Os votos que elegem

Os votos que elegem

O comportamento eleitoral de Itaúna não é o mesmo sempre. Mas tem uma lógica constante. Desde o início do município. A aposta não é na mesma cor do cavalo que corre. Nem na mesma baia, jockey ou raça. Mas sim, na combinação do monte de coisa nova que cada temporada traz: pista diferente, ração mais bombada, torcida mais jovem, jockeys mais treinados. E, claro: ainda pode chover e as regras serem mudadas. Prever os campeões está na capacidade de se enxergar os fatores que promovem os nichos eleitorais. E a intensidade em que o fazem. As redes sociais, por exemplo, não substituem o apelo que possuem as necessidades básicas de sobrevivência do eleitor (como esgoto, consulta médica e polícia eficiente). Elas sempre vêm antes de políticas públicas que promovam realizações pessoais gerais da população. Mas é inegável que o Instagram mudou o jeito de as pessoas enxergarem a solução para esses problemas. Assim como a TV e o rádio haviam feito antes.

Há três fatores que guiam o mapa desta investigação: primeiro – a ANÁLISE QUALITATIVA do perfil e da dinâmica dos nichos eleitorais atuais da cidade, segundo – o entendimento da EVOLUÇÃO HISTÓRICA da cabeça do votante itaunense, terceiro – o RETRATO ESTATÍSTICO do comportamento eleitoral. Nate Silver é um analista político que ficou famoso por fazer previsões precisas nas eleições presidenciais de 2008 dos EUA. Ele nos ensina que “saber se a informação chega com um sabor quantitativo ou qualitativo não é tão importante quanto saber como usá-la. O modo para nos tornarmos mais objetivos é reconhecer a influência que nossas premissas desempenham nas nossas previsões e termos a iniciativa de questioná-las”.

A análise QUALITATIVA nos ajuda a processar toda informação que angariamos. A sensibilidade proveniente da convivência nos corredores das conversas com políticos não pode se transformar em viés. É preciso termos uma ferramenta que separa o joio do trigo, na análise. Evitamos trabalhar com meras incertezas, para podermos analisar riscos de alguém ser o ou não eleito – algo mensurável. Os votos que elegem, no final das contas, não são racionais – sabemos. Há voto assistencialista, voto ideológico, voto de gratidão, voto de indicação, voto de protesto ou voto de admiração. Morris Janowitz, sociólogo norte-americano, também nos lembra que uma grande parcela dos eleitores fica indiferente à eleição pela maior parte dos anos. O mercado político é elástico, ou seja, as pessoas mudam a intensidade do interesse em pensar no voto dependendo da proximidade da eleição e do tipo de pleito. Isso leva eleitores a responderem rápido a ajustes de discursos, a serem mais suscetíveis a soluções criativas pelos políticos, a serem mais vulneráveis à percepção de que seus interesses foram atendidos. De uma forma geral, o eleitor não espera participar do mandato do político diariamente. Mas quer acreditar que poderá contar com ele, quando algo em sua vida precisar de uma ajuda. David Riesman, celebrado acadêmico de sociologia em Harvard, sugeriu medirmos o grau de participação verdadeira de qualquer tipo de eleitor por meio de: sua atividade política regular, seu grau de informação e seus vínculos emocionais com os acontecimentos políticos. 

A evolução HISTÓRICA da cabeça do eleitor itaunense é relevante, sobretudo, por desenhar a forma como o sentimento de cidadania influencia no voto. Quanto menor a percepção de pertencimento à cidadania, mais o eleitor planeja soluções individuais para suas necessidades básicas. Ou seja: quem vota pensando no favorzinho que um vereador pode fazer na marcação de consulta (em vez de uma ampla política pública de Saúde) não se enxerga tão pertencente à cidadania itaunense. A cidadania é a cola da confiança no sistema político. Independente de as pessoas saberem descrevê-la. T.A Marshall, sociólogo britânico, nos fez este favor. Cidadania provém de se possuir uma combinação entre três direitos: os civis (opinião), os políticos (voto) e os sociais (participação na riqueza coletiva). Por exemplo: os cerca de 20 mil habitantes da pequena Itaúna da década de 1950, que elegeu Milton de Oliveira Penido, aos 32 anos, transmitiam mais pertencimento cidadão, do que atualmente. Políticas públicas de Ensino e Saúde já coexistiam, infelizmente, com o fisiologismo. Mas as prioridades do século 20 itaunense deixaram uma herança de instituições públicas incomparavelmente maior do que a atualidade. Escrutinar a forma como o eleitor da cidade evoluiu nos ajuda a prever a direção em que a história o está levando.

O retrato ESTATÍSTICO nos ajuda e ver que números não mentem. Em especial, quando os combinamos com a chamada “big data” (aglomerado de dados brutos já disponíveis). Observar a evolução percentual da diferença de votos inválidos, a cada 4 anos, por exemplo, nos dá uma boa ideia da tendência para as próximas eleições. Junto disso, pesquisadores como Mathew Salganik, de Princeton, já nos provaram que é possível que cruzar dados aparentemente irrelevantes, para estabelecer o perfil de eleitores nos diversos cantos do município. Sua análise do estudo, com o padrão de uso da telefonia celular em Ruanda, por exemplo, traçou uma precisão espantosa no perfil social do país africano.

Os votos que elegem, em Itaúna, apontam para uma cidade capaz de aumentar seu número de representantes na Assembleia Legislativa mineira e no Congresso Nacional. E, com isso, darmos um novo sopro na qualidade de vida e no desenvolvimento local. Está tudo aí. Basta olharmos com atenção.