Prefeito insiste em dar R$ 26 milhões à Viasul

Prefeito convoca extraordinária para a tardinha da sexta-feira e pede aprovação de repasse de subsídio, além de autorização para mais um empréstimo de R$ 76 milhões

Prefeito insiste em dar R$ 26 milhões à Viasul


No final da tarde da quinta-feira, 7, foi anunciado na Câmara a convocação de uma reunião extraordinária, marcada para ter início às 17 horas da sexta-feira, dia 8. Na pauta da reunião dois projetos muito polêmicos a serem debatidos: a concessão de subsídio no valor de R$ 26,2 milhões para a empresa Viasul, responsável pelo transporte urbano do município, e a autorização de empréstimo no valor de mais de R$ 76 milhões, que serão destinados para a realização de obras de enfrentamento às enchentes na Avenida Jove Soares. O motivo de a reunião ser marcada para iniciar às 17h tem algumas explicações, dentre elas a dificuldade de se articular a presença de populares para este horário, já no final de semana. A dificuldade aumenta até pelo fato de a informação de convocação ter sido divulgada na quinta-feira, à tarde. Outro fator é que, aprovando, não dá tempo de parte da imprensa divulgar o fato, já que as edições dos jornais, na sua maioria, deverão estar fechadas. E outro fator é que, assim, se ganha tempo para amenizar possíveis manifestações contrárias, que perderiam “fôlego”, durante o final de semana.

A insistência para o repasse dos R$ 26,2 milhões à Viasul, porém, continua a receber oposição, por vários motivos. O valor, como afirmou um político à reportagem, seria o suficiente para bancar nada menos do que 52 mil consultas de médico especialista em clínicas particulares, para se ter uma noção. Em comparação ao orçamento do Município, por exemplo, o valor é maior do que será destinado à maioria das secretarias. A Secretaria de Assistência Social, que é dirigida pela esposa do advogado da Viasul, por exemplo, tem orçamento para 2024 no valor de R$ 20 milhões. Somadas as secretarias de Cultura (R$ 9.6 milhões) e de Esportes (R$ 7.6 milhões), dá pouco mais de R$ 17 milhões, ou seja, fica R$ 9 milhões “mais barato” que o subsídio da Viasul que o prefeito pretende pagar. E concluindo as comparações, os R$ 26 milhões seriam suficientes para pagar a dívida do Hospital, duas vezes. 

O custo da Câmara, com toda a sua estrutura, acrescida do CAC e da Escola do Legislativo, 17 vereadores e seus 34 assessores, está previsto em R$ 15 milhões e o Legislativo ainda devolve parte desse dinheiro ao final do ano. O orçamento do SAAE, para todo o trabalho voltado para saneamento (água, esgoto, lixo, captação pluvial) é de R$ 45 milhões, o que indica que o subsídio da Viasul é de mais da metade deste valor. E as comparações poderiam seguir sendo feitas, já que somente com esta empresa a Prefeitura pretende investir cerca de 5% de tudo que deve arrecadar em 2024. E isso para custear apenas parte do valor da passagem, que continuará muito alto, já que na proposta do prefeito, mesmo com o subsídio, cada itaunense deverá pagar R$ 5 por passagem.

Projeto dá aumento de 11% no valor da passagem

Na primeira proposta de repasse do subsídio para a Viasul, a Prefeitura garantia que a passagem de ônibus em Itaúna retornaria aos R$ 4,50 e não teria reajuste até o final de 2024. Essa proposta foi feita em final de agosto. Como os vereadores se negaram a aprovar o repasse, foi concedido aumento no valor da passagem, que passou a R$ 6,50 a partir do dia 4 de setembro. 

Agora, três meses depois, a proposta de repasse do subsídio volta à Câmara, só que com um aumento na passagem, “embutido”. Com a aprovação, o valor da passagem cai para R$ 5 e não mais R$ 4.50. Desta forma, está sendo concedido um aumento de 11.11% no valor da passagem, além de mais R$ 26.2 milhões 

Presidente e vice ‘peitam’ prefeito e cancelam reunião

Neider insistiu até o último instante, mesmo sabendo que só tinha 5 votos favoráveis

Pouco antes das 16h30 de ontem, sexta-feira, dia 8, foi informado aos vereadores presentes que a reunião da Câmara convocada em caráter extraordinário para votar dois projetos de autoria do prefeito Neider havia sido cancelada. Na contagem da situação, a informação era de que o prefeito contava com apenas 5 votos a favor da concessão do subsídio para a Viasul. Já para a aprovação do empréstimo de R$ 76 milhões, nos bastidores se falava em até 7 votos a favor. Com o quórum completo, seriam necessários 8 votos nas duas matérias.

Derrotado por antecedência, conforme as afirmações de vereadores que disseram que votariam contra, Neider insistiu. Aí coube ao presidente da Câmara, Nesval Júnior, e ao vice-presidente, Alexandre Campos, “peitarem” o prefeito e cancelarem o encontro extraordinário, como oportunidade final para os ânimos não se acirrarem ainda mais. Agora, conforme bastidores, a ameaça do prefeito é de retirar 18 ônibus de circulação na segunda-feira, 11, e demitir servidores indicados pelos vereadores, em retaliação. Resta saber se ele estará disposto a correr risco até mesmo de cassação, ao concordar com o não cumprimento de um contrato (na medida em que concordar com as decisões da empresa de transporte público em não cumprir com o contrato assinado com a Prefeitura pode caracterizar peculato). E, demitindo servidores indicados pelos edis, pode materializar provas de compra de votos na Câmara. Quem se arrisca mais?