Paranoia incompressível
Todo cuidado é pouco... É fato que estamos vivendo a era de incompreensão, do viver sob o prisma da solidão e a da certeza que tudo pode, quando cada um tem a sua visão do que é a vida e de como se pode vivê-la, se em grupo ou na solidão, ou ainda se sob o entendimento de que, em um mundo globalizado e totalmente conectado, as informações das ações se multiplicam num efeito bumerangue e podem ser benéficas e/ou desastrosas, com efeitos que podem impactar o dia a dia dos cidadãos, das famílias, e até mesmo ter consequências para o resto da vida com a dilaceração das famílias, violência contra inocentes e atentados contra grupos e/ou comunidades. É, todo cuidado é pouco.
E a situação vivenciada nos últimos meses pelos cidadãos comuns, que trabalham, têm famílias, são religiosos, acreditam em uma sociedade produtiva e sonham com uma vida em que a prioridade é ter uma vida saudável, engajada e olhando sempre para o futuro de sua família, é de terror, insegurança e incertezas, o que os levam a buscar proteção para si e para os seus. E é exatamente isso que todo o País está vivenciando nos últimos dias, após os acontecimentos verificados em uma escola estadual em São Paulo, e na semana passada, em uma creche na cidade de Blumenau, no estado de Santa Catarina. Em ambos, professores e alunos foram mortos e feridos. A situação é de pânico e com razão.
Qual a solução? Que medidas tomar e como buscar a segurança para a sua família? Cobrar e exigir dos governos nos níveis Federal, Estadual e Municipal medidas que coíbam ações de grupos e ou individualizadas com melhor aparelhamento das policiais? Melhoria na vigilância das escolas, sejam públicas ou particulares, e adequação e modernização dos sistemas de segurança nos locais públicos, principalmente nos ambientes escolares? As opções são todas compatíveis com as ações de momento e quem tem mesmo que tomar as providencias são os governos em todos os três níveis. Mas também é mesmo essencial que as direções de escolas particulares revejam seus sistemas de segurança em todos os sentidos. Em nossa cidade, onde temos pelo menos três grandes escolas particulares e várias das redes municipal e estadual, medidas precisam ser discutidas com os Conselhos de Pais, se é que eles existem em todas elas, e colocadas em prática imediatamente.
No decorrer da semana, atuações de vigilância nas portas de escolas foram implantadas pela Polícia Militar, dentro de um programa anunciado pelo Governo Estadual; pais de alunos do Colégio Santana, a maior e mais tradicional da cidade, com cerca de 1.700 alunos, também fizeram reunião com a direção da escola para discutir, propor e cobrar atuações de vigilância no colégio. Os pais foram unânimes em afirmar que a escola tem uma vigilância ultrapassada e dentro de conceitos e padrões interioranos que não são mais compatíveis com a atualidade.
Em resposta às proposições dos pais, a direção do colégio, ontem, sexta-feira, 14, encaminhou comunicado aos mesmos, em complemento a outro enviado na terça-feira, 11, anunciando as medidas já tomadas nesta semana com o que considera avanços, dentre elas a contratação de seguranças especializados e desarmados para trabalhar em conjunto com os seus vigilantes. A criação do Comitê de Segurança nas Escolas, que foi uma iniciativa das escolas privadas de Minas Gerais, que é composto por representantes das escolas, especialista em saúde mental e especialista em segurança, com o objetivo de respaldar e aprimorar os processos de segurança. A implantação da Rede de Proteção Escolar em nossa cidade também foi citada, e constitui em um canal direto com o comando da Polícia Militar, para facilitar e agilizar ações acerca do cenário de insegurança com as ameaças no ambiente escolar, que está sendo maximizado com muita desinformação em redes sociais, dentre outras medidas que facilitarão a aproximação institucional. Além das já citadas, a direção do Colégio anunciou que está estudando a reestruturação do sistema de vigilância por vídeo monitoramento e revisão da segurança nas divisas com mais cercas perfurantes.
Ou seja, a maior escola particular da cidade está tomando as medidas necessárias à maior segurança dos 1.700 alunos. São ações que já deveriam estar em prática, mas, como é comum ao brasileiro, enquanto não acontece uma tragédia, atitudes não são tomadas. É assim em todos os níveis de nossa sociedade e não importa a classe.
Agora fica a pergunta para a qual é mais difícil obter uma resposta que tenha consistência, pois nossos governantes em todos os níveis somente se preocupam com o povo quando estão pressionados e ou preocupados com as suas eleições. Em resumo: estão preocupados é com o próprio um umbigo. E aí, como eles vão responder à pergunta que é única para a maioria das cidades brasileiras, independente de extensão territorial, número de escolas e densidade populacional? Como vão buscar solução para a fragilidade na segurança nas escolas públicas em todos os níveis? Anunciar que a PM vai redobrar a guarda nas portas é apenas um ato de marketing, pois a corporação não a efetivo para tal de forma sistemática; contratar empresa especializada em segurança particular é também uma jogada de marketing político, nada mais que isso; contratar psicólogos para analisar os alunos é um trabalho de longo prazo e primeiro é necessário resolver os problemas de moradia, educação eficiente e principalmente de uma ação consistente na área social, pois é o conjunto de ações que vai possibilitar famílias estruturadas com condições reais de dar apoio aos filhos em todos os aspectos. Se não for possível uma estruturação de baixo para cima e constante, vamos mesmo, cada vez mais, estar susceptíveis aos atos de revolta que são fruto de uma família desestruturada.
A verdade é que o mundo, cada vez mais cruel, onde a ambição, o isolamento e ideologia do “cada um por si” ficam cada vez mais presentes e acabam por provocar ações e reações análogas a consequências antes inimagináveis, precisa de um basta. É preciso, antes de tudo, que o homem olhe para o seu interior, pois a paranoia provocada pelo isolamento interno só piora a situação do ser humano, que em meio a milhões, se comunica superficialmente e age isoladamente. É mesmo preciso mais segurança, mas antes de tudo precisamos é de mudar como olhar o mundo. É necessário menos paranoia e mais sabedoria diante de um mundo de loucos, do qual somos parte.
Renilton Gonçalves Pacheco