Casos de dengue aumentam em Itaúna e Hospital fica lotado

Gestores municipais “correm para fechar a janela depois de a porta ser arrombada”, apontam críticos após Estado reduzir investimentos no combate à dengue

Casos de dengue aumentam  em Itaúna e Hospital fica lotado
Foto: FOLHA

A reportagem da FOLHA recebeu informações de que no final de semana passado o Hospital Manoel Gonçalves de Itaúna esteve lotado, com pacientes aguardando atendimento por horas. Os casos de dengue eram maioria, conforme as informações. A epidemia está instalada no município, que, inclusive, teve decretada a situação de emergência no dia 19 de março. Segundo o último boletim da Secretaria de Estado de Saúde – SES-MG, publicado no dia 18 de março, Itaúna conta com 2.151 casos da doença confirmados e mais 17 casos de Zika. 

A situação no estado é alarmante, com 232.789 casos confirmados, 100 mortes e mais 372 em investigação para definir se a causa foi a dengue. Somente nos quatro maiores municípios da região – Divinópolis, Nova Serrana, Itaúna e Pará de Minas – foram confirmados 11.980 casos da doença, o que representa 5,14% dos casos confirmados em Minas Gerais. É muito para quatro municípios, se considerarmos que o Estado de Minas Gerais conta com 853 cidades. 

Porém o problema maior é que muito dessa situação, de uma forma geral, se deve à (falta de) ação de gestores. Em matéria publicada pelo jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, no dia 4 de março, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, confirma que, no ano passado, 2023, foi registrado o menor investimento no combate à dengue dos últimos três anos em Minas Gerais. E afirma que isso se deve ao fato de que uma considerável parte de recursos repassados aos municípios estava “parada”, já que a previsão dos índices da doença para 2021 não foram confirmados e o dinheiro não foi aplicado. Isso demonstra que a ação dos gestores é no sentido de tratar da doença e não de evitá-la quando possível. 

Conforme os dados, foram investidos em 2021 R$ 123,2 milhões; em 2022, R$ 75,9 milhões; e em 2023, esse valor voltou a cair e ficou em R$ 64,4 milhões. A prática aponta para o fato de que, com baixos índices de contágio, os governantes deixaram o combate à dengue para segundo plano. O mosquito, então, pôde proliferar à vontade...

Ações em Itaúna são de combate ao mosquito

Na esteira do que foi informado acima, o combate à dengue em Itaúna está centrado no mosquito, isso mesmo, depois de o número de contágios ser bastante grande. Ações da Prefeitura são no sentido de limpar áreas públicas, fazer visitas às casas, cobrando combate aos focos e aplicação de fumacê. Conforme especialistas, a divulgação das ações também é deficiente, na medida em que foca nas redes sociais e esquece outros meios de se chegar à população, especialmente nas periferias, como propaganda volante, ações de visibilidade nas áreas de maior concentração e até mesmo trabalho de conscientização em empresas, igrejas, espaços esportivos, etc. Concentra-se a força nas peças eletrônicas, como se isso bastasse. Em cidades vizinhas, parcerias com entidades, grupos representativos da sociedade e até mesmo com a Regional de Saúde tem levado a campanha de combate à dengue para as ruas. Faixas, abordagens aos diversos públicos, com mensagens que vão além de eliminar os focos, mas com dicas de tratamento aos sintomas, como a hidratação constante, uso de repelentes e outras ações. Em algumas cidades, os gestores implantam centros de triagem, de recebimento de doentes com sintomas mais leves. Pontos para reidratação oral e, em algumas unidades de saúde, até mesmo de reidratação venosa – aplicação de soro na veia do paciente. 

Um profissional da área da saúde, que pediu para não ser identificado, afirmou à reportagem que a maioria dos casos que estão chegando ao Hospital poderiam ser atendidos em um posto de saúde. “É preciso que o Município implante um ponto de apoio, pelo menos, para esse tipo de atendimento. Profissionais com informações e material/equipamento necessário, como soro para hidratação oral e estrutura para a hidratação venosa. Com isso, diminui o acesso ao Hospital/ Plantão. E é claro que deve continuar e até ampliar as medidas de combate ao mosquito, mas é necessária dar um passo além”, comentou. 

Politicamente as críticas são pelo fato de se esperar que a situação se agrave para que medidas sejam tomadas. “Estamos no final de março já. E só agora é que a limpeza de ruas e espaços públicos está sendo reforçada. O recolhimento de inservíveis pelas ruas está deficiente. Esperam as pessoas reclamarem... E agora, além de realizarem o trabalho preventivo, precisam melhorar o atendimento no tratamento da doença, não deixando tudo para o Hospital. Itaúna só tem um hospital, mas conta com a Policlínica, com mais de 20 unidades de saúde, com o Posto Central... É preciso pensar e agir, colocando essa estrutura toda no combate à epidemia”, comentou um cidadão.