Perdi um amigo

Tenho poucos amigos, e foi assim até aqui. Mas sempre convivi com muita gente, e num meio em que as opiniões sempre foram muito fortes e “supitam” com uma frequência, quase que naturalmente. Por isso, trazem divergências, olhares contrários e teorias que submergem somente de mentes privilegiadas. Assim, os amigos são mesmo poucos, pois a maioria não consegue entender o olhar, muitas vezes solto, mas sempre observador.
E, assim, esse amigo que comecei a perder na quarta-feira, dia 7, e perdi ontem, sexta-feira, dia 9, desde que conheci em 1974, na redação do jornal Folha do Oeste, sempre teve, além de uma mente brilhante, um olhar diferente do mundo e do seu meio, pois nasceu jornalista e, tenho a certeza, faleceu jornalista, com esse privilégio de poder olhar de forma diferente para um todo, buscando o melhor para esse mesmo todo, esquecendo de si.
José Waldemar Teixeira de Melo, jornalista nato, iniciou sua vida profissional no jornalismo no Estado de Minas, o grande jornal dos mineiros, onde atuou como repórter e redator e em outros jornais do grupo de Assis Chateaubriand. Mas, quando lideranças itaunenses, capitaneadas pelo líder Dr. Guaracy de Castro Nogueira, iniciaram a trajetória para fundar uma Universidade que pudesse atender aos anseios de jovens itaunenses e de alguns funcionários do Banco do Brasil, ele foi chamado a ajudar Itaúna em Belo Horizonte, com a atuação no jornal Estado de Minas e na redação de documentos que precisavam ser encaminhados aos órgãos Estaduais e Federais, para que a Universidade de Itaúna pudesse ser aprovada pelo então governador Magalhães Pinto, que tinha como Secretário de Governo outra liderança itaunense, Dr. Miguel Augusto Gonçalves de Sousa, que também tem méritos reconhecidos na criação da Universidade de Itaúna.
José Waldemar, então jovem, com apenas 21 anos, teve um papel importante e fundamental na montagem do portifólio obrigatório à época, para a implantação de uma Instituição de Ensino Superior em uma cidade do interior do estado, com apenas 50 mil habitantes. E instalada a Universidade, Dr. Guaracy convidou o então jovem jornalista e já formado também em Direito, para assumir a Diretoria Executiva da Fundação de Ensino Superior de Itaúna, mantenedora da Universidade de Itaúna. E a Universidade, devagar, foi crescendo e ganhando alunos de toda a região, inclusive da capital mineira, e se tornou referência na região. Se tornou uma “Grande Universidade”.
Então, uma nova luta foi escolhida novamente pelas lideranças políticas e da área de Educação de Itaúna, mais uma vez, essa “luta” envolveu o jornalista, àquela altura, também já professor da Faculdade de Direito Dr. José Waldemar, que foi ajudar novamente o amigo Dr. Guaracy, já na década de 70, no concurso da UNESCO, denominado Cidade Educativa do Mundo. Um título que acabou sendo dividido com a cidade de Itabira, porque a UNESCO não conseguiu definir qual das duas cidades era a melhor quando o assunto era educação. Obtivemos o título e somos CIDADE EDUCATIVA DO MUNDO. Nunca deixaremos de ser.
Com todos os afazeres na Universidade, o jornalista, que ainda adolescente ganhou o apelido de Zé Gazetinha, devido ao jornalzinho que editava, não esquecia o jornalismo e a redação da FOLHA do Oeste do Piu, na esquina da Rua Antônio de Matos com Praça Dr. Augusto Gonçalves, que era visitada praticamente todos os dias por ele. E foi lá que eu, menino, e ainda tentando entender o que era jornalismo e política, o conheci. E, a partir dali, sempre nos encontrávamos na Praça para os bate-papos, principalmente sobre Itaúna, suas causas maiores, seus problemas e seu futuro. E, é claro, para falar sobre jornalismo e política. Ficamos cada vez mais amigos, apesar da diferença de idade de 15 anos. Em 1977, fui trabalhar na Universidade de Itaúna, levado por ele, com a anuência do Reitor Dr. Guaracy de Castro Nogueira. Trabalhei em vários setores na reitoria até 1983.
Com o diagnóstico de câncer do jornalista Sebastião Nogueira Gomide, o jornal FOLHA do Oeste foi adquirido por José Waldemar e também pelo jornalista Anis José Leão, outro grande jornalista e jurista itaunense que residia em Belo Horizonte, mas era um apaixonado pelo torrão. Com os dois no comando do semanário, voltei para a FOLHA e lá mantive uma coluna de variedades por muito tempo. O jornal passou por outras mãos, outras direções e, em 1995, no governo do prefeito Hidelbrando Canabrava Rodrigues, o Bandinho, quando assumi a Assessoria de Imprensa do governo, também voltei para o jornal, e, com a anuência do Zé Waldemar, o editei com o nome FOLHA DO OESTE, sendo o título do jornal ainda dele, José Waldemar. Em 1996, o jornal definitivamente ficou sob o meu comando, sem nenhum vínculo com o Zé, o nome mudou de Folha do Oeste, para Folha do POVO, e o Zé, continuou mantendo nele uma coluna denominada “De cima da Rampa” pois ele já residia em Brasília, onde constituiu família.
Ainda em 1997, uma mudança estatutária na Fundação Universidade de Itaúna, mal explicada até hoje, acabou por colocar a FOLHA DO POVO, em uma luta por uma instituição itaunense que foi, em minha opinião, tomada por um cidadão forasteiro, mas isso é passado. Lutamos na Justiça, lutamos no jornal, formamos opinião e acho hoje, que tentamos defender Itaúna, uma conquista itaunense, mas foi uma luta em vão, porque são poucos os corajosos. José Waldemar Teixeira de Melo foi um corajoso, com mais uns dois ou três amigos itaunenses, como os advogados Dr. Paulo Vicente de Freitas, Dr. Tirézio Geraldo Gomes e Dr. Anis José Leão e eu, que iniciei a briga ao não aceitar publicar um direito de resposta mentiroso do reitor. O restante da cidade ficou assistindo de camarote. Mas o importante é que lutamos, e isso vai ficar na história do município. Não há como apagar a história.
José Waldemar, depois da decepção com o caso Universidade de Itaúna, literalmente ficou descrente com Itaúna e aqui nunca mais voltou. Falei com ele por poucas vezes pelo telefone e fui à sua casa uma vez em Brasília. Suas filhas, Mary e Mariana, estiveram na redação da FOLHA no ano passado, quando da Missa de 7º Dia do tio delas, Clênio Teixeira de Melo, trouxeram notícia do meu amigo Zé. Me mandaram fotos dele depois, lendo jornais e especialmente lendo a nossa FOLHA DO POVO.
E assim termina uma história de amizade. Ou não termina, a gente apenas “perde” o amigo nesta estratosfera, acho. Mas ficam as boas lembranças, as lutas travadas juntos, as brigas, as opiniões divergentes e principalmente o respeito por uma pessoa que sempre teve uma mente privilegiada, um olhar diferente do mundo, apenas por um motivo: ser jornalista. E um dos melhores. Vá em paz, meu amigo, que Deus lhe acolha com a velha máquina de escrever ou com o moderno computador. De um ou de outro, vão sair textos bem alinhavados, histórias bem contadas, editoriais picantes e reportagens humanas em prol de um todo. Deixo uma salva de palmas ao meu amigo Dr. José Waldemar Teixeira de Melo. Encontramos.