GAMBIARRA OFICIAL - Prefeitura inaugura “obra inacabada”

Reservatório inaugurado neste sábado é apenas parte do contrato feito de R$ 10 milhões tomados emprestados

GAMBIARRA OFICIAL - Prefeitura inaugura  “obra inacabada”
Obras da Casa de Bombas que começou a ser construída e foi abandonada, no SAAE/Foto: Reprodução


A Prefeitura divulgou convite para a inauguração do “Reservatório Márcio Faria Campos, localizado no alto da pedreira do Monte Moriá, entre os bairros Morada Nova e Morro do Sol”, conforme texto da divulgação. “A obra irá beneficiar diretamente mais de 45 mil pessoas. Um investimento de mais de 10 milhões de reais”, completa. O problema é que a obra está sendo contestada por funcionários do SAAE que enviaram e-mail, de forma anônima, à redação do jornal, explicando que na verdade está sendo inaugurada “uma gambiarra”. E lembra o que foi proposto, contratado, e o que está sendo inaugurado.

Conforme os termos apontados, a licitação da obra contratou a construção de um reservatório (caixa d’água), no valor de R$ 2 milhões, e mais a construção da rede de distribuição e da “casa de bombas” (elevatória), num total de R$ 8 milhões. Assim a obra “de mais de R$ 10 milhões” está sendo entregue incompleta. Conforme a denúncia, foi construído apenas o reservatório e a rede de distribuição. Já a casa de bombas, que seria necessária para mandar a água até o reservatório inaugurado, não foi concluída, está abandonada na sede do SAAE e tem a contestação, inclusive, da necessidade de sua construção.

Gambiara com reservatório do Boulevard

A obra completa foi idealizada para solucionar o problema de falta de água na região oeste da cidade, que compreende os bairros Morada Nova, Cidade Nova e região, com uma população estimada de 45 mil pessoas, ou seja, metade da população itaunense. Como essa é a região que mais cresceu em Itaúna, vem faltando abastecimento de água constantemente nos últimos anos e a obra seria a solução para o problema. Seria, porque a rede que foi construída para abastecer o reservatório necessita da estação elevatória, que não foi construída, denunciam os servidores. 

E para sanar o problema imediato, foi feita “uma gambiarra”, “um puxadinho”, levando água do reservatório do Boulevard, com capacidade para 2,5 milhões de litros de água, para abastecer o reservatório de 3,5 milhões de litros, que está sendo inaugurado. “O problema”, apontam, “é que, quando o Boulevard estiver habitado, não será possível desviar a água do reservatório deste bairro para o que está sendo inaugurado. Aí, o problema do desabastecimento vai continuar. Gastaram mais de R$ 10 milhões para um puxadinho que não resolve nada”, denunciam.

“Empreiteira fez só a parte mais fácil”

 Conforme a denúncia, a empreiteira contratada na licitação fez a parte mais fácil da obra, que foi a montagem do reservatório (pois ele não teria sido construído, mas montado...) e a instalação da rede. Quando o serviço ficou “mais difícil” – e talvez, mais caro –, que seria a construção da estação elevatória, necessária segundo o projeto para a construção do sistema anunciado, a empreiteira abandonou o serviço e deixou a obra inacabada.

Além do caso da “gambiarra”, para a qual os servidores pedem a fiscalização da Câmara e até mesmo do Ministério Público, o e-mail enviado ao jornal trata de uma série de outras denúncias, em torno do que chamam de “sucateamento do SAAE”. E, para concluir as denúncias, encaminharam uma série de perguntas para serem respondidas pelo SAAE e, quem sabe, pela Administração, e para que sejam fiscalizadas: 

“1 – Não precisa da casa de bombas que está (inacabada) no SAAE? 2 – Quem paga este desperdício de dinheiro público? 3 – A solução encontrada para a inauguração não poderia ter sido feita antes? 4 – Os técnicos do SAAE foram consultados? Se sim quais? 5 – Tem projeto para esta ligação de água entre os reservatórios dos bairros Boulevard e Morada Nova? 6 – Quem é o responsável técnico pelo projeto da licitação? 7 – Quem é o responsável técnico por esta solução alternativa? 8 – Ele participou do projeto original? Pois não precisava de gastar R$ 10 milhões para reservatório, rede e bombas. Podia ser somente o reservatório. 9 – Quem ganhou com a licitação de 8 milhões? Servidores consultados disseram que não precisaria de outra casa de bombas e esta rede que nem está sendo usada. 10 – Quando a obra ficará completa? Ou vai deixar o SAAE com mais esta obra inacabada junto do sucateamento de máquinas, caminhões, edificações e ferramentas? 11 – Para finalizar, cadê o cronograma da obra que deveria ser seguido à risca?”. 

Em anexo, encaminharam várias fotos da obra da casa de bombas inacabada. E concluíram com um convite: “Vão até o reservatório do bairro Boulevard. Estivemos lá, a ligação entre reservatórios existe e foi confirmada por servidores”. Ficam as perguntas para quem se habilitar a respondê-las, ou averiguar o que está sendo denunciado.