Professores: escultores de pensamento crítico
Quantos professores conseguem enxergar seu ofício como ferramenta de justiça social e ainda ter motivação para ir a uma sala de aula pública fazer mais do que “ensinar a matéria”? A educadora norte-americana Sydney Chaffee nos provoca: “Ensinar será sempre um ato político. Alunos que são alvo desse pensamento criam um futuro muito mais digno”. Apresento honrosamente a ideia desenvolvida por Chaffe.
Justiça social: todas as pessoas em uma sociedade merecem direitos, oportunidades e acesso a recursos justos e equitativos. A educação pode ser uma ferramenta de justiça social. Embora haja quem discorde. Para alguns professores, eles “não devem ser guerreiros da justiça social, porque o propósito da educação é educar”. Dizem: “Eu ensino minha matéria”. Quando alunos entram nas salas de aula, eles trazem suas identidades com eles. Tudo o que eles vivenciam nas salas está ligado ao contexto histórico.
E o que está acontecendo ao redor dos alunos? Racismo é um exemplo. De acordo com os resultados do Teste de Associação Implícita, 88% dos brancos tinham preconceitos subconscientes contra os negros, acreditando que eles eram menos inteligentes, mais preguiçosos e mais perigosos que os brancos. E esse é apenas um exemplo concreto dos efeitos insidiosos do racismo histórico e sistêmico em nosso país.
Habilidades como resolução de problemas, pensamento crítico, colaboração, perseverança – nada disso deve ser revolucionário por si só. Combine isso com a capacidade de entender a história não como uma narrativa estática e objetiva com a qual todos concordamos, mas como uma série de eventos entrelaçados sobre os quais podem haver inúmeras interpretações. É importante lembrarmos que a história sempre foi contada pelo vencedor. Se escolhermos deliberadamente explorar a história político-social de nossa cidade e de nosso país com nossos alunos em vez de apenas ensiná-la, nós os ajudamos a entender que a história está em andamento e que está conectada aos movimentos atuais por justiça. E nós os ajudamos a se verem como jogadores em potencial dentro de uma história viva.
Essas são as habilidades a que me refiro, quando digo que a educação pode ser um lugar para ajudar as crianças a aprender a trabalhar pela justiça. Talvez alguns não estejam de acordo, politicamente, com essa definição de justiça social. E está tudo bem. O objetivo é encorajar os alunos a articular suas próprias opiniões. Não os coagir a concordar conosco. Estamos ajudando os alunos a ter essas conversas uns com os outros. E isso significa que, como adultos, precisamos aprender a fazer. Temos que ajudá-los a aprender como ter conversas complexas e profundas, temos que os expor a opiniões diferentes e temos que ensinar que é legítimo ser ou de esquerda, ou de centro ou de direita e o que verdadeiramente cada uma dessas posições significa no contexto histórico. Precisamos ajudá-los a ver como o que estão aprendendo na escola se conecta ao mundo lá fora.
Trabalhar pela justiça não é apenas consequência da construção de todas essas habilidades. Na verdade, também acontece o contrário. Trabalhar pela justiça, engajar-se, ajuda os alunos a desenvolver habilidades como liderança e pensamento crítico, e se correlaciona positivamente com sua participação política e seu engajamento cívico e seu compromisso com suas comunidades mais tarde na vida
Apesar desses medos naturais que adultos têm de não conseguirem inspirar alunos que venham a ter poder o suficiente para mudarem seu futuro, temos que provar aos nossos alunos que ouviremos suas vozes e que eles têm o poder de efetuar mudanças. Viver de acordo com essa visão vai exigir que sejamos flexíveis, e vai exigir que sejamos criativos. Vai exigir que sejamos corajosos o suficiente para enfrentar as pessoas que tentam silenciar ou deslegitimar vozes dissidentes. E o mais difícil de tudo, vai exigir aceitar o fato de que, às vezes, seremos aqueles contra os quais nossos alunos se rebelarão.
Acolher a rebelião em nossas escolas vai exigir que repensemos sobre como é o ensino e a aprendizagem, porque há essa concepção errônea de que se dermos aos alunos alguma margem de manobra, eles vão passar por cima de nós e as salas de aula e as mesas de jantar se transformarão em total caos. E se esperamos infelizmente que as crianças fiquem sentadas em silêncio e passivamente recebam conhecimento de seus professores, então suas vozes sempre parecerão esmagadas. É um condicionamento que fazemos perante os alunos e que eles irão aplicar na realidade adulta quando eles se tornarem, por exemplo, políticos. As autoridades políticas de hoje já foram alunos condicionados a engolir passivamente o conteúdo que um ou outro professor entregou, sem se preocupar em fazê-lo pensar criticamente sobre o impacto da injustiça social.