Falta planejamento, no mínimo...
Enchentes que incomodam e trazem prejuízos a comerciantes; esgoto que voltou a cair no rio e nos ribeirões; falta de água nas torneiras de grande parte da população; aumento desenfreado de pessoas nas ruas da cidade, em situação de penúria, ‘morando’ embaixo de marquises, debaixo de pontes e nas praças públicas; passagem de ônibus caríssima por falta de um “subsídio” que beneficie a empresa concessionária do transporte (sem que estejam garantidas melhorias efetivas para os usuários, diga-se); instalações de ‘pardais’ que multam à rodo e implantação de ciclovia em meio à pista de uma avenida, logo depois apagada, e o trânsito se mantendo confuso em toda a cidade, mais do que antes e pior do que já estava; falhas gritantes no atendimento público de saúde, mesmo que o poder público continue investindo alto no setor; aumento da sujeira nas ruas, apesar de a cidade já ter sido considerada exemplo em coleta de resíduos para todo o País... Esses são apenas alguns dos problemas por que passa o nosso município que não apresenta um planejamento administrativo capaz de dar solução eficiente aos problemas que se apresentam a serem solucionados. E aí me vem à memória a afirmativa de um candidato, em 2016: “falta com-pe-tên-ci-a, falta ca-pa-ci-da-de, é preciso ter pla-ne-ja-men-to!” Assim mesmo, com ênfase na separação das sílabas, para talvez ampliar a crítica. Parece até que falava à época, de um futuro que vivenciamos hoje. Com toda certeza, falta planejamento administrativo, já que o foco administrativo de Itaúna tem sido em asfaltar vias com recursos conseguidos por vereadores junto a seus deputados-parceiros e também com recursos obtidos a partir de empréstimos contraídos pelo município (aprovados na Câmara) junto a entidades bancárias que, com certeza, comprometerão orçamentos vindouros.
E as alegações para se dar resposta a problemas que surgem passam sempre pelo custo financeiro das medidas necessárias, sem quaisquer opções que não sejam “me deem o dinheiro necessário que apresento a solução”. E, às vezes, mesmo com o dinheiro, as soluções não vêm. Veja, por exemplo, a questão da saúde. Em 2023, conforme o orçamento aprovado para este ano, a Prefeitura vai gastar cerca de R$ 1,5 mil por cidadão. Se considerarmos que o número de pessoas que necessita de atendimento médico junto ao serviço público, ao ano, não é o total da população, esse valor pode oferecer serviço de melhor qualidade, mas não é o que acontece. Outra questão que mostra bem essa falta de planejamento, pelo menos, está na limpeza do rio e ribeirões: ao decidir que seria feita a limpeza, não se avaliou que existia uma rede de captação de esgoto nas margens destes cursos d´água e, com isso, acabaram por estourar grande parte dela. Aí me vêm as alegações de que “não foi feita manutenção na rede do projeto Somma”. Se esqueceram de que estão no comando da cidade há pelo menos seis anos? Se alguém tivesse lido a documentação relativa ao citado projeto, ou mesmo o Plano Municipal de Saneamento Básico, veria que está lá, a necessidade de se fazer manutenções na rede... Isso sem questionar o fato de que para realizar a limpeza do leito do rio e ribeirões, uma medida básica seria ter cuidado com as redes de captação existentes ao longo deles e que todo itaunense sabe da existência. Faltou cuidado. Se tivessem se preparado para fazer a limpeza das margens dos cursos d´água com o planejamento necessário, veriam que os riscos eram grandes e que seria necessário respeitar o mapeamento da rede para não destruí-la, como aconteceu em vários pontos. Isso, sem falar que a retirada da vegetação considerada “não apropriada” por alguns técnicos municipais, poderia causar aumento do assoreamento, já que não existe mais ‘defesa’ para segurar o lixo que corre junto com as enxurradas e o muito barro proveniente de terra revolvida. Mas parece que isso não foi avaliado antes de se realizar a obra.
Também é necessário saber que a pavimentação de ruas em larga escala, sem a instalação de redes de captação pluvial apropriada, aumenta o volume de água na superfície e causa alagamentos, enchentes. Não avaliaram esse ponto e não se vê uma proposta exequível, que não custe montanhas de dinheiro, sendo apresentada. Bacias de contenção, incentivo ao aproveitamento das águas de chuvas, por exemplo, “são coisas simples”, e simplicidade não é a tônica do pessoal no comando. O negócio é projeto de R$ 80 milhões, viaduto com três pistas, ciclovia no meio da avenida... sem esquecer daquela fala de que o cidadão itaunense ia passar a acompanhar o movimento dos ônibus pelo celular, sabendo quando exatamente ele estaria passando pelo ponto desejado, “via internet”, que nunca se efetivou. Ou a modernidade do estacionamento rotativo digital, que levaria “Itaúna anos à frente de outras cidades”. A empresa contratada abandonou o “avanço digitalizado”. E parece também que calçar o Morro do Bonfim dá mais visibilidade do que instalar uma bomba para levar a água até o reservatório R7, inaugurado com pompas, mas com a “casa de máquinas” que o abasteceria ainda por fazer...
Enquanto isso, como exemplo, Pará de Minas, aqui do lado, trabalha com planejamento estabelecido para o seu desenvolvimento, como o “Pará de Minas 4.0”, que o poder público daquela cidade desenvolve, visando uma cidade melhor em 2059, quando completará 200 anos de emancipação político-administrativa. Interessante o planejamento que tem transformado a cidade em polo da indústria da defesa e segurança, um mercado que movimenta bilhões de reais por ano. Em Itatiaiuçu – também ‘logo ali –, o projeto “Itatiaiuçu Conecta” busca alternativas para o município que tem hoje a dependência do setor da mineração, mas sabe que esse produto tende a acabar. Assim, o poder público projetou alternativas de diversificação de sua economia, com planejamento para o futuro.
E aí cabe a pergunta: o que Itaúna faz para projetar seu futuro? Nos tempos atuais, o que se vê são as constantes críticas a governos passados, como se estes continuassem à frente da administração, e afirmações de que o viaduto “é uma obra de R$ 30 milhões”, o problema das enchentes é para se resolver com “R$ 80 milhões”. Para a recuperação dos interceptores do Somma são necessários “R$ 7 milhões”, para a passagem não aumentar “temos de repassar R$ 26 milhões de subsídios”. Ou seja, tudo se resume à necessidade de recursos financeiros. Mas quando se consegue a liberação para empréstimos, para obtenção destes recursos, constrói-se um reservatório sem instalar a casa de máquinas que vai levar água até aquele local; conclui-se uma ETE, mas estoura a rede de captação do esgoto; e faz asfalto, muito asfalto. Aí vêm as chuvas e estouram o asfalto todo, porque não teve uma rede de captação pluvial adequada para escoar a água do local. Então, é necessário lembrar que “falta pla-ne-ja-men-to, no mínimo!” E no outro lado do poder, a discussão fixa em questões ideológicas, como banheiros unissex e a sobreposição do interesse individual sobre o coletivo...
* Jornalista profissional, especialista em Comunicação Pública e Marketing Político, pós-graduado em Gestão em Processos de Produção Gráfica e membro da Academia Itaunense de Letras – AILE.