Fábio Scorza, o raro

Fábio Scorza, o raro


Ao final das últimas eleições sucedeu-se uma semana de lamber feridas e curar ressaca moral. Foi quando recebi uma notícia triste. Ver o país dividido entre duas vertentes abomináveis, me trouxe sentimentos insuficientes para encarar o futuro que chega rápido e que vai exigir, percebamos ou não, clareza e coragem de todos nós. Curiosamente, essas eram qualidades de um itaunense destemido, ausente dessa terra há muito tempo, com grande prejuízo para a cidade e que se foi de vez.   

Falo da passagem do agitador da cultura e provocador social Fábio Scorza. Fabinho deixou Itaúna pela segunda vez, a primeira há décadas, depois de muitos carnavais e de atuar no departamento de Cultura da PMI.

Pessoa de enorme inteligência e discurso afiado, desde menino, Fabinho já era respeitado e admirado até por seus adversários, mesmo que secretamente. 

Artista plástico de muito talento e nenhuma disciplina, Fábio acabou expressando a sua genialidade (e quando se fala nele, expressar-se é como o discurso de um vulcão) através da culinária, com um desempenho extraordinário.

Seguem alguns pensamentos poéticos do Fabinho ou Fábio Scorza, por ele mesmo.

Precisamos de algumas pessoas malucas, vejam só para onde as pessoas normais nos levaram. 

Sou cozinheiro porque gosto de fogo. Também!

Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais. Não me venha com fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.

A vida pode não ser a festa que esperávamos, mas, enquanto estamos por aqui, dançar é uma ótima pedida.

Ajustando. Aprimorando. Quase Pronto. A perfeição é para mim impossível. Mas esta busca me mantém conectado com minha Arte. Estar vivo.

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir

Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir

E pelo grito demente que nos ajuda a fugir

Deus lhe pague.

A tragédia em cena já não me basta. Quero transportá-la para minha vida. Eu represento totalmente a minha vida. Onde as pessoas procuram criar obras de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito. Não concebo uma obra de arte dissociada da vida.

Todo dia a insônia

Me convence que o céu

Faz tudo ficar infinito

E que a solidão

É pretensão de quem fica

Escondido fazendo fita

Se existe um Paraiso, é lá que o Fabinho está, porque é o lugar dos autênticos. Fica em paz, meu amigo! 

Itaúna, outubro de 2022