Coleta seletiva e o “entendimento da separação”

Coleta seletiva e o  “entendimento da separação”

Como já afirmei em algumas oportunidades, tenho muito orgulho de ter participado, junto ao meu amigo e compadre Ralim Mileib e ao também amigo e ex-prefeito Osmando Pereira, da implantação do modelo de coleta seletiva de Itaúna. E como já lembrei, também, este é o modelo mais exitoso do País, pois mantém “viva” a coleta há 23 anos, caminhando para o 24º ano. Vou mais longe e afirmo que, o sucesso da Coopert, cooperativa modelo de eficiência para o setor, muito se deve a esse modelo de coleta implantado em Itaúna, que possibilitou a mudança de hábito de uma população de, à época, quase 90 mil habitantes. A partir de então, passei a pesquisar, estudar, acompanhar o tema, ao longo das mais de duas décadas passadas. E, há poucos dias, me deparei com um artigo na caixa de mensagens da FOLHA, em que é abordado um estudo feito pela Nexus, sob encomenda do Sindicato da Indústria de Material Plástico, Transformação e Reciclagem de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast). Nele, a chamada aponta que “os brasileiros estão dispostos a reciclar, mas esbarram na falta de informação, na ausência de coleta seletiva e em baixos investimentos do poder público”.

A partir daí, fiquei a analisar os caminhos percorridos por Itaúna, as barreiras enfrentadas para a implantação do modelo “Lixo Seco e Lixo Molhado” e o trabalho que ainda é exigido para que a proposta permaneça. Durante os 23 anos de existência do modelo, o ex-prefeito Osmando teve dois anos de um mandato e mais quatro de outro. E foram mais oito anos de mandatos do ex-prefeito Eugênio e mais oito do ex-prefeito Neider. Agora, estamos nos aproximando de um ano do mandato do atual prefeito, Gustavo Mitre. E como disse o artigo, em seu início, os brasileiros estão dispostos a reciclar – ou a reaproveitar – e os itaunenses assim também estavam em 2002. O que fizemos foi apenas entender esta predisposição e propor uma coleta de maneira simples e que as pessoas entendessem. Inclusive, é bom salientar que nós não implantamos uma coleta seletiva, mas, sim, transformamos a coleta de lixo de Itaúna em seletiva. A simplicidade da proposta, de que o cidadão/cidadã separa em caso o que é reciclável (pode ser reaproveitado) do que (ainda) não é, torna fácil o trabalho do dia a dia das pessoas. Simples assim: hoje, coloco para recolher o que pode ser reaproveitado. Amanhã, o que não é reaproveitado (ainda), ou seja, o orgânico. Aí, a tarefa de separar plástico, vidro, metal, papel, fica para quem realmente entende da questão: os catadores (cooperados da Coopert, no caso). Até porque existem vários tipos de papéis, de plásticos, de metais, que os catadores conhecem bem e podem fazer a separação correta, sem problemas.

Quando se cobra do cidadão que ele separe o lixo por tipo de material, como tenho visto por aí, de a dona de casa colocar separado o papel, o plástico, o vidro, o metal, então a coisa se complica e a coleta vai por água abaixo, como tem acontecido na maioria dos casos de cidades que implantam coletas seletivas a cada mandato, e elas não caminham. A dona de casa, os cidadãos e cidadãs não têm tempo nem dispõem de recursos para fazer a separação proposta, a partir de casa. Imaginem uma casa com vários recipientes para colocar lixo: um para papel, outro para o plástico, outro para o vidro... E, depois, ensacar todo esse material separado... Também o fato de colocar lixeiras de grande capacidade para coletar o lixo só favorece a mistura do seco e do molhado (reciclável ou reaproveitável, com o orgânico), pois o cidadão vai ver que tudo que coloca naquela lixeira é recolhido, sem separação... E, então, para de separar. E se para de separar no serviço, vai parar também na sua casa. É assim que se “mata” uma coleta que vem dando certo ao longo de mais de duas décadas: pedindo à população para separar papel, plástico, vidro, metal, ou colocando lixeira de grande capacidade para recolher lixo, que é recolhido e prensado no caminhão coletor. Como afirma o artigo, “os brasileiros estão dispostos a reciclar”, mas o problema é que esbarram no tecnicismo que prefere praticar o sistema “control C, control V’, dos “projetos de coleta seletiva grátis para imprimir”, bastante coloridos, cheios de azuis, amarelos, verdes, vermelhos, marrons... E, se me perguntarem se a nossa coleta fará três décadas, te confesso que já tenho dúvidas, infelizmente. 

* Jornalista profissional, especialista em comunicação pública e membro da Academia Itaunense de Letras – AILE, sendo titular da cadeira 26.