Evasivas, mas com certo sentido...

Evasivas,  mas com certo sentido...


Insistência ou apenas um cálculo programado para “sentir a temperatura” no ambiente do Legislativo para acolher e votar a matéria de seu interesse? Essa é a pergunta que faço desde ontem, quando fui informado de que o Senhor Prefeito havia enviado dois projetos para votação em regime de urgência e o presidente da Câmara convocou, no apagar das luzes da quinta-feira, dia 7, às 17 e 11 minutos, os vereadores para a reunião extraordinária de ontem, sexta-feira, dia 8. Reunião que foi marcada para as 17 horas, ou seja, propositalmente, para tentar evitar a cobertura da imprensa e levar menos gente possível ao plenário. Tudo milimetricamente calculado pelo alcaide e seus asseclas. Não adiantou, pois, apesar das explicações evasivas, a maioria dos vereadores não concordaram com a forma que o gabinete do prefeito conduziu as coisas e muito menos com a aglutinação de duas matérias polêmicas para a mesma reunião. 

É lógico que o Senhor Prefeito calculou tudo milimetricamente e/ou já tinha a certeza de que os projetos passariam ou apenas quis testar e sentir a reação dos vereadores em relação aos dois assuntos. Em relação ao projeto que destina R$ 26 milhões para a empresa de transportes urbano Via Sul, o alcaide já sabe das reações, dos posicionamentos e também como as opiniões de alguns vereadores já mudaram. Ou seja, ele sabe que a possibilidade de obter a aprovação vem aumentando e que pode acontecer de não precisar sequer negociar, mas, pelo que estamos sabendo, as pressões também continuam, pois as ameaças de demitir os funcionários que foram indicados pelos vereadores que estão resistindo estão sendo feitas e muito provavelmente os ocupantes dos “cargos negociados” serão mesmo demitidos nos próximos dias. Informações indicam que o Senhor Prefeito trabalha com a possibilidade de “construir” um novo grupo de apoio, inclusive na Câmara, visando as eleições para prefeito. Está tudo muito bem articulado e o jogo será, diríamos, bem jogado. 

Quanto à questão do projeto que pede autorização para a contratação de financiamento e operações de crédito da ordem de R$ 76 milhões para a execução de obras na Avenida Jove Soares e que denominaram: “execução de empreendimentos integrantes do plano de controle de inundações da Bacia do Córrego do Sumidouro”, e que se resume em obras de alargamento do canal da Jove Soares, o que temos a dizer é que o prefeito tentou sensibilizar os vereadores ou, mais que isso, tentou colocá-los “contra a parede”. Pois, assim, pelo menos dois ou três oposicionistas de “carteirinha” já demonstraram que votariam favoráveis ao projeto que busca recursos para as obras na Jove Soares, mas são contra os recursos para a Via Sul. Então um pode passar e o outro não, ou então não passa nenhum dos dois, conforme manifestações.

Em nosso entendimento, o que o Senhor Prefeito está fazendo é tentar ficar livre da questão da Jove Soares, pois amanhã, quando ocorrer o próximo alagamento, pois vai ocorrer, ele vem a público e diz que tentou recursos para as obras e que a Câmara não autorizou o empréstimo. Quanto à questão da Via Sul, a justificativa do Senhor Prefeito, quando precisar aumentar a passagem, vai ser sempre a questão da Covid. Um vereador já nos informou que nas próximas semanas vários ônibus serão retirados de circulação, cerca de 18 veículos. Ou seja, vão diminuir os horários e o passageiro, o cidadão, é que vai literalmente “pagar o pato”. Ou seja, é um problema que não só os vereadores, mas também a Justiça deve ficar de olho, principalmente o Ministério Público, pois a empresa, independente de defasagem no período da Covid, de recursos não aprovados, tem que cumprir o contrato. O povo é que não pode pagar.

E como afirmado no editorial do dia 25 de novembro, continuamos com a opinião de que é preciso analisar o que está por trás da destinação deste recurso para a Via Sul, pois desconfiamos que há mais interesse de quem não está na empresa do que dela própria, pois, fazendo as contas do volume de passageiros e o valor atual da passagem, chega-se à conclusão de que o negócio é altamente lucrativo e os supostos prejuízos do período da Covid, que podem mesmo ter ocorrido, já foram superados. Além disso, somente diminuíram os lucros nos meses reclamados. Continuamos com a mesma opinião já expressada em outros editoriais.      

E como já prevíamos em outros editoriais nas semanas anteriores, as conversas nos bastidores do gabinete do prefeito e nos corredores e gabinetes dos vereadores se intensificaram nas últimas semanas e tudo indicava que o projeto dos 26 milhões de reais voltaria mesmo a plenário a qualquer momento, pois o projeto tem que ser votado este ano. Assim o prefeito vem trabalhando nos bastidores e, ao que parece, já “ajeitou” a situação com alguns vereadores. 

E sinceramente acho que essa situação deve mesmo ser resolvida de uma vez por todas, desde que os recursos, em sua totalidade, sejam revertidos em prol dos usuários. Repetimos: basta os vereadores exigirem que o dinheiro seja em prol de melhorias no serviço do transporte coletivo, com a aquisição de ônibus novos com ar-condicionado, guaritas decentes e modernas e com indicativos eletrônicos de horários e itinerários, dentre outros. E, além disso, os nossos representantes no Legislativo precisam exigir também um compromisso a curto prazo para que um terminal para coletivos, mesmo que provisório, mas com um mínimo de conforto, seja feito na nossa principal praça, na Dr. Augusto.

Então essa é a nossa opinião sobre a questão recursos para a ViaSul. E, sinceramente, como afirmado em outras oportunidades. E mais, o prefeito, que deve estar em situação difícil com a empresa, quer “lavar as mãos”. E desta vez, muito provavelmente, está jogando ou está muito seguro de que está tudo negociado. Os vereadores ouvidos dizem que não. E caso esse assunto não seja resolvido da melhor forma, no próximo ano, já nas primeiras semanas, teremos mais um aumento de passagem. Repetindo: agora é aguardar as cenas dos próximos capítulos e ouvir as conversas e posicionamentos “para inglês ver”, porque a insistência em aprovar os milhões é grande e nos leva a refletir, tentar entender e concluir que há mais poeira por debaixo do tapete do que imaginamos...