Assista ao Felicidade Não Se Compra

Assista ao Felicidade Não Se Compra


Um fracasso de bilheteria que entrou para a lista de melhores filmes de todos os tempos. A Felicidade Não Se Compra, de 1946, não foi um grande sucesso comercial. Anos depois, redescoberto pela televisão, encantou uma geração e ficou eternizado na história do cinema. Tenho a honra de apresentar hoje a análise espetacular de Guilherme Freire e Victor Sales sobre uma das obras capazes de mexerem com nossas perspectivas

Mas o que faz deste filme, um clássico? A história de vida de George Bailey, esconde o que há de mais profundo em nossa existência. Por tratar de um drama universal, a obra consegue tocar o coração de todos que assistem. George representa a figura do homem comum. Daquele que serve à sociedade e a sua família. Com suas virtudes e seu trabalho.

Frank Capra, diretor do filme, tentou apresentar à sociedade americana os ideais comunitários e de liberdade que haviam feito ele se apaixonar pela América. É uma história de amor, responsabilidade e redenção. Após retornar da Segunda Guerra Mundial, Capra viu um Estados Unidos diferente. E sentiu necessidade de traduzir isso em seu filme. 

O bom cinema diverte, emociona e ensina. Serve de repertório cultural e imaginativo.

Uma obra prima depende de duas coisas. Uma forma depurada que plasme uma verdade moral e conteúdo.

O que torna Felicidade não Se Compra um dos melhores filmes de todos os tempos é que ela tem condensada, de maneira muito poderosa, o drama da alma humana. O drama de George Bailey é o drama de todas as almas. É o drama de uma jornada de aprendizado. Da tentação da perdição da alma. Da necessidade de vc se descobrir no outro, nas suas relações. Felicidade Não se Compra tem uma mensagem de descoberta da vida. O que só você poderia fazer naquele momento.

O filme é a história de Bailey, um homem comum, numa pequena cidade. Ele sente que a vida passou sem ele perceber. E pela intervenção divina, na pessoa de um anjo, chamado Clarence Odbody ele aprende o quanto ele realmente é importante e amado. O filme é mais do que a história de um homem somente. É também um passeio pelos EUA da primeira metade do século XX. De 1919, passando pelos anos 20, a Grande Depressão, Segunda Guerra e o pós-guerra. A Felicidade Não se Compra é um filme sentimental? Sim. Mas é também honesto. Um filme que explora a dor da vida quotidiana, assim como a alegria dela.

O filme começa com as orações de crianças, pedindo à Sagrada Família, numa época de natal. Para José, Maria e o menino Jesus. Que intercedam pelo George Bailey. Que está em uma ponte para se matar. E quem atende às orações, é São José – a figura paterna. E como o anjo o salva, na ponte (que já é um sinal extraordinário de passagem, de transição entre a vida e a morte)? Ali, aparece um claro símbolo do batismo. Ele cai na água, para sair vivo. E quem vai guiar seus passos de redescoberta dali para frente é o anjo enviado por Deus. Bailey resmunga que desejava nunca ter nascido. E o anjo atende ao pedido e começa a andar com o protagonista pela cidade onde ele criava sua família, mas numa realidade em que Bailey nunca nasceu.

O filho de Capra disse em entrevista que a ideia era única. E o tema era sobre como perceber a extensão que a vida de uma pessoa pode tocar tantas outras profundamente. 

O filme fala sobre como o mundo não é materialista, movido por interesses gananciosos envoltos no contexto da Segunda Grande Guerra.

Potter, o vilão do filme, é um homem ganancioso e mesquinho, que representa o deus dinheiro. Aquele que tentou comprar seu futuro. E o curioso é que o protagonista Bailey poderia ser o senhor Potter, se tivesse tomado escolhas diferentes na vida.

Bailey nunca faz o que ele quer. Ele quer ser explorador, ir para a guerra, ser rico. Ele deixa de ser rico, e o amigo dele fica rico. Ele deixa de ir para a guerra, e o irmão dele vai para a guerra e vira herói, ele deixa de explorar o mundo, como outros colegas dele fazem. Ele abre mão de tudo que ele sonhava. Mas o ponto é: a sua vida não é o que você sonha, não é sobre você. Ao abrir mão dessas coisas, ele salvou a vida da esposa, melhorou a vida do irmão, melhorou a vida de várias famílias que sem ele não estariam bem. O amor pelo dever cotidiano, pelas virtudes do dia a dia, fazem do Bailey um herói. Mas um herói prosaico. O herói que mais transformou a prosa do dia a dia em verso heroico, do que um conquistador de terras distantes. E esse, por vezes, é o drama da vocação. Como você vive sua vida cotidiana de maneira heroica. E não como você acha que deveria ser o heroísmo da sua vida.

A história faz o protagonista descobrir que seus fios de cabelo estão contados desde toda eternidade. A vida humana se mostra infinitamente valorosa, inclusive a dele próprio. É uma história de redenção que nos relembra como nossas vidas podem ter bondade nelas.