FALTA VONTADE? - Roubos de fiação: prejuízo próximo de R$ 1 milhão em 2025

FALTA VONTADE? - Roubos de fiação: prejuízo  próximo de R$ 1 milhão em 2025

Diariamente, acontecem furtos/roubos de cabos da fiação elétrica em Itaúna sem que uma medida efetiva por parte das autoridades seja tomada. Neste ano, conforme levantamento de técnicos e empresários que foram vítimas do crime, o prejuízo já chega à casa de um milhão de reais. Somente nos últimos dias, conforme reclamações chegadas à redação, o prejuízo para as vítimas alcança em torno de R$ 150 mil. Em um mesmo prédio, nesta semana, dois furtos foram registrados e o prejuízo contabilizado é de mais de R$ 15 mil. Nesse prédio, bandidos levaram fiação em ação criminosa registrada entre segunda e terça-feira, repetindo o ato entre quinta e sexta-feira. O prédio fica na região central, na Avenida São João, próximo do pontilhão.

Outros casos foram registrados na área central, mas os bairros também têm sido atacados. As construções em andamento são alvo predileto dos bandidos, mas todo e qualquer imóvel está sob risco, visto que os crimes são registrados, mas ações efetivas não acontecem. Nos últimos dias, a reportagem da FOLHA recebeu inúmeras reclamações de pessoas que não sabem mais a quem recorrer, visto que todas as instâncias oficiais, como polícia, vereadores, prefeitura e outros órgãos, têm sido procurados sem um retorno que possa dar fim ao problema.

“Polícia sabe quem compra!”

Essa é a afirmação feita à reportagem por uma vítima desse tipo de furto, que disse que a Polícia Civil tem registros de pessoas que vivem do comércio de sucatas e que adquirem estes produtos fruto de ações criminosas. “Mas nada é feito. Já chegaram até a autuar em alguns casos, mas a punição não acontece e o crime continua sendo praticado”, desabafou.

Outro reclamante afirmou que também a PM tem registros de locais onde os ladrões negociam o produto dos furtos, mas que, conforme um policial que não está mais na ativa lhe disse, “não adianta ir lá, prender, porque a pessoa sai antes mesmo da equipe policial acabar de fazer o registro na delegacia”. 

Um militar reformado, inclusive, chegou a afirmar à reportagem que teria sido convidado para retomar as atividades no policiamento, porém declinou do convite porque estava cansado de agir, correr riscos, prender os bandidos e no outro dia deparar com o elemento, solto, praticando os mesmos tipos de crimes. “Ou até coisa pior, ao ver que não existe punição da justiça”, completou.

Polícia prende, Justiça solta...

Essa facilidade apontada por reclamantes, que permite ao bandido sair livre antes mesmo de que a ocorrência seja registrada, torna a situação ainda mais caótica. “É como enxugar gelo”, comparou um cidadão. Outro aponta a ação de profissionais que se especializam em soltar os presos, inclusive,instruindo o malfeitor de como agir, quando é detido, conforme o desabafo. 

São muitos os senões e poucos os atos efetivos de combate, conforme alegam. “Outro dia eu presenciei um ladrão que recitou todos os artigos do código penal que o beneficiavam, para que não fosse preso, mesmo tendo sido pego em flagrante. Eles sabem todos os direitos que têm, então fica difícil para o policial agir”, afirmou outro cidadão.

Mas a polícia também não atua como devia

E se tem as pessoas que apontam os problemas para que a polícia atue, outras alegações apresentam as muitas falhas do policiamento: falta de rondas ostensivas no período noturno, policiamento mais presente nas ruas... Nesses dois casos, conforme alega um cidadão, a desculpa não pode ser falta de combustível, pois o município é que arca com o maior volume dele. Falta de veículo, também não, pois é comum a informação de aquisição de viaturas e equipamentos, com verbas públicas, de vereadores, deputados e até senadores.

Também não aceitam a alegação da falta de policiais, visto que, apontam, o número de militares atuando em trabalhos burocráticos é enorme e isso, sim, é que faz diminuir o número de policiais nas ruas. Muitos trabalhos que podem ser feitos por civis, são realizados por militares, por isso faltam policiais nas ruas, reclamam.

