Posicionamentos, embates e questões políticas. A prioridade: o atendimento humano

Não faz um mês, iniciei meu editorial afirmando que, desde que pisei na redação da FOLHA do Oeste, em 1973, comecei a ouvir sobre os problemas administrativos-financeiros do Hospital, ou da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira. Não foram poucos os editoriais do jornalista Sebastião Nogueira Gomide e depois do jornalista do jornal Brexó, Célio Silva, que li. E, de 29 anos pra cá, os meus, que também já somam dezenas. A situação financeira do Hospital chegou ao ápice e, em meu parco entendimento, tem que ter uma solução em prol de todos os itaunenses e demais habitantes da microrregião de saúde, que engloba a cidade coirmã Itatiaiuçu, e Piracema e Itaguara.
É natural que uma crise numa instituição de saúde como o Manoel Gonçalves acabe trazendo envolvimento político, e aí também as opiniões divergentes, assim como os interesses locais se afloram, ficam expostas as divergências. E é natural essa situação, mas na terça-feira, 29, na reunião da Câmara Municipal de Itaúna, as coisas extrapolaram todos os limites possíveis. Não são com gritos e acusações que vamos chegar a um consenso na busca de soluções que sejam mais consistentes em se tratando de futuro para o Hospital de Itaúna, e que atende a microrregião. O que assisti e ouvi na Câmara na terça-feira foi um absurdo, com gritaria, acusações insensatas e que não contribuem em nada para resoluções em prol do povo.
Sou amigo do vereador Alexandre Campos e acompanho o seu trabalho há três legislaturas e sei que ele tem uma visão pública de um todo, e busca trabalhar em prol do povo. Posso dar o meu testemunho. Mas na terça-feira, ao subir à tribuna e gritar, acusando políticos e pessoas, perdeu a razão. Como ele mesmo afirmou, todos são culpados, vereadores de legislações passadas, os atuais, que literalmente não sabem ainda onde estão, com raras exceções, o prefeito anterior, que deu um calote de mais de 6 milhões de reais na instituição de saúde, o atual, que ainda não está aberto ao diálogo, e o prefeito de Itatiaiuçu. Na opinião dele, os únicos certos são os administradores do Hospital. Será?
Entendo que todos têm certa razão, mas o único que está certo até aqui, em minha opinião, é o prefeito de Itatiaiuçu, pois se posiciona e fala o que tem que falar. Me disse, por duas vezes nos últimos dias, que está aberto ao diálogo, mas que também não vai deixar o seu povo sem o atendimento devido e que vai mesmo correr atrás das providências necessárias para que os atendimentos aconteçam a tempo e hora. Está certo. Me afirmou categoricamente que, se for preciso pagar por isso, como já paga, vai continuar pagando o que for preciso, mas que é obrigação do Hospital atender, pois a instituição de saúde é credenciada do SUS e recebe pelos atendimentos. E afirmou ainda que já propôs soluções, mas que “ninguém dá bola”.
Quanto ao discurso, ou melhor, a gritaria do vereador Kaio, não vou manifestar, por um motivo muito simples: não vou dar holofote para um cidadão que só quer aparecer nas redes sociais e que só faz politicagem. Está preocupado somente consigo. Suas gritarias não ajudam em nada o cidadão que precisa de atenção social, saúde e demais serviços públicos. É um zero à esquerda como político. E não deveria. É jovem, tem boa formação familiar (pedigree), mas não tem o principal: formação humanística. Esta é essencial na política pública.
Fico chateado em posicionar contra as últimas ações dos dirigentes do Hospital, mas desta vez não tenho como defender. E questiono: por que não estão abertos ao diálogo com o prefeito de Itatiaiuçu e deixaram a situação chegar a esse ponto? Se houver uma auditoria no Hospital e isso terminar numa intervenção estadual, quais as consequências para a população itaunense e de toda a região? Por que não buscam formas de melhorar os serviços e o faturamento buscando parceiros? Itatiaiuçu é um desses parceiros e quer apenas ter melhor acesso aos serviços de saúde oferecidos pelo hospital credenciado. Não vejo problemas, por exemplo, em Itatiaiuçu ter leitos dentro do Hospital e médicos e enfermeiros. Qual o problema? A Unimed tem, por que Itatiaiuçu não pode ter?
Há uma crise e todos devem e têm que unir em prol de um todo. É preciso ainda a responsabilização também do governo municipal. Dos anteriores e do atual, que ainda não mostrou claramente os motivos para não ajudar a nossa única Instituição de Saúde. E não é nem ajudar. É pagar pelos serviços prestados de forma justa e devida. Segundo cálculos no Plantão 24 Horas, ou Pronto-Socorro, ou Atendimento de Emergência, que é de responsabilidade da Prefeitura, mas que funciona no Hospital, a média de atendimento é de 4.000/mês. E a prefeitura está pagando por isso cerca de................mês. Ou seja, no final, o prejuízo é de R$ 500 mil/mês, que o governo municipal não quer assumir, alegando que o Hospital pode e precisa ser autossuficiente. E, na minha opinião, não é hora de se posicionar desta forma. O momento é de ajudar a ajustar valores para cobrir gastos inevitáveis e não impor posicionamentos e/ou virar as costas. Se o posicionamento é esse, que o governo municipal tire o Pronto-Socorro das dependências do Hospital. Aí, sim, o Hospital vai buscar formas de sustentação.
Expostas as minhas opiniões, começo a fechar este editorial reafirmando que, desta vez, a direção do Hospital, que é séria, comprometida e dedicada, e sempre afirmei isso, está errada. É preciso ceder, dialogar e entender as situações do entorno. Não adianta querer administrar querendo impor situações e/ou publicando notas explicativas. O diálogo no momento é a melhor saída. Quanto ao Poder Legislativo, onde estão os nossos representantes escolhidos através do voto, não tenho muito para reafirmar, a não ser que é digno de dó, mas é o velho ditado popular: “Cada povo tem o representante que merece”. Se não sabe votar, também não pode reclamar. E, quanto ao Poder Executivo, acho que está bem-intencionado, quer mostrar serviço, fazer uma administração diferenciada. Mas também tem que ter comprometimento, além de propostas. O funcionamento dos Postos de Saúde até à noite é uma evolução, resolve situações para desafogar o Pronto-Socorro? Sim, mas é pouco. A questão do Hospital precisa ser vista de forma diferenciada... Com um olhar humanístico antes de qualquer posicionamento administrativo, embates ideológicos e/ou políticos. Atendimento à saúde é prioritário e não pode haver divergência política. É uma questão humanitária. E sofremos, quase todos, com isso, pois os ricos são poucos, pouquíssimos... Então, senhores homens públicos, coloquem as mãos na consciência e reflitam, a questão é mesmo humanitária.