Natal vai perdendo seu significado, até do dicionário...

Natal vai perdendo seu significado,  até do dicionário...


Saí com minha Marli, dia desses, para procurar um enfeite de Natal a ser colocado no apartamento do nosso filho, Silézio. Definimos, antes de iniciar a procura, que seria algo relativo a Natal, como imaginamos que seja a expressão da data: comemoração do aniversário de Jesus Cristo, o Filho de Deus que aqui à terra desceu para nos salvar. Sem entrar na questão de ser ou não a data exata do nascimento de Cristo, ou de que o Natal surgiu como forma de facilitar a aceitação do cristianismo no mundo, o fato é que aprendemos, desde criancinhas, que este seria o significado do Natal: o nascimento de Jesus Cristo. Assim entendendo, pensamos em encontrar um enfeite que fosse um símbolo que pudesse nos remeter a esse fato histórico. Uma estrela, para indicar aquela dos escritos, que serviu de ponto de referência aos reis magos, para encontrar onde estava o Filho de Deus; um Jesus Menino... sei lá, algo assim que, ao visualizar, nos fizesse lembrar de que o Natal “é o dia em que devemos comemorar o nascimento de Jesus Cristo”. E dessa forma começamos a procurar. Entra em uma loja, outra, mais outra e outra mais, nada. As prateleiras estavam cheias de Papais Noéis, renas, pacotes de presentes em miniatura... Aí veio aquele questionamento do mineiro raiz: uai, mas e sobre o Natal, nascimento de Jesus Cristo? Cadê, quede, onde’stá? E não encontramos... No mesmo tema, mas em outro lugar, desta feita em um almoço de confraternização da AILE – Academia Itaunense de Letras, no sítio do Lauer e sua esposa, Beth, acompanhamos a mensagem da “tia” Elina Dirce, atriz, poeta e professora. Na sua mensagem ela falou sobre a composição da música, no Brasil, conhecida como “Noite Feliz!”, composta em 1818 e que, conforme a “aula” da atriz Elina Dirce, foi cantada pelos aldeões da cidade austríaca de Oberndorf, pela primeira vez, na Missa do Galo. E aí, fiz uma pesquisa rápida para saber o significado da Missa do Galo, que não é o que nós atleticanos brincamos ser, às vezes, mas que significa em resumo, “o anúncio da chegada de Jesus Cristo à terra”. E ainda tentei outras buscas para encontrar significados para o Natal. Em todas as pesquisas a informação é de que a data nos remete ao Nascimento de Jesus Cristo, no entendimento cristão. Até mesmo na fria definição da palavra, no dicionário, está lá: “relativo a nascimento; natalício.” Então me vem a pergunta: onde entra esse tal de Papai Noel na história, pois 9 em cada dez enfeites que encontrei nas lojas por onde andei remetem a essa ilustre figura? Vi que tudo começou com o bispo turco São Nicolau, mas que ganhou os ares de agora a partir de campanha da Coca-Cola, refrigerante mais vendido no mundo. Isso mesmo, o significado do nosso Natal, dos brasileiros, na maioria absoluta, foi sendo distorcido aos poucos até chegarmos à situação de que o Natal significa consumo. Se não, veja o que se fala nas propagandas, nas mensagens entre amigos, nos enfeites alusivos à data. Enfeites são Papais Noéis de tudo quanto é jeito, sempre com aquela cara rosada, carregando um “pacote de presentes!”. Tem também os “pacotinhos” que remetem a presente. E a comemoração de um anúncio de boas-vindas ao Filho de Deus foi sendo mudada para o festejo da chegada dos presentes. A Missa do Galo, agora, é celebrada bem mais cedo, para “não atrapalhar a ceia”, recheada de muita comida, bebida e, às vezes, desentendimento. Depois, resta aquele sentimento de vazio, pois com a barriga cheia e a tontura dominando, o que resta mesmo é dormir para aproveitar os restos da mesa da noite no almoço do dia seguinte. É o Natal perdendo até o significado do dicionário. Será que está valendo a pena?

* Jornalista profissional, especialista e comunicação pública, membro da Academia Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.