Atendimento no 190 burocrático e demorado

Uma das maiores reclamações dos cidadãos nos últimos meses está no atendimento pelo número 190. Conforme reclamantes, “parece que tudo funciona a partir de uma central, que recebe todas as reclamações e sai filtrando as ligações”, disse um cidadão. A reportagem apurou, porém, que a atuação é regionalizada, na maioria dos municípios. Assim, a demora no atendimento é aumentada.

Uma cidadã explicou como foi o chamado à polícia, recente, denunciando o furto de fiação na porta do seu prédio: “liguei no 190 e descobri que o atendente estava em outra cidade, pois a primeira pergunta que ele fez foi ‘de qual cidade você está falando?’. Depois disso, tive que dar uma série de detalhes, a roupa que os bandidos usavam, a aparência deles, um ponto de referência de onde acontecia o furto... ao final o atendente disse que ‘estamos acionando a equipe’. Enquanto isso, os ladrões – eram dois – foram retirando os fios. Depois, juntaram o que conseguiram retirar e foram embora. Uns 15 minutos depois, a viatura chegou. Aí, tive que repetir as informações todas – enquanto os bandidos seguiam seu caminho. Mais uma meia hora e os militares iniciaram as diligências. Isso de madrugada. Pronto”.

Esse relato da cidadã demonstra o quão burocrático é o atendimento e o quanto desolador é o resultado. Se na hora que ela ligou, o atendimento fosse em Itaúna e tivesse apenas que repassar o endereço do roubo e a equipe tivesse sido acionada, em seguida, certamente os ladrões teriam sido pegos em flagrante e talvez nem conseguissem retirar os fios. Mas não, enquanto a denunciante repassava um arrazoado de informações, os bandidos agiram, e foram embora. Outra reclamação é quanto aos “pontos fixos” de patrulha. Conforme reclamantes, “policiais fixam ponto em alguns locais, como em postos de combustíveis e lá ficam por horas. Enquanto isso, os bandidos andam, vasculham as oportunidades e agem”. 

Preocupação com as estatísticas

Também foi questionado à reportagem o excesso de dados estatísticos que a polícia mineira tem tornado públicos, sendo que os casos de furtos, roubos e outros crimes não diminuem. “Hoje, a polícia atua, parece, condicionada a fazer registros que favorecem esses dados estatísticos. Depois, divulgam que a violência diminuiu, que houve queda nos casos, mas na verdade o que se vê é que o que mudou foi a maneira de abordar o caso. O que era tentativa de homicídio, vira agressão... o que era assalto, vira furto... aí os índices caem, mas o que houve mesmo foi a mudança no relato do ocorrido...”, desabafou outro reclamante.

Políticos “lavam as mãos...”.

Outro questionamento em relação a esses casos é referente à atitude dos políticos. Na hora dos discursos, de postar mensagens nas redes sociais, eles são espetaculares, mas no momento de propor leis que mudem a situação, são uma verdadeira negação. Os políticos pelo lado Executivo investem muito na fiscalização de trânsito, que gera receita, com as multas, e pouco na garantia da segurança.

Pelo lado Legislativo, fazem muito discurso e quase não atuam. Exemplo de leis que podem pelo menos inibir a ação desses bandidos tem de sobra. Basta fazer uma pesquisa na internet que vão encontrar modelos de legislação que, por exemplo, aumenta a fiscalização junto aos sucateiros, ou que ampliam a punição a esse tipo de crime. Mas preferem se preocupar com pautas que pouco interessam à maioria da população.

Enquanto tiver mercado, a fiação continuará a ser furtada

As autoridades poderiam agir mais ativamente na inibição do comércio de materiais como o cobre, por exemplo. Com isso, atacaria a principal causa da ocorrência dos furtos, que é o mercado que existe para adquirir a fiação. Se reduzir as facilidades para o ladrão vender o produto furtado, vai diminuir o furto, porque “o ladrão não age por esporte, mas para obter dinheiro para se sustentar os seus vícios”, ironiza um reclamante.

E, como as autoridades, os setores que deveriam atuar na questão ficam omissas, a população procura a imprensa. E a FOLHA cumpre a sua função. Resta, agora, que as polícias, os políticos, os responsáveis, pelo combate ao crime atuem... Apenas isso. Atuar, cumprir com as suas responsabilidades.