Rei Congo e Rainha Conga comemoram quatro décadas de reinado

Dilermando e Mariana, mãe e filho, ajudando a construir a história da mais tradicional festa do município

Rei Congo e Rainha Conga comemoram quatro décadas de reinado


Pelo menos desde 1853, ou seja, cento e setenta anos passados, existem registros da realização da Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, em Itaúna. Assim, com segurança, pode ser afirmado que esta é a mais tradicional festa do município e que, apesar de sua importância, pouco apoio recebe dos poderes públicos itaunenses. Somente depois de um longo período, também passou a contar com o apoio mais efetivo da Igreja Católica de Itaúna, mais precisamente, com a chegada à cidade do padre Amarildo José de Melo, que passou a dar mais apoio à festa. Porém, resiste, supera contratempos e vai sendo contada por heróis anônimos, que por vezes são lembrados, mas que levam a sério a tarefa de manter a tradição, a cultura de uma das mais belas festas dos mineiros. Dentre eles podemos citar a eterna Sãozinha, o Dico, e tantos outros, que é difícil citar sem cometer engamos de esquecimento. Portanto é melhor não o fazer, para não cair nesta cilada de deixar alguém de fora. Mas é preciso destacar dentre estes tantos, mãe e filho, que assumiram a tarefa de serem o Rei Congo e a Rainha Conga de Itaúna, lá, em 1983, portanto há 40 anos, e que mantém na força da fé, a tarefa da construção da história do Reinado, em Itaúna. 

São eles o Dilermando Vitor de Oliveira, Rei Congo; e sua mãe, Maria Ana de Oliveira Vitor, a Rainha Conga, mais conhecida como Mariana. Dilermando, nascido em 1960 e há 39 anos casado, falou à FOLHA de seus sentimentos enquanto Rei, de seus sonhos, das lutas e da necessidade de se dar mais valor ao Reinado de Itaúna, às guardas de congo, sustentadas pelos congadeiros por 365 dias do ano e que fazem a mais bela festa de Itaúna nos meses de agosto: o Reinado de Nossa Senhora do Rosário!

Coroados no quartel do Sr. Vandeir,compresenças ilustres 

     O Rei Congo Dilermando começa sua fala à reportagem contando que em 1983 ele e sua mãe foram coroados, respectivamente, Rei Congo e Rainha Conga de Itaúna. “No quartel do Sr. Vandeir Camargos, capitão falecido. Fomos coroados em 1983 com a presença do Sr. Vico, falecido, que antigamente era Capitão-Mor e da dona Sãozinha”, contou ele. Sobre a sua participação no Reinado, enquanto Rei, Dilermando afirma que “sou Rei Congo de Itaúna, de todas as guardas. Meu papel é ficar firme em oração pelos nossos irmãos do Rosário”, disse.

Sobre a sua atuação na Igreja Católica, ele afirma que “atuo na igreja que eles falam, ‘de baixo’, pois morei na comunidade há 18 anos. Já fui ministro extraordinário da Eucaristia e, assim, ajudo sempre. Hoje faço parte do Conselho Paroquial”. Lembrado o seu início no Congado, ainda menino, ele afirma que “meu início foi ouvindo um pouco de cada pessoa. Aprendi a gostar, aí então resolvi participar. O convite chegou pela Josefina, Vandeir, João Criolinho da Irmandade 7 Guardas”, lembrando que sua entrada no Reinado de Itaúna se deu pelas mãos de pessoas reconhecidas na irmandade de Nossa senhora do Rosário.

Dilermando não tem a menor dúvida, não faz o menor rodeio em afirmar que “o Reinado de Nossa Senhora do Rosário é a minha vida! Quando perguntado sobre a significação daquela irmandade para ele. Ele adianta que faz questão de encaminhar todos da sua família para o Reinado. “Meus familiares, todos, são envolvidos na festa. Na casa da minha mãe, realizamos cafés, almoços, jantas, feitos por eles”, para o fortalecimento do Reinado de Itaúna.

O Reinado de Itaúna hoje, as diferenças,as necessidades... 

Sobre a participação das crianças no Reinado, na sua visão, ele destaca que é importante trazer os pequenos para a cultura do Reinado. “Nossas crianças são o futuro do nosso Brasil.... Devagar vamos chegar lá. Sempre é bom puxar eles para nós. Minha preocupação é deixar sucessores para nós e não deixar a tradição acabar” comenta. Em relação às diferenças da Festa do Reinado, de antes e de agora, ele deixa um ensinamento: “Totalmente diferente. Hoje temos tecnologias que atrapalham, mas que ajudam a nossa festa. Antigamente corríamos atrás de tudo e quando chegava o dia de louvar era gratificante”, relembra, para afirmar que é preciso conviver com as novidades, sem abrir mão da tradição.

Para que a Festa do Reinado de Itaúna tenha mais visibilidade e, consequentemente, mais apoio do poder público, ele aponta a receita: “Teríamos que ter membros da festa dentro da Secretaria de Cultura. A meu ver, a Secretaria de Cultura teria que ter membros de cada seguimento cultural da cidade”, isso para que cada seguimento esteja realmente representado na estrutura. Com isso, na opinião de Dilermando, o Reinado poderia ser beneficiado e fortalecido. “Fazer Reinado em 3 meses, não conseguimos e nem eles conseguem entender o que realmente é a festa, que é mais que isso, é tradição, é cultura”, ensina.

E Dilermando conclui a conversa com a reportagem falando de um sonho: o Museu do Reinado de Itaúna. Material para isso tem de sobra. O que falta é a chamada vontade política. E Dilermando afirma que a instalação deste Museu do Reinado “seria maravilhoso, mas infelizmente este museu não existe”. E fala da contribuição que dá à perpetuação da história, da cultura da festa: “Eu, como Rei Congo, tenho a minha parcela a contribuir, fazendo o trabalho, contando um pouco da nossa história”. Falta agora a outra parte. De quem tem a máquina e as condições para tanto.

Mas, apesar da falta de apoio real, não só aquele apoio momentâneo, quase “de obrigação”, a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário de Itaúna começou no dia 1º de agosto quando as bandeiras foram içadas aos mastros, as caixas já estão ressoando o som típico da festa e as guardas de congado, todas elas, de fardamento preparado, fazendo a festa, que tem seu dia na próxima terça-feira, dia 15, o Dia da Nossa Senhora do Rosário, porque o que importa mesmo é a fé... Fé em Nossa Senhora e em todos os Santos do Reinado!