Resposta aos maçons

Resposta aos maçons


Na última semana, o maçom Carlinhos de Brito – querido conhecido meu de muitos anos, comunicador hábil e simpático profissional de eventos da cidade – assinou um desagravo direcionado a mim, em nome da maçonaria e publicado neste jornal. Venho respondê-lo, sem rodeios, com a honestidade intelectual e o interesse que o assunto despertou em muitos leitores. A pauta é a incompatibilidade em ser Católico e Maçom ao mesmo tempo – algo que o desabafo redigido a mim busca refutar.

Inicialmente, eu gostaria de registrar que fiquei lisonjeado: dois amigos meus, maçons de Itaúna, disseram-me que – embora assinado por Carlinhos de Brito – foi necessária uma comissão de seis maçons para fazerem a redação e a revisão do escrito. Um de meus amigos contou-me que o Grão-Mestre Maçom, de Belo Horizonte foi um dos revisores. Meus cumprimentos a todos interlocutores que não assinaram, mas se interessaram em dialogar. Com mais gente do outro lado, tenho certeza que teremos mais chances de deixarmos vaidades intelectuais e ironias retóricas de lado, a fim de podermos focar no que é mais caro: o respeito a fatos e à fé católica. Além disso, vou fazer um convite aos queridos interlocutores, que não acreditam no conflito absurdamente grande existente entre ser maçom e ser católico. Não precisam se basear em meus artigos. Procurem o padre de sua paróquia e o perguntem. Se a resposta não os agradar, procurem mais cinco ou seis sacerdotes.

O texto, entretanto, me pareceu cometer alguns deslizes infelizes, quando tentou ironicamente sugerir duas coisas. Primeiro que eu, “como muitos” tento denegrir a Instituição Maçônica por “não preencher requisitos necessários” para ser maçom. Segundo, quando citam uma passagem bíblica para sugerir que meus escritos sobre o catolicismo, que desagradaram aos caros maçons, são como um “homem que expelia demônios em nome de Jesus”. Posso responder a ambas colocações, por meio de um convite que declinei, em fevereiro de 2020, a um prezado amigo maçom de Itaúna, para me juntar à instituição maçônica. Mas, para além de limparmos estas alfinetadas retóricas “ad hominem” da comunicação que vocês me enviaram, vamos objetivamente esclarecer o assunto. Talvez, mais do que me acusarem de escrever por “ouvir dizer”, percebam que talvez – por honestidade intelectual e espiritual - haja fatos que vocês realmente devam esclarecer para maçons que querem ser católicos. De minha parte, garanto-lhes que já estou entusiasmadamente me aprofundando no estudo.

O caro grupo de maçons escreveu um desabafo no dia 3 de junho, fazendo referência a um texto que publiquei no dia 6 de maio. Curiosamente, ignoraram solenemente o texto complementar que publiquei sobre o mesmo assunto no dia 20 maio. Imagino que a minuta do desagravo estava sendo repassada para devidas aprovações/revisões entre BH e Itaúna, de maneira que não se atentaram. Isso é de central importância, pois a munição que usaram para me rebater, cai por terra, se lerem o que eu já tinha exposto no dia 20. Vamos ver? Vou repetir com todo o cuidado, para dar a oportunidade de o querido Carlinhos de Brito e demais maçons envolvidos na carta acompanharem. No dia 6 de maio, eu expliquei que ‘maçonaria e catolicismo são incompatíveis’ e citei a promulgação do Código de Direito Canônico de 1917, junto com oito papas que registraram condenações explícitas à maçonaria – eles foram todos claros: católico que se associa à maçonaria está automaticamente excomungado da fé católica. Apontei com clareza os motivos, quando eu repliquei aquilo que a Santa Igreja havia dito: “os católicos que se tornam membros são obrigados a colocar sua adesão à loja maçônica acima de seu pertencimento à Igreja”. Os prezados maçons surgem no dia 3 de junho último para tentarem apontar que o Código de Direito Canônico mais recente desfez aquele entendimento, pois no novo código, promulgado em 1983 por São João Paulo II, a menção explícita à franco-maçonaria foi retirada completamente.

Neste ponto, BASTAVA QUE O PREZADO GRUPO DE MAÇONS TIVESSEM LIDO O SEGUNDO ARTIGO QUE PUBLIQUEI SOBRE O ASSUNTO, DUAS SEMANAS ANTES DE EXTERNAREM SEU “DESSABOR”. Informação honesta e de qualidade é melhor remédio para estes desconfortos, do que um debate onde precisamos desmerecer o conhecimento do interlocutor, a fim de nos mostrarmos sabedores. Assim sendo, replico a seguir o que eu JÁ HAVIA escrito, e o grupo não leu (ou ignorou). Faço-o com a sincera intenção de oferecer conhecimento de qualidade ao grupo. 

Muitos entenderam que a mudança no novo código de Direito Canônico, promulgado em 1983 por São João Paulo II como um indicativo de que a Franco-maçonaria não mais era considerada má aos olhos da Igreja. Na verdade, os membros do comitê responsável pela reforma esclareceram que eles queriam se referir não apenas aos franco-maçons, mas a muitas outras organizações; a conspiração da agenda secularista maçônica tinha-se espalhado para tão além das lojas que continuar usando um termo abrangente como “maçônico” seria confuso. O ENTÃO CARDEAL RATZINGER EMITIU UM ESCLARECIMENTO DA NOVA LEI EM 1983, NO QUAL DEIXOU CLARO QUE O NOVO CÂNON HAVIA SIDO FORMULADO PARA ENCORAJAR UMA INTERPRETAÇÃO E UMA APLICAÇÃO MAIS ABRANGENTES, MAS NÃO DEIXAVA DE CONSIDERAR O JUÍZO CONFLITUOSO ENTRE A FÉ DE JESUS CRISTO E A MAÇONARIA.

A 26 de Novembro de 1983 a Congregação para a Doutrina da Fé publicava uma Declaração sobre as associações maçónicas (cf. AAS LXXVI, 1984, 300). Lá se lia: desde que a Igreja começou a pronunciar-se a respeito da maçonaria o seu juízo negativo foi inspirado por multíplices razões, práticas e doutrinais. (...) Na Encíclica Humanum Genus de Leão XIII, o Magistério da Igreja denunciou na Maçonaria IDEIAS FILOSÓFICAS E CONCEPÇÕES MORAIS OPOSTAS À DOUTRINA CATÓLICA. Para Leão XIII elas reportavam-se essencialmente a um naturalismo racionalista, inspirador dos seus planos e das suas atividades CONTRA A IGREJA. Na sua Carta ao Povo Italiano “Custodi” ele escrevia: “Recordemo-nos que o cristianismo e a maçonaria são essencialmente inconciliáveis, de modo que inscrever-se numa significa separar-se da outra”.

G.K. Chesterton foi preciso ao criticar este ponto, quando resumiu: “O que o mundo hoje espera de um católico é que ele respeite todas as religiões, exceto a sua própria”. Respeito e humildade não pressupõem que abramos mãos de ser firmes em nossas ações, nossas prioridades e nossos exemplos. Nossos papas, guiados por Cristo, já nos orientaram a acolher e conviver em respeito com todos, em especial aqueles que por meio de seu livre-arbítrio professam uma fé e um grupo de hábitos diferentes. Mas também nos alertaram: respeitar não é concordar, tampouco participar.

Por Rafael Corradi Nogueira