Por que tamanho silêncio?

Por que tamanho silêncio?

Imaginem se um cidadão, comum, morador de um dos bairros da periferia itaunense, sem “lastro familiar” – como gostam de afirmar alguns ilustres debatedores das esquinas itaunenses – estivesse envolvido em um escândalo de corrupção de grandes proporções? Imaginem, então, um servidor público, de origem humilde, pilhado pela Polícia Federal em um caso de corrupção que envolvesse milhões de reais? Pois é, nós temos, em Itaúna, um caso de um servidor público envolvido em um escândalo de repercussão nacional – e até internacional – que envolve cifras que ultrapassam a casa do “bilhão” de reais e paira pelas instituições oficiais um silêncio “ensurdecedor”, como diria aquele narrador esportivo. Por que não se trata do caso do (ainda) vice-prefeito de Itaúna, o senhor Hidelbrando Neto, como seria tratado se ele fosse de origem humilde? Sim, se fosse um servidor “comum”, se fosse um cidadão da periferia, com certeza, teríamos manchetes “espetaculosas”, comissão parlamentar de inquérito (CPI, aquela coisa que ocorre país afora e que quase nunca dá resultado prático) e muita gritaria cidade afora.

Relembrando, o senhor citado acima é acusado pela Polícia Federal de fazer parte de um esquema de corrupção que envolve cifras altíssimas, que podem chegar a três bilhões de reais (quase que o orçamento de um mandato inteiro de prefeito), e o silêncio paira, nas instituições, nas esquinas, nas rodas de conversa, e às vezes surge em sussurros, como se fosse crime querer saber a verdade. Logo que surgiu a denúncia, vi na imprensa itaunense algumas manifestações de defesa do acusado, o que, aliás, ele e seus representantes ainda não o fizeram. Na verdade, o vice-prefeito é considerado fugitivo, visto que tem um mandado de prisão em aberto, deveria ter retornado de viagem no dia 29 de setembro e já estamos quase um mês à frente, e nada. Nenhuma “nota oficial” de sua defesa, nenhum argumento apresentado por ele e/ou seus representantes, e sim de membros da imprensa, de políticos receosos de “tocar na ferida”, porque “o Neto é meu amigo”, “porque não quero me indispor com a família” e coisas do tipo, como tenho ouvido por aí.

Ora, o vice-prefeito de Itaúna é citado nos autos do processo, com transcrição de conversas dele com outros membros do grupo criminoso (três estão presos, em 22 mandados expedidos). Ele tem algumas empresas registradas em seu nome (não é apenas uma), que participaram de negociações consideradas ilegais, tem conversas transcritas nos autos, tem documentos apreendidos e está foragido, sem que uma explicação – a mais simples possível – tenha sido dada, por ele, por sua família, por sua defesa. O que tem é político tentando “abafar” (ou abafando) o caso e a inoperância de instituições como a Câmara, que já deveria ter instaurado um procedimento para apurar, pelo menos, a sua ausência ao serviço, que está estendida de forma irregular – isso com base na Constituição Federal e na Lei Orgânica –, que exige autorização legislativa para ausência superior a 15 dias. 

E, quando instada a responder, a Câmara, por meio de sua direção, afirma que está aguardando ser provocada – foi, e continua calada – para agir. Ora, a principal função (não apenas uma delas) do vereador é fiscalizar os atos do Executivo. Cadê a fiscalização? Está esperando provocação? Soa como se o trabalhador, que recebe para prestar o seu serviço, chegar ao local de trabalho e ficar aguardando o chefe dizer a ele: “Faça isto, faça aquilo, comece a trabalhar!”. Soa hipocrisia isso tudo. O silêncio da Câmara, as defesas – quando não, o silêncio –, na imprensa, as omissões das lideranças que não se posicionam e a falta de postura do acusado e de seus representantes.

Não se trata de criticar, mas de cobrar postura desse pessoal. Engraçado que um dos únicos a “colocar o dedo na ferida” foi exatamente o jornalista que é amigo particular da família, o Renilton.

O fato é que o senhor (ainda, repito, porque a Câmara – os 17 vereadores – permanece deitada em berço esplêndido) vice-prefeito, Hidelbrando Neto, é acusado pela Polícia Federal de pertencer a um grupo criminoso, envolvido em um grande esquema de corrupção, que pode representar alguns bilhões de reais. Está foragido, pois não se tem notícia de seu retorno de viagem aos Estados Unidos, ausente das suas funções de vice-prefeito, já que foi exonerado do cargo de secretário de Urbanismo, desde o dia 15 de setembro, e a Câmara está calada, a imprensa está muda, as lideranças políticas “estão de férias...”. Ele, o acusado, não se manifestou. Seus representantes (família e defesa constituída – ou nem constituiu defesa?) não se manifestaram. O Executivo tomou as medidas técnicas de exonerá-lo do cargo de secretário e suspender seu salário. Mas ainda não se moveu para um levantamento de suas ações à frente da Secretaria que, ironicamente, é a responsável por emitir licenças em nível municipal como aquelas em nível estadual das quais o grupo é acusado de burlar. Espera-se, pelo menos, um relatório de que, aqui, as coisas estão todas dentro do esperado. 

E, pior, a Câmara, que tem por finalidade – se não a principal, pelo menos uma dentre as principais – a fiscalização dos atos do Executivo, aguardando “ser provocada”. Avisem lá para os vereadores que é função deles fiscalizar os atos do poder Executivo e um vice-prefeito se ausentar da cidade, sem explicação, por mais de 15 dias, sem licença prévia do Legislativo, é ilicitude que deve ser fiscalizada (sabe por quem?) pelos vereadores... 

É muita hipocrisia, para dizer o mínimo. Me arrisco a perguntar, usando a ironia do narrador esportivo mais uma vez: se fosse o Mirinho, a Edênia, o Jerry Adriane, o acusado, “esse silêncio ensurdecedor” estaria “sendo ouvido”? 

* Jornalista profissional, especialista em comunicação pública e membro da Academia Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.