Dentes de dragão

Dentes de dragão


Esta é a história romanceada de William Johnson, um rapaz bonito, pelo menos é o que nos revela a foto sua que traz no verso “New Haven 1875”. Sua aparência traduz certa indolência, uma vez que, recostado a uma parede, trazia na face um sorriso matreiro e moleque, típico da juventude irresponsável do fim do século XIX nos EUA, resultado de uma personalidade sufocada por pais duros e inflexíveis, porém endinheirados e certos de que poderiam impor o que quisessem a seus filhos. Ledo engano, porque William não é o tipo que se doma, porque ele é dos tais que se conquista e isso não se faz com imposições.

Silas, seu pai, o enviou a Yale College na esperança de fazer dele um indivíduo instruído e preparado para a nova safra de prosperidade, que descortina para a nação americana. Mas o primeiro ano foi conturbado. Suspenso em novembro, por ser pego fazendo apostas, e de novo em fevereiro, após uma bebedeira e um incidente quebrando uma vitrine em New Haven. Silas pagou a conta. Tudo, no entanto, levava a crer que o que o diretor do Colégio Exceter dizia estava certo, porque William apesar de ser um jovem bem apessoado e competente, era também teimoso, preguiçoso e muito mimado... A não ser que achasse logo um bom motivo na vida, certamente seria um desastre, dada a sua inclinação para a indiferença e o vício.

No princípio da primavera, nosso estudante se mostrava incorrigível, porque afundara, em minutos, o iate de seu colega de quarto, quando se chocou com as pedras nas águas rasas de Long Island Sound, só não morreu afogado no acidente, porque fora socorrido por uma traineira que passava por ali, e, como com ele nada fica só no fato, a declaração ao colega de que não havia pedido autorização para pilotar o iate, “porque não estava com paciência para ir procurá-lo”, chocou a todos e obrigou seu pai a pagar mais uma indenização.

A essa altura, o pai suplicava para que o filho se corrigisse, porque, a continuar assim, ele iria à falência e de mais a mais, o filho precisa ter um objetivo na vida melhor do que arruinar o pai. Assim, William Johnson, atendendo aos apelos do pai, comunicou à família que pretendia passar o verão seguinte na Europa; em resposta a isso, ouviu de seu pai que: “A simples perspectiva já me deixa financeiramente apavorado”. E espantada mesmo ficou a família, quando recebeu a notícia de que William havia decidido, de repente, passar o verão no oeste do país. Se isso causou espanto à família, o mesmo não se pode dizer de seus amigos mais próximos, porque eles tinham certeza dos reais motivos: mudara de planos por causa de uma aposta.

Como ele mesmo confessa em seu diário: Cedo ou tarde, alguém acaba por encontrar um arquirrival na vida. Para minha infelicidade, foi logo no primeiro ano em Yale que encontrei com o meu, Harold Hannibal Marlin, tínhamos a mesma idade – 18 anos. Forte, articulado, bonitão e absurdamente rico, e um nova-iorquino metido a besta, que se sentia superior em todos os aspectos aos da Filadélfia. Eu o achava insuportável, sentimento que era recíproco. Estávamos sempre em lados opostos, fosse qual fosse o assunto. Em qualquer encontro, em qualquer lugar e isso era sempre, se um defendesse uma ideia outro seria automaticamente contra e seria o opositor. Foi assim que, numa noite, durante o jantar, que Harold disse que o futuro do país estava no Oeste e obviamente eu o retruquei, dizendo que não era possível, porque lá só havia aborígenes selvagens perdidos numa imensidão do nada. Ele não perdeu a oportunidade e disse que essa era a opinião de quem nunca esteve lá e de fato eu nada podia falar sobre isso, porque não tinha estado mesmo lá. Para não ficar por baixo, lasquei em reposta que: “Ir para o Oeste não era façanha nenhuma. Qualquer palerma pode ir”.  O resto é história. Foi assim que William Jason Tertullius Jonhson fez parte da expedição arqueológica ao Oeste americano, uma discussão que só podia dar em uma aposta. Assim, ele veio a se tornar uma espécie de Indiana Jones de seu tempo.

Este é um livro publicado postumamente, escrito por Michael Crichton, mesmo autor de Jurassic Park. O manuscrito foi achado pela esposa, enquanto organizava o material deixado por ele. Assim, para atender os fãs inveterados do autor e homenagear o marido, ela decidiu, com a ajuda de outras pessoas, enviá-lo para publicação. Fica o convite a você, caro leitor, para que dê uma oportunidade a esse autor e confira seu trabalho.