O chamado do Cuco

O chamado do Cuco


O prólogo deste livro se abre com uma citação latina: Is demum miser est, cuius nobilitas miserias nobilitat., que para nós hoje está mais inalcançável do que para os leitores do início do Século XX, porém cônscio disto o escritor vem logo abaixo com a tradução para nosso vernáculo nas seguintes palavras: Infeliz é aquele cuja fama enobrece suas desgraças. 

Londres e uma madrugada gelada, em que se esperava o silêncio vê-se de fato um burburinho como enxame de moscas. A polícia já tomara conta de manter afastados os insuportáveis paparazzi, os fotógrafos das agências de notícia, os repórteres, a imprensa escrita e televisa, enfim os bisbilhoteiros de plantão.

Vinham de toda parte, inclusive furgões com antenas de satélite no teto, alguns do estrangeiro. Estava um frio de matar e entre um fleche e outro e cliques das máquinas fotográficas os repórteres batiam os pés e as mãos no intuito de afastar a dormência causada pelo clima gélido.

Agora depois de horas de transmissão incessante da tragédia, a população começou a se aglomerar entorno da região, querendo porque querendo, se aproximar e ver pela última vez a sua musa, principalmente aqueles que tinham por ela verdadeira veneração, sem se falar do bando de curiosos, que por não ter o que fazer, se alimentam das frivolidades do novo século, acostumados que estão com os reality shows proporcionando o tipo de entretenimento fugaz e fútil tão comuns a esta geração.

Os detetives odeiam tudo aquilo, armara-se uma tenda branca bem no meio da avenida para evitar uma exposição maior, enquanto faziam uma análise das circunstâncias que envolviam a morte. O inspetor-detetive Roy Carver sentia seu mau humor característico só aumentar, enquanto o sargento-detetive Eric Wardle anunciava que a ambulância estava a dois minutos dali.

Enfim de forma ainda não conclusiva, mas primária, a avaliação era de que a “infeliz pulou. Não tinha mais ninguém lá. A suposta testemunha está entupida de cocaína...”

 Esgotada a notícia nada mais foi dito, até porque já se dissera muito mais do que deveria ser relatado de tudo aquilo.

TRÊS MESES DEPOIS.

Robin Ellacot não podia imaginar que naquele dia, seria o inesquecível dia, em que Matthew lhe proporia casamento ali, embaixo da estátua de Eros no Picadilly Circus. Olha que ele foi muito romântico porque o fizera somente à meia-noite. Mas nem tudo são flores e ela pretendia sair daquela rotina de trabalho temporário, porque desde que chegara a Londres esse era seu cotidiano, mas agora parecia ser diferente, porque teria entrevistas de emprego verdadeiro.

No entanto, no momento, ela se dirige a seu próximo emprego de uma semana. Robin nos seus 25 anos é uma mulher bonita e isto digo sob quaisquer padrões, é alta e curvilínea, de cabelos compridos louro-avermelhados e em passo acelerado eles ondulavam incessantemente. Vinda do interior ela sempre se desconsertava à procura de escritórios na vastidão londrina. Não era diferente desta vez estava atrapalhada com todas aquelas ruas e corredores citadinos, mas ao adentrar uma viela na Denmark Place deparou –se com uma rua curta cheia de fachadas coloridas de lojas.

Estava um pouco esbaforida e olhando constantemente o relógio constatou que estava ainda 15 minutos adiantada, foi quando deparou com uma porta pintada de preto ao lado do 12 Bar Café, estendeu a mão para campainha, quando a porta se abriu e por pouco elas não se colidiram. Passado aquele vislumbre, ambas assustadas, seguiram cada qual seu rumo. Robin teve impressão de que apesar de momentâneo o encontro, ela seria capaz perfeitamente de desenhar aquele rosto incrivelmente bonito, que contemplara a distância mínima de um palmo.

Antes que fechasse a porta Robin a segurou com firmeza, subiu os degraus da escada evitando tanto quanto pode deixar, que o salto do sapato se prendesse nos vãos dos lances da escada, assim se deu até alcançar o primeiro andar.

Estranhou que pela primeira vez nada disseram sobre o tipo de trabalho a que estava sendo enviada. Havia um papel gravado ao lado da campainha dizendo C. B. Strike e abaixo Detetive Particular.

Robin ficou estatelada em frente à porta, boquiaberta não sabia definir o próprio espanto, jurava para si mesma que jamais confidenciaria, nem mesmo ao Matthew (seu noivo), o desejo oculto e infantil, alimentado desde a infância, de trabalhar em um escritório de detetive.

Parada ali, foi novamente surpreendida, quando a porta se abriu de repente e um homem de cem quilos aproximadamente, chocou-se contra seu corpo arremessando-a para uma queda pela escada letal atrás de si.

Instantaneamente assim que percebeu o encontrão com alguém na sua entrada e vendo que a atirara longe estendeu o braço e segurou firmemente um amontoado de carne e roupas, que gritava descontroladamente, enquanto ele mesmo em alta voz dizia: MEU DEUS!

É claro, meu caro leitor, que para saber mais será preciso debruçar-se, sob o primeiro livro de uma série escrita por J. K. Howling, que certamente cansada de só ser reconhecida pelas obras do bruxinho Harry Porter, pretendeu escrever para o público adulto sob o pseudônimo de Robert Galbraith e no melhor estilo de romance policial inglês trouxe de forma brilhante a existência o emblemático detetive particular Cormoran Strike.