Sr. Bertino. O grande passista do Bloco da Turma da Caveira

Sr. Bertino. O grande passista do Bloco da Turma da Caveira


Gente, só faltam três dias para o desfile do Bloco da Turma da Caveira e nós temos que fazer bonito lá na Praça da Matriz! – Exclamava o maioral Banana, enquanto tomava mais uma geladinha lá no Bar do Dilon, coração do Bairro das Graças, popularmente conhecido como Rua da Ponte, e berço de grandes sambistas, como os maiorais, Mário Coqueiro, Braguinha, Cidico Bufão, Tita, Dora da Ponte, Jair Negrão, Tito, Dé e outros mais... Atento às palavras do Banana, o grupo de foliões formados por dezenas de componentes de alas, passistas, destaques e ritmistas, em silêncio, escutavam as orientações do seu grande maioral. Neste momento do causo, vale uma explicação sobre a origem do nome da Turma da Caveira, que naquele ano ia desfilar pela primeira vez como bloco no carnaval de Itaúna. Tudo começou no Bar do Dilon. Era o local de encontro dos amigos Dedeu, Osvaldo, Dilon, Biela, Cassinho, Banana, Diu, Avelar, Carrapicho, Valdir, Anselmo, Vando, Mourão, Rogério, Vicente Lavandowisk e Eduardo do Bradesco. Lá eles se reuniam para fazer um pagode, acertar um jogo de futebol e, principalmente, jogar conversa fora tomar e uma cervejinha e provar o torresmo com mandioca que só o Dilon sabia preparar. Em outubro de 1988, formaram um time de futebol e, logo na primeira partida, foram jogar no Povoado de Vista Alegre, contra a seleção local. Num determinado momento do jogo, a bola foi chutada para o meio do mato que rodeava as laterais do campo de terra batida e o Pelezinho ao buscá-la, encontrou uma caveira de cachorro e, com a bola debaixo de um dos braços e a caveira na mão, retornou ao campo e colocou a caveira dentro do gol, bem ao lado da trave. Nesta altura, faltando um pouco mais de 15 minutos para terminar o jogo o time local vencia por 1 X 0. A partir daquele momento, o jogo mudou. Em poucos minutos, viraram o placar com dois gols a favor e o goleiro da Turma do Bar do Dilon pegava tudo. De volta a Itaúna, na carroceria de um velho caminhão, começaram os comentários e as brincadeiras a respeito dos poderes da caveira. O Banana abria e fechava a ossada da boca da caveira, fazendo o barulho característico de trac, trac, trac... e comentava sobre a maldição que a caveira traria para aqueles que ousassem enfrentar a Turma do Bar do Dilon. Em pouco tempo a caveira de cachorro se transformou na grande atração do bar e o grupo de amigos passou a se denominar de Turma da Caveira. Em janeiro de 1989, resolveram criar um bloco de carnaval para desfilar na Praça da Matriz competindo, frente a uma experiente comissão julgadora, com os Blocos: Enchente das Goiabas, do Bairro Irmãos Auler, e os Allfaces, comandados pelo Ricardo e o Rogério Rabello. E conversam daqui, respondem dali, os componentes do mais novo bloco do carnaval de Itaúna iam fazendo os acertos para fazer bonito frente ao grande público presente no desfile de carnaval. No sábado de carnaval, os cento e oitenta componentes do Bloco da Caveira, ostentando suas belas fantasias, já estavam armando as alas na Pracinha do Bairro, quando uma forte apreensão tomou conta de todos: o tempo estava mudando com o céu carregado de nuvens, o que poderia acarretar uma forte chuva, bem na hora do desfile do bloco. Vamos com tudo, pessoal, a caveira vai nos proteger! Com chuva ou sem chuva vamos fazer bonito lá na Praça da Matriz, no nosso primeiro desfile, exclamava eufórico o Vicente Lavandowisk, um dos maiorais do bloco. No início da Silva Jardim, rumo à Praça, a bateria e a ala de passistas já arrancavam aplausos do grande público postado junto aos passeios quando desabou o maior pé d’água. A experiente bateria reforçou a marcação tocando mais alto e os componentes das alas e passistas continuavam a evoluir Silva Jardim acima, mesmo debaixo daquele toró, sambando e cantando:

Ilari, ilari, ê... Ô, Ô, Ô! A turma da Caveira, vai dando o seu alô....

Era de arrepiar. O povão se protegendo debaixo das marquises e os foliões do Caveira, sambando mesmo debaixo daquele pé d’água. Esse povo tá é doido! – Exclamou o Luiz Carlos Fagundes para o seu irmão Telmo, quando o bloco passou na maior euforia em frente à casa da Dona Júlia. Num determinado momento, alguém gritou: “acode que tem gente se afogando na enxurrada”. Era o Sr. Bertino, que, no alto dos seus 65 anos, já bem calibrado pelas doses da branquinha, saboreadas em excesso no Bar do Dilon, havia deitado na enxurrada que descia em grande volume pela Silva Jardim, e apagado. A água da chuva empossada em sua reluzente careca já passava sobre o seu corpo, quando o Banana, auxiliado pelo Osvaldo, o Dilon, pelo Dedeu e o Biela, o levantou. Reanimado com uma boa dose de cachaça, ainda atravessou a Praça da Matriz sambando, só parando no Bar Século XX para tomar a saideira naquele inesquecível carnaval dos anos oitenta. Quanta saudade!!!