Uso de carro oficial para ir a comício teve acordo no MP

Kaio, Gustavo e Ener foram chamados a fazer acordo por suposto uso indevido de veículo da Câmara

Uso de carro oficial para ir a comício teve acordo no MP


Os vereadores Kaio Guimarães, Gustavo Dornas e Ener Batista são acusados de uso indevido de um veículo da Câmara de Itaúna para motivos políticos. Na ocasião, o edil Kaio Guimarães, inclusive, chegou a receber diária, que foi devolvida posteriormente, conforme informações. A acusação é de que eles, mesmo tendo veículo próprio, foram à capital do Estado no carro da Câmara, com a intenção de acompanhar uma atividade política do candidato a presidente da República que eles apoiavam. Conforme a denúncia, a alegação de uso do veículo seria para a participação em uma solenidade, porém a realidade foi o encontro político, inclusive, com imagens postadas pelo edil Kaio Guimarães, em que ele aparece aplaudindo e proferindo gritos de apoio a seu “mito”.

Na época, a FOLHA publicou a matéria abordando a denúncia, inclusive, com levantamentos sobre a quilometragem percorrida pelo veículo e parte do trajeto, bastante divergente do informado pelos vereadores. Foi registrada ainda uma ida ao Aeroporto da Pampulha para recepcionar o candidato apoiado pelos edis e até existiu denúncia de possível participação em carreata. Os fatos colocados na denúncia podem levar a crimes graves de improbidade, motivo pelo qual a população merece saber o que se passou e qual o resultado da apuração.

O caso foi além da denúncia pública e chegou no Ministério Público, que iniciou processo de investigação do ocorrido, inclusive, com questionamento à Câmara de Itaúna, que teria respondido com as informações solicitadas. Nesta semana, porém, a reportagem foi informada que os vereadores assinaram um termo de acordo no MP, se não um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta, pelo menos um acordo, que apontaria a aceitação da denúncia e o comprometimento de buscar a reparação do malfeito, pelo menos em parte.

Com a informação de que o acordo foi assinado, a reportagem entrou em contato com dois dos vereadores e um terceiro não atendeu à ligação. A ação da reportagem seria no sentido de buscar informações com a versão dos envolvidos. Também foi acionada a assessoria de imprensa do Ministério Público, que ficou de apurar o fato e retornar à reportagem, o que não ocorreu até o fechamento da matéria.

Transparência só quando o caso é com “os outros”

Porém a reportagem foi surpreendida com as respostas dos vereadores Gustavo Dornas e Kaio Guimarães, já que o terceiro citado, Ener Batista, não atendeu à ligação da reportagem e nem retornou à ligação até o fechamento da matéria. Gustavo Dornas, que se apresenta sempre como um dos “paladinos” da transparência, primeiro afirmou: “Não posso comentar, porque é sigilo”. Ora, trata-se de acusação de uso indevido de um carro público para ação político-eleitoral. O carro, como dito, assim como o motorista que o conduziu, é pago com dinheiro público, portanto o que define o “sigilo” alegado? Ao insistir por uma resposta, Gustavo disse que “não tenho nada a declarar!”

Em seguida, foi contatado Kaio Guimarães, outro que sempre representa o papel de “paladino da transparência”, isso quando é alheia... Ele simplesmente afirmou que “vou me manifestar nas minhas redes sociais”. Informado de que estava sendo feita uma pergunta, enquanto jornalistas, e que o profissional merecía uma resposta e não apenas repassar um argumento colocado nas redes sociais, ele insistiu e, com a ironia cínica do riso, disse que o repórter estava nervoso e que se manifestaria nas redes sociais, o que deve ter feito. Porém, há que se registrar que a manifestação nas redes sociais é unilateral, é a versão que ele quer dar, é o argumento que ele preparou – possivelmente com a ajuda de um advogado – para apresentar a sua versão.

A reportagem é a colocação do fato e a resposta dos envolvidos, que fique esclarecido. Assim, como o MP ainda não encaminhou a resposta pedida pela reportagem, e os vereadores só aceitam emitir uma versão, unilateral, pelas redes sociais, fica o registro de que os vereadores foram acusados de, usando de subterfúgios de um compromisso na capital, utilizaram o carro público, pago com dinheiro público, usando combustível pago pela Câmara, funcionário pago pelo Legislativo, para participar de um evento político-eleitoral. Eles foram acionados e foram ao MP e fizeram um acordo. Como a transparência só vale quando é com os outros, os milhares de leitores da FOLHA permanecem com a informação da acusação, sem respostas dos acusados. A reportagem fez a sua parte.