Desaparecimento da Irmã Benigna, uma das personagens mais importantes da história de Itaúna-MG, completa 76 anos

Processo de beatificação da religiosa está em andamento e encontra-se no segundo estágio

Desaparecimento da Irmã  Benigna, uma das personagens mais importantes da história  de Itaúna-MG, completa 76 anos


Da antiga Casa de Caridade, só restaram as ruínas, as quais há anos a sociedade tenta transformar num espaço cultural. Após o término do mandato da Irmã Benigna, foi decidido que o nome da instituição seria alterado para Hospital. Um novo prédio foi construído na época. Hoje, o Hospital Manoel Gonçalves atende a região e teve sérios problemas financeiros e de administração ao longo das décadas. Em 2023, a crise financeira foi tão grande que, por pouco, não prejudicou os atendimentos médicos. Recentemente, um empresário local ampliou as instalações e doou à instituição.

Em Itaúna, aos poucos, a memória da Irmã Benigna está sendo resgatada. Em 15 de junho de 2021, os vereadores da cidade aprovaram um projeto de resolução concedendo o título “post-mortem” de “Cidadã Honorária de Itaúna” à Irmã Benigna, em reconhecimento aos seus relevantes serviços prestados à comunidade itaunense.

A entrega do título ocorreu em uma Sessão Solene da Câmara Municipal. Após décadas, a Administração do Hospital Manoel Gonçalves construiu o Centro de Convivência Irmã Benigna em suas dependências, um espaço reservado aos funcionários do hospital, para momentos de alimentação e intervalo de descanso. Em 2016, no bairro Santa Edwiges, uma praça recebeu o nome da freira. Também, em 2021, no bairro Morada Nova, foi criada a “Casa Socialista Irmã Benigna”, que auxilia crianças em situação de vulnerabilidade em suas atividades escolares, além oferecer oficinas de artesanato.

O relato de Geralda Maria de Jesus na íntegra:

“Meu nome é Geralda Maria de Jesus. Fui trabalhar no Casa de caridade Manoel Gonçalves Sousa Moreira, quando tinha 20 anos aproximadamente. Lá, nessa época, conheci Irmã Benigna que era superiora. No início, eu fazia de tudo na casa de saúde. Depois, fui colocada para trabalhar como auxiliar de enfermagem. Nessa época, eu convivi muito com a Irmã Benigna e pude ver bem de perto suas virtudes de amor, doação e caridade. Apesar de ser Madre Superiora, Irmã Benigna fazia todos os serviços, nos ajudava em tudo, desde cuidar da horta, da limpeza, dos serviços com os pacientes. Ela cuidava de todos, pacientes e funcionários, igualmente e com muito amor e carinho. Além disso, ela ajudava o Padre a ungir os pacientes. (…)

Nessa época, trabalhava no hospital um enfermeiro chamado Rubens que bebia muito. Um dia, a Irmã Benigna estava ajudando o Padre Oscar a ungir os pacientes e esse enfermeiro entrou no quarto, viu e colocou maldade. Ele nem sabia o que estava acontecendo. Esse enfermeiro contou para sua namorada Lia, que era empregada do Dr. Coutinho, que encontrou Irmã Benigna no quarto com o padre, mas ele nem sabia o que ela estava fazendo lá com o Padre. Ele foi muito maldoso, ele só enxergou a maldade.

A Lia, namorada do enfermeiro contou para o Dr. Coutinho, que era médico do hospital e prefeito na época, e ele contou para o provedor nosso, do hospital, que era o Dr. José Drummond. E eles interpretaram tudo errado, e foram em cima de Irmã Benigna e chamaram a Madre que era Madre Ângela na época, ela era muito brava. Madre Ângela era a Superiora Geral lá de Belo Horizonte. Eu estava de cama no hospital, não andava, mas o Padre Ubaldo muito amigo da gente me falava o que estava acontecendo. O Padre Ubaldo disse que estava acontecendo uma reunião. Era ele que me falava nesta hora estavam todos lá na reunião judiando de irmã Benigna e ela não tinha culpa de nada. Nesta reunião estavam o Padre Oscar, o enfermeiro Rubens que falou mal da Irmã Benigna, Dr. Coutinho, o provedor (…).

Na mesma noite, eles a tiraram de lá e sumiram com ela como uma condenada para um lugar. Este lugar tem nome de chiqueiro. Eles queriam que ela fosse embora para a rua, mas para a rua ela não foi de jeito nenhum, Nosso Senhor Jesus Cristo não queria que ela fosse para rua. Então eles ficaram judiando com ela muitos anos, muito tempo. No asilo da Piedade eles a colocaram para lavar chão, fazer comida para aquelas pessoas, cuidar das crianças e ficar sem alimentar. Se ela quisesse alimentar, era para ela lavar as panelas e fazer uma sopa, uma lavagem. Eles judiaram demais com ela. Era muito gorda, tinha um cisto que fez ela ficar presa naquele lugar (…) todo mundo falou que ela estava esperando uma criança, então ela queria ficar ali para ver aquela criança, para ver o que era aquilo ia dar. (…) A vida dela foi sofrer muito e o que a levou a ser santa foi o amor e o cuidado que tinha com as pessoas pobres e indigentes.”

* Toni Ramos Gonçalves nasceu em 1971, em Itaúna-MG. Escritor e editor, publicou livros solos e organizou antologias. Venceu vários prêmios literários pelo país e atualmente é graduando em História e Jornalismo. Redes sociais: @toniramosgoncalves