Primeira votação. Primeira visão: divergências de opinião. Vai rachar!

Desde a terça-feira, dia 14, enquanto acompanhava a segunda reunião da Câmara desta Legislatura que se inicia, tive a sensação de que as divergências de opinião já se afloraram. A votação dos projetos que possibilitaram mudanças no quadro da estrutura organizacional e também outro que mudou o horário da reunião, em regime de urgência, da forma que foram colocados, acabou por mostrar o que cada vereador pensa. O interessante é que, ao ler o depoimento do historiador Charles Aquino, publicado nesta página, ao lado deste editorial, confirmei o que observei: que o Poder Legislativo terá um ano complicado, pois os vereadores já não comungam da mesma opinião e muito menos não enxergam o Poder da mesma forma. O que é muito bom, excelente! Mas, infelizmente, além disso, a maioria ainda não percebeu que a função do Legislador não é Executiva, e sim de propor e votar Leis que venham melhorar o trabalho do Executivo e do próprio Legislativo e possibilitem a melhoria da vida do cidadão.
Mas as primeiras leis a irem a plenário mostram o contrário. Que os legisladores estão preocupados, num primeiro olhar, é com a própria causa, ou seja, em facilitar o seu trabalho e as suas necessidades políticas. Isso ficou claro. Não vou afirmar que todos pensam assim, mas alguns já deixaram visível qual será a postura. Como conhecedor da estrutura dos poderes e da forma de agir dos políticos e um profundo conhecedor do Legislativo Itaunense, pois o acompanho faz mais de 40 anos, desde o início da década de 70, o que tenho a dizer, por enquanto, é que nada vai mudar. Os jovens que caíram de “paraquedas” no plenário, por causa das redes sociais, só vão entender o funcionamento das máquinas Legislativa e Executiva e o processo de legislar daqui dois ou três anos, e olhe lá. Quanto ao processo político, esse, eles não vão entender, ou entram e fazem parte do processo ou serão fritos pelos eleitores e/ou os “caciques” que detêm o poder. E não adianta espernear, pois é isso mesmo. Não basta inteligência, estudo da Lei Orgânica e/ou do Regimento Interno. A base é a política. E essa, para o bem ou para o mal, é uma arte. E não é para todos.
A primeira questão em que gostaria de me intrometer, como jornalista/editor da FOLHA e como cidadão itaunense, é em relação à mudança de horário das reuniões. Vou ser prático. Não adianta em nada mudar. A alegação de que o povo não vai às reuniões por causa do horário é uma balela. Ele não vai porque não entende nada, e acha que, ao votar e eleger seu representante, fez isso exatamente para que não tenha quer ir acompanhar o serviço dele. No decorrer desses 40 anos frequentando a Câmara, o horário das reuniões já passou por mudanças dezenas de vezes. As reuniões já começaram às 14 horas, às 17 horas, às 18 horas e 20 horas. Seja qual for o horário, os frequentadores são os mesmos: quem gosta de política ou está inserido no meio por força maior; ou são os funcionários, parentes ou amigos de vereadores; representantes comunitários, quando há interesse da comunidade que representam; e os “olheiros” do prefeito e dos grupos de oposição; além, é claro, dos jornalistas de rádios, TV e jornais. O povo? Esse não vai. E não vai mesmo. Balela afirmar o contrário. Bobagem.
Quanto ao projeto de resolução aprovado e que muda a estrutura organizacional do Poder Legislativo, flexibilizando qualificações para alguns cargos comissionados, o que tenho a dizer é que não me surpreende a aprovação, pois, quando um projeto desse tipo, digamos, polêmico chega a plenário, é porque ele já foi negociado nos gabinetes. Principalmente no gabinete da presidência. Como afirmou o historiador Charles Aquino, as divergências ficaram aparentes. E tinham que ficar mesmo. Não sou contra a retirada de algumas exigências, como a formação superior para exercer o cargo de Assessor de Comunicação, mas sou completamente contra que o Assessor, seja ele qual for, seja de outro município e não conheça a cidade e suas entranhas políticas. Vai assessorar quem e como? Vai fazer curso rápido de conhecimento histórico e/ou político? Vai saber quais são os melhores meios de comunicação, aqueles que de fato comunicam, como? Ou será que é o presidente da Casa quem vai mandar e escolher os veículos? E será mesmo fato que a escolha do Assessor de Comunicação foi negociada com um vereador, antes oposicionista, em troca do voto para presidente?
Sinceramente, entendo que, se as interrogações e os posicionamentos estiverem corretos, vamos ter uma presidência capenga no aspecto democrático e de direito. Quanto a politicamente, aí é esperar para ver, pois, com muitos anos de mandato e já tendo sido, inclusive, presidente, além de vice-prefeito, ele conhece os dois lados da moeda e sabe muito bem que não pode fazer besteira. Mas é mania, quase uma fobia, dos políticos arriscar, andar no fio da navalha... É pagar pra ver! Esperar os próximos capítulos. Posso estar enganado, mas a primeira percepção é a de que não dura muito tempo: Vai “rachar”. E, desta vez, não serão dois grupos, um pró e outro contra, mas, sim, alguns “grupelhos” que seguirão sem muito rumo... Repito, posso estar enganado... Mas!