“ETE não está tratando esgoto nenhum”, afirma diretora do SAAE

Alaiza Aline foi à Câmara, na terça-feira, 3, e disse que tratamento deve começar “daqui a 6, 12 meses...”

“ETE não está tratando esgoto nenhum”, afirma diretora do SAAE


Para explicar a sua fala de que a ETE – Estação de Tratamento de Esgoto de Itaúna “não trata esgoto nenhum”, a diretora do SAAE informou que “estamos formando a biota”. Não explicou o termo, mas a afirmativa se refere à criação de uma “comunidade biológica” formada por bactérias que têm a função de incorporar os dejetos e formar o lodo que é retirado após o tratamento, acabando assim com a sujeira da água, em termos mais simplificados. Esta seria uma fase do tratamento, porém a questão principal a ser respondida não é essa. A proposta da ETE é de que todo o esgoto (ou quase todo, pois já que existem algumas situações específicas em que redes de esgotos não se estão ligadas à rede coletora) gerado pelos itaunenses na área urbana já deveria estar sendo levado para a estação de tratamento. E não está, com informações não confirmadas de que apenas 30% deste volume estaria chegando ao local. Mesmo assim a propaganda oficial leva ao entendimento de que “100% do esgoto está sendo tratado”.

A efetivação do tratamento, que é realizado em vários processos, dentre eles o de utilização de bactérias que formam a biota citada, demanda mais tempo, entre seis e doze meses, como afirmou a diretora. Mas esta resposta seria apenas uma maneira de fugir da questão principal, que é o deságue do esgoto nos cursos d’água que vem ocorrendo. Se vai parar de cair esgoto no rio, para ser mais claro ainda. E este problema, como foi colocado na participação da diretora da autarquia na Câmara, ficou sem resposta. E pior, com o entendimento de que em menos de um ano não há expectativa de que o esgoto deixe de ser jogado nos ribeirões e no rio, sentenciando, portanto, que o mau cheiro, além dos muitos problemas ambientais, vai continuar em 2024, à espera da nova administração, que herdará mais este “pepino”.

Conforme o entendimento de pessoas que acompanharam a reunião da Câmara de terça-feira, o SAAE – e consequentemente a administração municipal – aposta todas as suas fichas na aprovação de um projeto de obtenção de recursos a fundo perdido para solucionar a questão. A Agência Peixe Vivo é a tábua de salvação, visto que não houve planejamento administrativo na autarquia para lidar com o problema. Desde quando não elaborou ações de manutenção da rede de interceptores; depois, de recuperação dos estragos causados pelas chuvas do final de 2021 e início de 2022; e, agora, mais recente, com as obras de desassoreamento dos cursos d´água.

Como disse a diretora do SAAE, a obra de limpeza do rio e dos ribeirões era “extremamente necessária”. Porém não lembrou que ela deveria ser realizada com planejamento mínimo para evitar estragos maiores nas redes de interceptores e até mesmo um plano de ação para recuperação imediata de estragos que porventura surgissem. Afirmar, como feito na reunião, que o problema não aconteceu no momento de sua ação como diretora, jogando a culpa em antecessores, ou que “o SAAE acompanhou, sempre que foi convocado”, neste caso, passando a responsabilidade para a Prefeitura e a empresa que realizou a obra, é o mesmo que assumir a incompetência da autarquia, de sua direção, apontam os críticos.

Conforme um jornalista que acompanhou a fala da diretora do SAAE, a situação pode ser comparada à de uma pessoa que quis derrubar paredes em um prédio sem saber qual delas era a de sustentação. Enquanto isso, o vizinho, que morava no andar de baixo, sabia onde era o risco e ficou esperando ser perguntado qual parede poderia ser derrubada. “O prédio caiu, e os dois, além do responsável pela retirada das paredes, devem arcar com as suas responsabilidades”, ironizou com a analogia.