Você ama ou odeia o Natal?

Você ama ou odeia o Natal?


Uma alegria esperada, mas não realizada, se torna uma tristeza. Quando não uma mágoa. Uma alegria esperada e efetivamente saboreada se torna um processo que se anseia repetir. Natal é uma de duas coisas para as pessoas: uma data que se quer ignorar ou um momento que se quer saborear ao máximo. Nunca uma época neutra. Certamente um período pelo qual todos gostariam de ter bons sentimentos. A pergunta, portanto: para aqueles que fogem da celebração eminentemente familiar, é possível uma reconciliação com os mais profundos e secretos traumas pessoais? E para aqueles, entre nós, que adoramos montar o presépio e a árvore de natal junto da família, há pesar no tempo que passou entre alguma foto que não sai da mesma forma como era alguns natais atrás e o final deste 2023? Tenho chegado à conclusão de que o Natal de Nosso Senhor, junto com as festividades do querido Noel, é exatamente sobre as imperfeições que o tempo deixa nos relacionamentos com nossos familiares. Mas que todos os anos podem ser restauradas por uma nova manjedoura. Independentemente se falamos de uma tia ou um tio amargurados, de um esposa ou uma esposa magoados, de um irmão ou uma irmã afastados.

O Natal é uma máquina do tempo. Uma das mais poderosas que conheço. Traz o nascimento do Deus-Filho para fora da linha histórica, mergulhando-o na esperança de que precisamos em nosso presente tão real. Traz cheiros, cores e sabores de quando nenhum problema do presente existia. Em especial aqueles dos relacionamentos. Vai além: nos joga dentro de momentos pertencentes à infância ou aos episódios familiares já de nossa fase adulta familiar, alguns anos atrás. Em todo caso, a grande festa natalina nunca nos deixa emocionalmente inertes. Ou nos tem como grandes fãs ou como adultos de sentimentos exatamente avessos e desconfortáveis. Ela nos envolve com atmosfera e cenários de momentos em que tivemos enormes injeções de expectativas por família e atenção. Quando tivemos a oportunidade de trazê-las bem até o presente - amamos o natal. Quando fomos frustrados - odiamos a festa do bom velhinho.

Eu sou apaixonado pelo natal. Minha esposa e minhas duas filhas são minha moldura de todas as memórias natalinas de meus últimos dez anos. Antes disso, minha mãe, meu pai e meus irmãos foram meu ponto de partida para as ceias de regozijo e amizade inesquecíveis nas casas de avós e amigos. Já refleti sobre a sensação que as pessoas transbordam entre as tardes do dia 24 e do dia 25, dos dezembros que tive o prazer de celebrar. Nenhuma delas tem a força da expectativa amorosa do que vivo em cada novo ano.

Nunca foi sobre a sofisticação da ceia ou a quantidade de presentes. Mesmo quando na infância eu dormia sonhando com o embrulho que abriria debaixo da árvore. Tanto nessa tenra idade, quanto agora, é tudo sobre esperança. Então, era uma expectativa pueril. Hoje, um sonho de homem. Em ambos os casos: simples. Lá, na trivialidade dos brinquedos. Aqui, no corriqueiro de um dia a dia abraçado, sereno, perene e verdadeiro com aqueles que amamos no renascimento diário dessas manjedouras que chamamos de lar.

Como bem nos lembrou Chesterton: “O Natal é feito de um belo e intencional paradoxo; que o nascimento do desabrigado deve ser comemorado em todos os lares”. Por isso, prezado leitor, que seu natal seja sobre a simplicidade do lugar em que Nosso Deus Encarnado veio ao mundo, sobre a restauração que ele trouxe e sobre a humildade que Sagrada Família nos ensinou a ter para ser indestrutível perante o mal do mundo que nos derruba com tanta frequência. Natal é um novo início. Aproveite-o.