É preciso aprovar o Cheque-Viasul

É preciso aprovar o Cheque-Viasul


Gritaram tarifa zero e bateram sem dó no pedido do prefeito. Isso ocorreu no fim de semana do dia dois de setembro deste ano. Naquele momento, alguns vereadores foram às ruas com cabos eleitorais levantar placas e gritar contra a autorização do orçamento para a Viasul. Na semana seguinte, houve quem, entre esses parlamentares, que criticou minha análise da situação. Disse que, de qualquer jeito, era um absurdo o prefeito pedir o Cheque-Viasul.

De lá para cá, é muito bom para o município ver que alguns vereadores, e vereadoras, mudaram de ideia e perceberam que o assunto é técnico. Não há espaço para se alimentar falação ideológica, do “eles contra nós”, de oprimidos e opressores. Em sincero cumprimento à sabia decisão de mudança de voto desses edis, replico a análise técnica que fiz naquele primeiro final de semana de setembro, então criticada por eles. Mas que agora pode auxilia-los a relembrarem os argumentos objetivos em favor do assunto.

A classe média da cidade corresponde aproximadamente a 55% da população, segundo o autor da célebre publicação demográfica “Itaúna em Dados” – Ângelo Braz de Matos. Essa classe média que contrata a maior parte dos usuários de ônibus dentro de Itaúna. É ela que paga o vale-transporte. De cada 10 usuários dos coletivos municipais, 9 estão se locomovendo entre o local de trabalho e suas casas: é o ato que as estatísticas chamam de “comutar”. A classe trabalhadora da cidade é a usuária, na prática. A classe média é quem depende do serviço e quem, no final, efetivamente tira do bolso o dinheiro que remunera a empresa de ônibus. A questão, portanto, é: se a empresa de ônibus não receber o dinheiro dos cofres da prefeitura e tiver que repassar isso para o valor da passagem, quem pagará a conta por necessidade? Se você respondeu que é a população mais pobre, você está equivocado. 

Lá na cláusula sexta, do contrato assinado pela administração municipal de 2016, está acordado no parágrafo segundo que qualquer alteração nos encargos e na receita da empresa de ônibus, poderá gerar a revisão do valor da passagem para mais ou para menos. Assim, se o atual prefeito e os vereadores não fizerem o subsídio de 26 milhões que está em pauta nesta semana, basta que todos se sentem e aguardem o aumento da passagem. Que por sua vez, será pago pela classe média que contrata mão de obra, a exemplo de empregadas domésticas, jardineiros, seguranças, comerciários etc. Vale lembrar que a classe alta da cidade, dona das grandes empresas, freta seus próprios ônibus para transportar funcionários. 

Dito isso, seria estupidez falar sobre o problema sem deixar claro a origem da solução. O dinheiro que o prefeito pediu aos vereadores para autorizar neste caso já pertence aos cofres do município. Não é um aumento da dívida pública, com juros a serem massacrantemente observados. Ou seja: chegamos ao ponto em que devemos perguntar a cerca de 55% da população economicamente ativa do município, que é quem precisa meter a mão no bolso para manter a empresa de ônibus servindo à cidade. É melhor aumentar seu gasto mensal com salário e vale-transporte de funcionários ou apoiar o uso do dinheiro de impostos que você já pagou e está no caixa da prefeitura para resolver a situação?

A votação está regimentalmente suspensa, mas possui solução na Câmara de Vereadores. Solução que na prática nem precisa de 8 dias. E buscar esta saída não me parece um capricho do prefeito. Tampouco, está relacionada apenas à diminuição de 50 centavos do preço da passagem. Basta olhar as planilhas. 

Nos últimos dias vi alguém fazendo a seguinte conta de padeiro. A pessoa multiplicou os 50 centavos de diminuição do preço da passagem pelo número de usuários. Chegou a um número menor do que os 16 milhões de reais em votação na Câmara. E se deu por satisfeita.

Tem hora que dá vontade de deixar a bomba explodir, só para ver qual será a reação de quem tentou usar assunto sério em época de ataques eleitorais. Mas, como neste caso, quem vai pagar a conta de um jeito ou de outro é a rotina de mais da metade da cidade, vale a pena ser mais criterioso e ignorar a espuma e o barulho de quem injetou postura de torcida de futebol neste assunto.

Segundo o contrato assinado em 2016, já sabemos que a empresa de ônibus não ficará com o prejuízo. Que será pago no aumento da passagem ou no dinheiro de imposto que já está arrecadado. Agora resta entender o cálculo do valor – afinal não vivemos numa economia planificada comunista, mas sim numa democracia capitalista. Além do custo daqueles 50 centavos, tem muita gente se esquecendo que existe um negócio chamado IPCA acumulado – o famoso dragão da inflação somado de 2016 para cá. O bichinho foi voraz neste período. Em 2021 e 2022, por exemplo, passou de 10% a ano. Isso quer dizer que o poder de compra do dinheiro usado para a empresa de ônibus colocar gasolina ou consertar um ônibus, por exemplo, diminuiu. Junto disso, o número de gente que usou ônibus depois que a pandemia começou caiu de tal forma que, até hoje, a quantidade de usuários é cerca de 25% menor. Um quarto da gente que andava de ônibus jogou o preço do transporte público da cidade nas mãos de quem voltou a comutar.

Dizem que papel e discurso de político aceita qualquer coisa. Contudo, na hora de fechar planilha, alguém pagará a conta. E será, de um jeito ou de outro, a classe média – motor econômico da cidade. Resta saber, dependendo do que os vereadores votarem, se ela pagará usando apenas os impostos que já foram recolhidos ou se também arcará com a conta à vista da irresponsabilidade eleitoreira que tem tentado ser protagonista a todo custo.