Dengue: é preciso tratar a questão com mais seriedade e com ações efetivas!

Dengue: é preciso tratar a questão com mais seriedade  e com ações efetivas!


Assim como ocorreu com a Covid, uma pandemia que tirou tantas vidas mundo afora (e ainda tira. No Brasil, neste ano já tem mais de 20 óbitos registrados pela doença), temos visto algumas ações em torno da pandemia de Dengue, que demonstram que não aprendemos muito com as quase 710 mil mortes recentes no nosso País. Quando surgiu a pandemia provocada pelo Coronavírus, e devíamos atuar na adoção de medidas preventivas à doença, vimos foi o debate insano de ser “contra” ou “a favor” desta ou daquela medida, tomar conta do debate público. Se alguma proposta partia de um ‘lado político’, um grupo saía às redes sociais principalmente, na sua defesa, enquanto outro a combatia. O pior embate foi mesmo em relação à vacina. Muitos negavam e negam até hoje, a importância de se prevenir, com a vacinação. Mesmo depois de constatar que a doença arrefeceu sua voracidade na medida em que avançava o número de imunizados pela vacina. 

Pois bem, para espanto de quem não entrou nesta disputazinha imbecil daquela época, agora com a Dengue – que ataca, felizmente não tão vorazmente como a Covid – estamos a assistir o início das mesmas imbecilidades. Absurda a atitude do governador do Estado de Minas Gerais, Romeu Zema que, ladeado por dois outros políticos (o senador Cleitinho e o deputado federal Nikolas Ferreira), gravaram vídeo comemorando o fato de não ser “obrigatória” a apresentação do atestado de vacina para a frequência às escolas no nosso estado. Não há outra definição para o gesto que não seja “imbecilidade extrema”. Discordar de uma medida faz parte da democracia – sistema em que ainda conseguimos vivenciar, no Brasil –, mas comemorar a não obrigatoriedade da vacina, combatendo uma medida que todos nós sabemos – alguns não querem dar o braço a torcer – ser a melhor maneira de não adoecermos, é absurdo que volta a se repetir, por causa de questões políticas. Esses caras, esses políticos citados, só estão pensando nas urnas de outubro próximo, em fortalecer suas posições políticas para um grupo de eleitores e nada mais. Não têm qualquer compromisso com a população que os elegeu e paga seus salários. É o mínimo que podemos dizer de atos como estes. Mas não, precisam ‘demarcar território’ para conquistar espaço nesta disputa imbecil de “direita X esquerda” que só beneficia a eles próprios. 

Porém, a passividade da população no geral e das autoridades nos municípios, principalmente, que é onde as pessoas vivem, é o pior. Se aqueles postam vídeos pregando contra a vacinação que salva vidas, estes nada mais fazem do que postar alguns “alertas” nas redes sociais cobrando medidas preventivas aos cidadãos. A Dengue, felizmente, não tem a voracidade letal que a Covid exerce, mas quem é acometido da doença transmitida pelo Aedes aegypti sofre muito, conforme relatos tantos a que temos tido acesso diariamente. E até morrem, é preciso lembrar, também. Porém, as autoridades públicas se resumem a divulgar os levantamentos de focos existentes e aos alertas sobre as medidas que a população deve tomar. 

O cidadão é um dos mais responsáveis pela existência de tantos focos do mosquito Aedes aegypti, que transmite a doença, por não ter atitudes preventivas que deveria ter. Mas é função do poder público ir além do alerta, com certeza. É necessário que sejam tomadas medidas efetivas de combate, o que não se vê. Aqui em Itaúna, por exemplo, não se vê uma ação que não sejam as postagens nas redes sociais. Por outro lado, a força pública não está nas ruas, atuando na cobrança de limpeza dos muitos terrenos ocupados por mato, entulho e lixo. Terrenos que, às vezes, são de propriedade da Prefeitura, e que esta deixa serem tomados por mato, entulho e lixo. Não se vê a ação do município, com os mesmos cuidados que cobra das famílias, sendo exigidos em prédios públicos. Os mutirões de limpeza são poucos e, quando feitos, com divulgação nas redes sociais apenas – como se o cidadão fosse obrigado a acompanhar esses canais. E aqui vai uma crítica ao setor de comunicação da Prefeitura, que valoriza em excesso as redes sociais e as brincadeiras e se esquece de que comunicação pública vai além de uma página no Instagram e no Facebook, os grupos de WhatsApp e um site. Isso sem falar na questão de que existe a divulgação que deve ser leve, engraçada, mas que em alguns casos deve estar revestida da seriedade necessária ao caso para não cair no “lugar comum”. E ainda, que a divulgação na internet favorece à resposta e interpretações e que, em casos como no combate a uma doença por exemplo, é preciso que a abordagem seja diferenciada. Enfim, não se usa o aparato da comunicação do município, por exemplo, para divulgar uma receita de repelente caseiro, que pode ajudar na prevenção à picada do mosquito que transmite a doença. E o setor de saúde não promove um ‘fumacê preventivo” como vimos um cidadão pedir em reclamação, dia desses. Ou quem sabe a distribuição de repelentes às famílias necessitadas (ou em ‘situação de vulnerabilidade’, como gostam de afirmar os tecnocratas). Pode não ser a melhor forma de combate, mas se há outras, que sejam exercidas, então. O que não dá é ver a repetição das mesmas mensagens, entrevistas de autoridades falando da necessidade de a população agir e o poder público ficar só nisso, como se estivesse lavando as suas mãos. 

Depois, a situação fica mais séria, como ficou com a Covid, e os menos protegidos – que são os que mais precisam da intervenção do poder público – pagam com a vida. E, para piorar a situação, figuras públicas que deveriam medir seus atos antes de os praticar, como um governador de estado, um senador da República ou um deputado federal, vão para a frente das câmeras, comemorar o fato de não ser obrigatório se vacinar, como se isso fosse uma conquista do cidadão. Depois, quando se fala que esses atos são atitudes genocidas, aparece um monte de defensores para se condoer por eles e se esquecem daqueles que sofreram na pele a inexistência de uma ação real que seja, de prevenção à doença, mesmo sabendo que por enquanto a vacina é a melhor delas... 

* Jornalista profissional, especialista em 

comunicação pública e membro da Academia Itaunense 

de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.