Django... O bloco do carnaval de 1968

Django... O bloco do carnaval de 1968


Foi no carnaval de 1968 que os amigos Raimundo Rabello, Osmando Pereira, Paulo Cuadô, Dreifus do Diriu, Reinaldo, Waguinho e Jeová Eustáquio, resolveram criar um bloco para brincar no carnaval de rua. Na época, um faroeste exibido no Cine Rex do Ricardo do Crispim, tipo bang-bang italiano, tinha feito muito sucesso e o grupo de foliões resolveu imitar o roteiro do filme nas ruas de Itaúna. O filme narrava a história de uma cidade sitiada por bandidos, que para escapar ao cerco, o Xerife simula um enterro, cujos acompanhantes, simulando choro e tristeza, carregam um caixão repleto de armas que, ao serem usadas, surpreendem os bandidos e eles conseguem escapar. No filme o cortejo fúnebre é acompanhado por um cachorro magrelo bem ao lado do caixão. “DJANGO” é o mocinho que deu nome ao filme e também ao novo bloco do carnaval itaunense em 1968: “BLOCO DO DJANGO”.

Assim, ostentando um chapelão tipo sombreiro mexicano, uma capa preta até os pés e uma manta colorida sobre os ombros, comprados em uma loja em Itaguara, os sete amigos subiram a Silva Jardim em direção à Praça da Matriz, arrastando um caixão cheio até na tampa de litros e mais litros de drinks como: caipirinha, cuba libre, rabo de galo, etc, etc. Preso por uma corda a uma das alças do caixão ia um vira-lata magrelo com o rabo entre as pernas, igual no filme. Durante o trajeto até a Praça da Matriz passaram por dois sobressaltos. O primeiro foi o sabão que tomaram quando passaram em frente à casa do Sr. Joãozinho Lima que, ao ver o cachorro sendo arrastado pelo grupo de cachaceiros, ficou muito bravo e exigiu que soltassem o bicho imediatamente. O segundo quando foram abordados quase em frente à casa da Dona Júlia Dornas pelo repórter João Gabriel, que fazia a cobertura da festa para um jornal local. Por curiosidade ao abrir a tampa do caixão, o repórter deparou com aquele estoque de bebidas, que na época tinha sérias restrições do regime militar, que em Itaúna contava com uma forte vigilância do Major Rui e do Major China. Muito nervoso, o jornalista interpelou os componentes do “Bloco do Django”: gente, gente, é muita bebida e vocês podem ser presos com base na Lei-Seca, do regime militar. Ah se o Major China ou o Major Rui virem isto aí! - Sem se alterar, o grupo entrou na Praça da Matriz, meio aquela multidão de curiosos, pois na época os poucos blocos desfilavam sem horário e roteiro definido e a Prefeitura não disponibilizava qualquer infraestrutura para o público assistir aos desfiles, e fez o maior sucesso, principalmente quando realizavam uma coreografia, parando de tempos em tempos, ajoelhando e simulando uma reza sobre o caixão, ao mesmo tempo que lamentavam bem alto: Ó meu Deus! Ó meu Deus! Ó meu Deus! - Para em seguida abrir a tampa do caixão, tirar as garrafas de drinks e beberem no bico. Neste momento eram ovacionados pela multidão de curiosos que se aglomerava em torno do bloco. Desfilou só uma vez, mas são lembrados por muitos, até os dias atuais.   

*Sérgio Tarefa é membro da Academia Itaunense de Letras e este causo lhe foi relatado pelo seu amigo e acadêmico Raimundo Rabello