais amplo no tipo de atuação que se faz na cidade em relação a este público.

E apontam, inclusive, a utilização política da situação. Felizmente, apontam, a maioria das pessoas envolvidas nas entidades e com trabalhos voluntários é movida por sentimento de acolhimento, de ajuda, apenas. Mas existem casos em que se realiza o trabalho também com a finalidade política. E isso é um outro problema que deve ser debatido, analisado, avaliado.

Falta planejamento e sobram ações, muitas delas sem resposta efetiva

A solução para esse problema seria mesmo o estabelecimento de uma política pública eficaz. É preciso pensar uma prática comum, que seja objeto da atuação de toda a sociedade (entidades, sociedade civil, poder público), para o enfrentamento da situação. Não pode haver apenas o acolhimento. É preciso ter o combate efetivo à situação e a separação das situações de quem realmente necessita de ajuda e quem está se aproveitando da situação, porque isso existe, sim. E a sociedade sabe disso, é notório.

Em cidades vizinhas, por exemplo, a abordagem às pessoas em situação de rua tem sido diferenciada. Em Itatiaiuçu, o andarilho é abordado tão logo chega à cidade; em Divinópolis, são triados e encaminhados; em Pará de Minas, da mesma forma, conforme apurou a reportagem. Já em Itaúna, existe o acolhimento, a ajuda, mas não se tem ações efetivas de triagem, de abordagem – que só acontecem após matérias na imprensa –, e uma política pública unificada de como tratar a questão. Assim as entidades beneficentes, filantrópicas, assumem toda a tarefa (veja texto enviado à reportagem sobre os resultados do “Mutirão do Abraço”) e a quantidade de pessoas em situação de rua e andarilhos só aumenta pela cidade. É preciso repensar a atuação – principalmente por parte do poder público – e implantar uma política que gere resultados efetivos, apontam os críticos da situação.