A proposta é boa... Mas é para a elite

A proposta  é boa...  Mas é  para a elite


Está definido, a estrutura já está sendo montada e o secretário de Cultura já convenceu a maioria que será um “carnaval como Itaúna nunca viu e o maior e melhor de toda a região”. Segundo ele, quiçá, de toda Minas Gerais... E para falar a verdade, ele quase me convenceu, ou pelo menos conseguiu mostrar que a proposta é muito boa em todos os sentidos argumentados. Ou seja, o cidadão itaunense que for brincar nos blocos e/ou apenas assistir terá mais segurança, mais opções de lazer e ainda vai contar com shows, banheiros químicos, segurança, iluminação e uma praça de alimentação com muita variedade. O cantor Joe, dublê de artista, afirmou que a festança vai custar mais de 1,5 milhão de reais e que parte será bancada com recursos do Fundo Cultural, explicou também, ao ser questionado por vereadores, que o Carnaval é um bem imaterial do município (vão fazer uma exposição de fotografias dos desfiles antigos, das escolas de samba e blocos caricatos). Fica a pergunta: será que é para justificar o título de “bem imaterial” e o uso dos recursos do Fundo Cultural? Mas, enfim, conforme a propaganda feita pelo secretário, a festa vai ser completa.

Bom, em nosso entendimento, mesmo declarado um bem imaterial do município, o carnaval é uma festa popular e não pode ser custeada com recursos da cultura, mas esta é uma discussão que não deve ser nossa, e sim dos artistas itaunenses que estão calados, assistindo os recursos que são seus, para serem investidos em projetos na área da produção teatral, nas artes plásticas e na literatura, música... dentre muitas outras manifestações culturais. Mas ninguém se manifesta. Como afirmamos no editorial anterior, em relação ao desmanche da chaminé da antiga Cia. Industrial Itaunense, os artistas itaunenses e os que militam na área cultural estão mesmo preocupados é com os “próprios umbigos”, com os recursos das leis de incentivo e com os seus projetos pessoais. Mas é direito deles. E como ninguém reclama ou toma frente para tomar providências que possam barrar as situações, em nossa opinião, absurdas que estão sendo colocadas em prática pelos nossos administradores públicos, os recursos que deveriam financiar projetos culturais estão sendo consumidos em festas e shows musicais populares que não demonstram nenhuma formatação cultural.

Mas voltando à estrutura idealizada e montada para a festança mais popular do país, o carnaval, que é uma festa do povão e, ao que tudo indica, será o único que não vai participar, devido às dificuldades e imposições e por motivos lógicos, pois não vai ter como ir a pé até o “sambódromo” do Joe, por exemplo, e não terá a liberdade de comprar o churrasquinho de “gato” nas esquinas e muito menos poderá jogar as latinhas de cerveja nos cantos do meio-fio para os catadores, que poderiam faturar algum trocado para comprar arroz e feijão...  terá é que comprar cerveja ou chopp nas barracas e food trucks montados em uma praça de alimentação. Mas é uma questão de opção da administração municipal, capitaneada por um itaunense de classe média alta...

Em nosso entendimento, depois de ouvir todas as explicações e promessas do secretário de Cultura, o carnaval vai ser muito bom, mas não será a festa popular de sempre, pelo contrário, será mesmo uma festa muito bem organizada, mas repito, feita para a classe média. O que resta agora ao itaunense comum, aquele que espera o ano todo para se divertir na “Prainha”, pulando atrás do trio elétrico e depois ficar andando pra lá e pra cá pela avenida, é achar uma alternativa para usufruir da festança. Mas duvidamos que isso vá acontecer. Sinceramente torcemos muito para dar certo, pois a estrutura proposta é muito boa, confortável e com opções de atrações para o cidadão comum. Que esse cidadão possa usufruir do dinheiro público, que é seu, e que está sendo gasto em uma estrutura que, em nossa opinião, não é para ele. Mas a nossa torcida é para que dê tudo certo. Afirmamos isso para o secretário Joe na terça-feira, 7, na Câmara Municipal, com a afirmativa de que, se não der certo, ele pode, em nossa opinião, limpar as gavetas.

Mesmo convencidos de que a proposta de formato e a estrutura para a festança, que seria momesca, mas virou uma juntada atrás de trio elétrico e monitorada pelo poder público de forma imposta, somos adeptos e defensores do carnaval na Av. Jove Soares como é há anos e queríamos o Bloco Pau de Gaiola na Praça da Lagoinha, como sempre foi com o Farrapos, a Banda Suja, dentre outros. A alegação de que o local não suporta milhares de pessoas e que a vizinhança não quer não justifica. A festa é do povo e dura no máximo 8 horas, ou seja, das 16 à meia-noite ou zero hora. Repito, montaram uma festa para a classe média, ou seja, para uma elite “meia-boca”, e vão acabar com a alegria do povão pelas ruas da cidade. Ainda bem que restou a Banda Esplendor e Glória (também elitista) com suas marchinhas tradicionais nas tardes da Praça da Matriz...      

Renilton  Gonçalves Pacheco