A comunicação e a comunicação pública

A comunicação e a  comunicação pública
*Sérgio Cunha

Comunicar é uma ação inerente ao ser humano. Desde sempre o homem se comunica e faz da comunicação, uma arma para sobreviver. Com o passar dos tempos, a forma de se fazer comunicação foi sendo adaptada, melhorada e, por vezes, até mesmo piorada. Porém, sabe-se que, sem a comunicação não se consegue viver. Paralelamente à comunicação de uma forma geral, foi criada a comunicação pública, que surge da necessidade dos líderes em repassar ordens, estratégias e até ensinamento a seus seguidores. E nesta linha, a comunicação pública foi se desenvolvendo, melhorando e se adequando aos tempos e às ferramentas disponíveis, assim como a comunicação de uma forma geral vinha sendo trabalhada. 

Mas uma coisa é certa: tanto a comunicação geral quanto a comunicação pública, independente dos meios, plataformas, usados, tem uma estrutura, uma raiz ou, como diria um professor meu, uma fórmula/receita. E esta fórmula é simples: a comunicação se faz com uma mensagem que é disparada (emissão) em busca de alcançar um determinado público (recepção). 

Resumindo, na comunicação de uma pessoa para outra, emite-se a mensagem (temos aí o emissor) e quem a recebe (o receptor), deve entendê-la. Se o receptor não entender a mensagem, é porque ocorreu um erro na emissão, claro. Tomemos por exemplo o caso de uma mãe que diz ao filho: ‘Pedrinho, vá ao supermercado comprar laranjas. Se tiver doce, traga meia dúzia’. O filho vai, e volta com meia dúzia de cocadas e algumas laranjas. Ele não está errado, a mensagem é que não foi bem passada, concordam?

Pois bem, na comunicação, seja ela entre duas pessoas ou entre várias, é sempre assim. Emite-se uma mensagem e ela precisa ser entendida pelos receptores. A coisa começa a se complicar quando a emissão passa a ter caráter mais amplo. No caso da comunicação comercial, por exemplo, a mensagem a ser emitida deve buscar o público-alvo, isto é, as pessoas que são o foco a ser trabalhado pelo emissor. Para uma sorveteria, o público-alvo são as pessoas que gostam de sorvete. Para uma padaria, quem deseja comprar pão. Mas na questão da comunicação pública, porém, é um pouco mais complicado, porque a mensagem deve ser emitida (e entendida, não esqueçam isso) por todos os moradores de uma cidade, por exemplo, quando se trata da comunicação pública municipal.

Então, a regra é que a mensagem seja simples e de fácil entendimento (estamos falando de construção do texto). Também precisa alcançar o máximo de pessoas possível, para que o objetivo da comunicação seja alcançado. Afinal, uma prefeitura deve emitir a mensagem para todos os munícipes e não só para um grupo limitado, isso na maioria absoluta das necessidades de comunicação de uma prefeitura. Assim, a primeira preocupação que se deve ter é com a construção do texto. Precisa ser simples, direto, de fácil entendimento por todos os cidadãos/cidadãs daquela cidade. E não conter erros gramaticais como temos visto no dia a dia, pois quem trabalha com comunicação precisa saber escrever (é claro que um erro ou outro passa, mas muitos, todos os dias, é desconhecimento total). Depois, a preocupação deve ser com os meios: rádio, jornal, televisão, cartazes, carros de som, outdoor, telemensagens, boca-a-boca, reuniões etc. Em seguida, nos tempos atuais, a plataforma – e aí vem o maior problema das assessorias atuais – que pode ser online e/ou analógica. Isso mesmo: internet não é meio de comunicação, mas plataforma por onde se comunica. E uma boa assessoria de comunicação de prefeituras, câmaras e assemelhados, não pode renunciar a qualquer das plataformas e de todos os meios imagináveis, para tentar alcançar o público-alvo de suas mensagens, até porque nem todo mundo está lá, o dia todo, todos os dias, acompanhando as redes sociais. Existe vida fora da internet, apesar de algumas pessoas não acreditarem nisto.

Porém, o que estamos vendo atualmente é assessorias despreparadas – algumas até mesmo com pessoas com formação na área da comunicação (absurdo!!! Kkk) – confundindo meios e plataformas e acreditando que tudo se resume às redes sociais. E pior, com péssimos textos, cometendo verdadeiro assassinato à língua, sem redigir duas sentenças livres de vários erros, preocupando-se tão-somente com o número de visualizações alcançadas no Instagram, no Facebook, no YouTube ou no TikTok.

É preciso entender, por exemplo, que as redes sociais são sim, meios a serem utilizados, mas saber que lá, quem visualiza também interage e aí se cria um sério problema com mensagens mal-elaboradas. E entender, também, que não são os únicos meios, existem outros. Inclusive o antigo, mas sempre atual ‘boca-a-boca’. Repetindo: se a mensagem é mal-elaborada, certamente será contestada nas redes sociais e se transformará em “problema de comunicação”. Então, usar as redes sociais não é problema, o problema é não saber usá-las. E estamos lotados disso por aí. 

Outro problema sério que temos anotado é que algumas assessorias acreditam que a sua tarefa acaba com a emissão da mensagem. Em comunicação pública, principalmente, o que vem depois é mais importante do que a emissão. Mensagens não entendidas pelo público se tornam problemas sérios para muitas administrações e acabam, certamente, por manchar a imagem das lideranças dos órgãos, casos de prefeitos, secretários, vereadores...

E, concluindo para não me estender por demais, é preciso entender que comunicação pública não pode ser confundida com “propaganda” pública. Quando se trabalha com o foco na propaganda, o público logo entende e a credibilidade vai ao chão. E comunicação pública sem credibilidade não é comunicação.

Encerrando o texto, informo que trato do tema a pedido de amigos que me solicitaram opinar sobre a questão da mudança de parâmetros na exigência de formação para ocupar cargos na Câmara de Itaúna, especialmente no cargo em que tenho algum conhecimento, teórico e prático. Concluo afirmando que não basta a formação específica, apesar de saber que ela é muito importante. Mas, além dela, é preciso, também, conhecimento da área. E se além de falta de conhecimento não se tem pelo menos formação teórica, aí... se transforma em ‘acordos de compadres’, como tem sido comum por aí.

* Jornalista profissional, especialista em 

comunicação pública e membro da Academia 

Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.