Eleições deste ano sem opções...
A reclamação mais constante que tenho ouvido em Itaúna é sobre a falta de opções para as eleições municipais deste ano. Como acompanho de perto as movimentações dos políticos, sempre respondo que “é muito cedo ainda, vamos esperar para ver o que vai aparecer”. Mas a maioria das pessoas insiste que “os mesmos nomes, as mesmas pessoas, estão na disputa”. Então é preciso fazer uma análise mais profunda do que esse questionamento representa. Em princípio, podemos entender que os políticos que estão no poder não estão correspondendo aos anseios da população. E isso pode estar, sim, acontecendo. Outra informação que pode ser tirada desta insistência das falas das pessoas é que a maneira de se colocar para o eleitor, por parte dos políticos, cansou, ‘ultrapassou o limite do tolerável’, como dizia minha mãe quando queria nos dizer que estava contrariada com as mesmices dos nossos atos.
Eu, de minha parte, entendo que essas coisas estão acontecendo, sim, mas que o principal motivo de tamanha resistência que tenho visto ser exposta pelos eleitores se deve à falta de criatividade, de entendimento dos problemas da população e da mesmice de atos e ações dos políticos. É comum a afirmação de que o político propõe uma coisa em campanha, e faz outra, após eleito. Mas, atualmente, estamos notando que não existem proposições, que não existem projetos, mas só debates inférteis de posicionamentos ideológicos, que não trazem qualquer esperança de mudança nos eleitores, e eleição é, sim, proposta de mudança, por princípio.
O cidadão que pega ônibus e paga uma passagem de R$ 6,50, utilizando um ônibus sujo, mal cuidado, sem as manutenções necessárias e que o deixa em meio ao caminho; que trabalha duro um mês inteiro e ao final do período recebe um salário que não é suficiente para pagar as contas básicas; que vai à farmácia e não consegue comprar os medicamentos de que precisa; que não consegue dar à família nem o básico, muito menos o que ele imagina que seus entes merecem, já se cansou de ouvir a fala de que “é preciso vencer o comunismo”, “temos de derrotar o fascismo”, “vote na esquerda”, “vote na direita”!
O que o cidadão quer e precisa ouvir (e quer ver as ações, depois), é que o político vai trabalhar para buscar solução para os problemas, esclarecendo que problemas são estes e quais as medidas ele propõe para solucioná-los. Quer saber que o próximo prefeito vai parar de só asfaltar ruas e vai combater as enchentes na Jove Soares. Que vai trabalhar de forma a que a passagem de ônibus seja mais barata, sem insistir apenas no repasse de subsídios milionário para a empresa, sem citar o que vai ser cobrado, realmente, em troca do subsídio. Além é claro de dar transparência ao processo. Quer ouvir do vereador que ele tem o projeto de combater o desperdício de água, por exemplo, propondo uma legislação que beneficie quem economizar o precioso líquido. Que vai debater com o cidadão quando for preciso votar um projeto polêmico, em vez de obedecer ao pastor ou padre que o orienta. Que vai fiscalizar, acima de tudo, de todos os pedidos de emprego que possa pensar, as contas públicas, porque essa é a sua função primeira e mais importante.
É preciso que o político, quando eleito, deixe de ser líder de classe, de seita religiosa, e passe a ser representante (e funcionário) do eleitor. Que a sua atuação não pode e não deve ser só visando os votos, mas que seja pensando no bem comum, naquilo que interessa à maioria da população e não apenas a um grupo de pessoas, que normalmente são seus patrocinadores. A partir da eleição, o político é patrocinado pelo cidadão, portanto tem que atuar para atender à população como um todo. É necessário que os políticos deixem de ser representantes de grupos religiosos, de clubes de futebol, de empresários de determinado ramo, mas que passam a ser representantes de todos. E que o cidadão, o eleitor não quer saber se o político é “de direita” ou “de esquerda” – isso só interessa mesmo a quem não vivencia problemas comuns da comunidade e aos líderes de grupos representativos destes segmentos. O que o cidadão-eleitor quer é que o político trabalhe para melhorar a sua vida em comunidade. E que essa melhora da sua vida não se resume em conseguir verba com deputado para asfaltar rua, mas e principalmente, em fiscalizar para que o dinheiro público seja investido em projetos que beneficiem o todo da população. Deve ser porque a maioria dos políticos ainda não entende isso que o eleitor continua achando que estamos sem opções. E a constatação disso é o número de abstenções e votos nulos e brancos que aumenta a cada pleito.
* Jornalista profissional, especialista
em comunicação pública e membro da Academia
Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.