Custo de vida nas cidades mineradoras é mais alto

Pesquisa comparou preços em municípios mineradores e não mineradores de Minas Gerais e do Pará; diferenças chegam a 30% em alguns setores

Custo de vida nas cidades mineradoras é mais alto

Morar em cidades com forte presença da mineração pode custar até 10% mais caro do que em municípios com perfil socioeconômico semelhante, mas sem atividade mineral. É o que revela um estudo inédito realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead), da UFMG, encomendado pela Associação Brasileira dos Municípios Mineradores (Amig Brasil). As maiores diferenças aparecem nas categorias de habitação, vestuário, saúde e despesas pessoais, que inclui custos como empregados domésticos, hospedagem e cigarro.

A pesquisa comparou preços entre municípios mineradores e não mineradores de Minas Gerais e do Pará, agrupando-os de acordo com população, PIB, escolaridade, saúde, saneamento e principais setores econômicos. Foram analisadas nove categorias de produtos e serviços, com base na metodologia do IPCA do IBGE: alimentação e bebidas; habitação; artigos de residência; vestuário; transportes; saúde e cuidados pessoais; despesas pessoais; educação e comunicação.

Os dados foram coletados em março de 2025, a partir de visitas a 873 estabelecimentos e 2.352 cotações de preços. Três cidades mineradoras foram o foco principal: Conceição do Mato Dentro (MG), Mariana (MG) e Parauapebas (PA), comparadas, respectivamente, a Extrema (MG), João Monlevade (MG) e Belém (PA), municípios com características semelhantes, mas sem mineração.

O alto custo de vida nessas cidades, de acordo com a pesquisa, se justifica principalmente pelo aumento repentino da população, além da concentração de funcionários com alta renda. “Os salários que estão diretamente ligados à mineração são mais altos, o que dá um poder maior de compra a esses trabalhadores e acaba pressionando os preços para cima", afirma Fabrício Missio, coordenador da pesquisa e presidente do Ipead.

Diferenças de preços por cidade

A média geral mostra que o custo de vida é 6,3% maior em Conceição do Mato Dentro do que em Extrema; 9,4% maior em Mariana do que em João Monlevade; e 10,2% mais alto em Parauapebas do que em Belém.

O setor de alimentos e bebidas em Parauapebas, principal cidade mineradora do Pará, é 8% mais caro do que em Belém, a capital do estado. Já os vestuários são 30% mais caros na primeira e as despesas pessoais, 36%. Os moradores de Parauapebas pagam menos do que os de Belém apenas em comunicação e, mesmo assim, só 0,8%.

Em Mariana, que abriga minas importantes da Vale e da Samarco, as maiores diferenças de preços estão nos setores de habitação e despesas pessoais, com variação de 27% e 24%, respectivamente, em relação aos preços de João Monlevade. Dentro do setor de habitação, estão os custos com aluguel, combustíveis e energia elétrica residencial. Não há nenhuma categoria em que os moradores de Mariana pagam menos do que os de João Monlevade.

A pesquisa também encontrou grandes diferenças nos preços de artigos de residência, despesas pessoais e saúde e cuidados pessoais entre Conceição do Mato Dentro, que abriga a Anglo American, segunda maior mineradora em atuação no Brasil, e Extrema, grande polo industrial e logístico principalmente devido à proximidade com o estado de São Paulo.

Os moradores de Conceição do Mato Dentro pagam 25% mais em despesas pessoais do que os de Extrema, além de 19% em saúde e cuidados pessoais e 16% em artigos de residência. Eles, no entanto, pagam menos em transportes e educação.

“Parece pouca a diferença, mas não é, porque estamos comparando cidades que têm pujança econômica semelhante. O aluguel em Extrema e em João Monlevade, por exemplo, também é alto e ainda assim há uma diferença grande”, diz Fabrício Missio, coordenador da pesquisa e presidente do Ipead. “Imagine, portanto, a diferença entre essa cidade e uma outra que não tenha a mesma pujança econômica.”

Desigualdade social e planejamento urbano

Para o presidente da Amig, Marco Antônio Lage, os dados mostram que a mineração gera riqueza concentrada, o que pressiona o custo de vida e agrava desigualdades locais. “Esse cenário impõe uma sobrecarga aos municípios, que acabam arcando com a maior parte dos custos sociais relacionados à população de baixa renda, cada vez mais excluída pelos efeitos da concentração de renda e pelo aumento expressivo do custo de vida nessas localidades”, afirma.

Ele ressalta ainda que, sem políticas públicas de planejamento urbano e diversificação econômica, o ciclo minerário tende a aprofundar desigualdades e empurrar a população mais pobre para as margens da cidade e do consumo.