PROBLEMA À VISTA - Carnaval no Boulevard não agrada comerciantes e carnavalescos

Envolvidos querem MP e Câmara investigando motivos da mudança, conforme apurou a reportagem

PROBLEMA À VISTA - Carnaval no Boulevard não agrada comerciantes e carnavalescos
A tradição do Pau de Gaiola na Lagoinha tem mais de 40 anos e a mudança de local tem revoltado organizadores e participantes


No final da última semana, a assessoria do prefeito divulgou que os preparativos para a realização do carnaval já estão em andamento e que a festa vai ser realizada neste ano no espaço próximo à nova sede do Executivo, no Boulevard Lago Sul. Até mesmo o bloco Pau de Gaiola, que reúne multidões anualmente na Lagoinha, com tradição de décadas, estaria sendo mudado para aquele local. Porém carnavalescos e comerciantes, principalmente, são contra a mudança e expõem seus motivos. Querem, inclusive, que a Câmara e o Ministério Público possam intervir para apurar a motivação que leva à proposta de mudança, visto que entendem que pode estar havendo beneficiamento a algumas pessoas.

As alegações dos comerciantes começam pela necessidade de instalação de estruturas de comércio de bebidas e comidas, visto que não existe este tipo de atividade no local para onde está sendo proposta a festa. A mudança traria muito prejuízo a comerciantes já estabelecidos na região da Jove Soares, onde o carnaval tem sido realizado nos últimos anos. “A única coisa que tem lá no Boulevard é o espaço, que também existe na Jove Soares. Essa alegação não justifica a mudança”, afirmou um dos envolvidos com a festa e que questiona a mudança.

O pessoal ligado ao Pau de Gaiola já havia afirmado para a reportagem que não pretende mudar o local para a concentração do bloco e que a festa tem que ser na Praça da Lagoinha. Alegam que a alteração pode colocar fim a um bloco que é tradicional no carnaval itaunense, completando 43 anos de existência neste 2023. “O Pau de Gaiola nasceu na Praça da Lagoinha, em 1981, e sempre esteve ali, abrindo oficialmente o carnaval itaunense e não vemos motivo para que seja diferente. Sem a Lagoinha, não será o Pau de Gaiola que todos conhecemos”, disse ao jornal um folião que acompanha o bloco desde o seu nascimento. Também um dos organizadores do bloco, Afonso Silva, o Afonsinho, já havia se manifestado ao jornal sobre a mudança, afirmando que “vamos continuar na Praça da Lagoinha”. A reportagem falou com o presidente da agremiação, Delmar Parreiras, e ele foi enfático, “estou muito chateado, muito mesmo. Fomos chamados duas vezes na Cultura e forçaram par a gente sair da Lagoinha. Vamos concentrar lá, mas sem som e sem estrutura, vai ser morno. Vão acabar com a nossa felicidade e a tradição de 40 anos. Estão jogando a culpa nos Bombeiros... Nosso posicionamento é contrário ao que estão fazendo”.  

Mudança pode ter outras motivações

Nos bastidores, os comentários são de que a mudança pode visar o beneficiamento de um grupo reduzido de pessoas que têm realizado festas em Itaúna, inclusive, na região do Boulevard. “Essa turma tem feito o que quer na cidade. Não precisam tirar nem mesmo o alvará para realizar as festas”, acusou um cidadão que transita com facilidade na prefeitura e que pediu para não ser identificado. Outros citam exemplos: “O pessoal do circo que esteve em Itaúna, recentemente, foi tirar o alvará para funcionar ali perto do Zé Flávio e descobriu que o último alvará para usar aquele espaço foi concedido a outro circo que esteve no mesmo espaço há mais de um ano. Só que foram realizadas festas ali e é preciso saber: sem necessidade de alvará?”, perguntam.

O mesmo questionamento foi feito em relação à instalação de trailers para venda de bebida e lanches, na Praça da Matriz, no período do Natal. A informação é de que não teve alvará para a instalação dos carrinhos de lanche, assim como em outros eventos realizados pelas mesmas pessoas. Em relação ao evento na Praça da Matriz, no período do Natal, um cidadão comentou que “uma funcionária da Prefeitura estava no caixa. E o evento não tinha alvará, segundo afirmações. Por que uns podem e outros não?”, pergunta. 

Além de questionarem a mudança, que vai provocar prejuízo para os comerciantes já instalados na Jove Soares, os críticos fazem os seguintes questionamentos: quando será (e se terá) a licitação para a instalação de barracas e outros equipamentos de comércio para o carnaval? Lembrando que faltam exatos 34 dias úteis para o início do carnaval, que neste ano começa em Itaúna no dia 17, com o desfile do Pau de Gaiola. Há tempo suficiente? E respondem, a não ser para quem já sabia que vai ter a mudança do local e se preparou para instalar lá os seus equipamentos. “Isso só pode ser para beneficiar alguém”, sugere um crítico. E em seguida pede a apuração dos casos passados de eventos realizados sem alvará.

“Os vereadores poderiam atuar nesta questão, pois é função da Câmara fiscalizar este tipo de coisa. E se entender que não tem capacidade para isso, pedir ajuda ao Ministério Público. Afinal, existe legislação para utilização dos espaços públicos e é preciso haver um processo, com no mínimo um chamamento público. Lembrando que o alvará é documento obrigatório para o funcionamento do comércio no município”, disse ele. E completou convocando para averiguar a situação, também, as entidades como o Fecomércio e a CDL, afinal, lembra, essas entidades devem fazer a defesa dos direitos dos comerciantes legalmente estabelecidos.