Gerente vai à Câmara defender “necessidade dos agentes”

Se mostrando incomodada com as críticas, apesar de ter dito que não se incomoda, Cíntia Valadares falou sobre legislação e questões técnicas aos vereadores

Gerente vai à Câmara defender “necessidade dos agentes”
Fotos: Reprodução/CMI/ YouTube


A gerente de Trânsito de Itaúna, Cíntia Valadares, compareceu à reunião ordinária da Câmara de Itaúna, na terça-feira, 20, para falar aos vereadores sobre o trabalho que a gerência que ela comanda tem realizado no município. Fez uma explanação do trabalho que o setor vem realizando e apontou números da situação do trânsito na cidade. 

Cíntia disse que, entre 2018 e 2022, 79 pessoas morreram em Itaúna vítimas do trânsito. E que entre janeiro e maio de 2023, foram registrados 2.150 acidentes de trânsito na cidade. Nesses acidentes, 594 pessoas foram vítimas, com algum ferimento. Contou um fato que uma pessoa passou “em alta velocidade” na porta do hospital, por seis vezes, e depois foi à DMTT reclamar das multas recebidas. Falou das prerrogativas do setor que dirige, em regular o trânsito na cidade e citou a legislação, nos trechos onde são definidas as competências do Setor Municipal de Trânsito.

Ainda na sua exposição, Cíntia Valadares comentou que o Município não tem condições financeiras para, no momento, implantar a Guarda Municipal e que é muito necessária a aprovação dos seis agentes de trânsito, conforme proposta de lei enviada à Câmara. Falando aos vereadores e ao público que acompanhava a reunião, fez elogios à administração, inclusive, citando as muitas obras de asfaltamento de vias na cidade, dizendo que “nunca se viu um plano como este” em Itaúna (mesmo apesar de estar na cidade somente a partir do início dos mandatos do atual prefeito).

Agentes de trânsito seriam a solução?

Na opinião de alguns vereadores, nos bastidores, após apontar os muitos problemas no trânsito de Itaúna – destacando, na sua fala, que os problemas estão nos motoristas e motociclistas, que não respeitam a legislação –, a gerente de trânsito não apresentou um planejamento para enfrentar a questão. A não ser a implantação dos radares – que ela defendeu veementemente – e a necessidade de agentes municipais de trânsito com a prerrogativa de aplicar multas, disse um deles. Inclusive, sobre essa questão, após relatar as muitas funções de um agente, como fiscalizar portas de escolas, atuar em eventos, escoltar autoridades, Cíntia Valadares afirmou que não pode atrelar a produtividade que se pagará aos agentes às multas a serem aplicadas. Mas que não tem como retirar essa função da legislação que propõe a contratação dos agentes.

No início de sua fala, a gerente do Trânsito disse que não conhecia Itaúna até ser convidada a trabalhar na atual administração. Citou as suas formações e as “inúmeras palestras e aulas” proferidas sobre trânsito nos seus 33 anos de carreira estudando o trânsito. Citou sua tese e sua monografia abordando o setor. Essas falas soaram para alguns dos presentes e pessoas que acompanharam a reunião como empáfia. Para outros, como necessidade maior ainda de se cobrar resultados, um projeto, um programa, um estudo visando a solução dos problemas do trânsito em Itaúna. Um deles foi o vereador Da Lua, que pediu à gerente que enviasse a ele a programação das campanhas de trânsito que porventura o setor que ela dirige venha a realizar na cidade.

Expectativa de faturamento “zero” com as multas

Ao responder a um questionamento do vereador Kaio Guimarães, que lembrou o faturamento do Município com multas em 2022, que foi “em torno de um milhão de reais”, e quis saber qual era a expectativa para após a implantação do serviço com os seis agentes de trânsito pedidos, Cíntia arrancou sorrisos irônicos. Ela disse que a expectativa é de “faturamento zero”, usando uma situação hipotética de que ninguém infringisse mais a lei de trânsito a partir da atuação dos agentes municipais de trânsito.

Ao final da reunião, um cidadão que acompanhou a reunião fez o seguinte resumo à reportagem: “A gerente foi à Câmara para defender a aprovação dos agentes e elogiar a instalação dos radares. Não teve sucesso em nenhuma das duas propostas. Passou imagem de prepotência, ao tentar mostrar conhecimento em detrimento da falta de conhecimento das pessoas que a assistiam, não apresentou um planejamento, um arrazoado de medidas que pudessem melhorar a situação atual do trânsito da cidade e ainda ouviu os muitos problemas que estão sendo criados com as ‘soluções técnicas’ que ela e sua equipe estão criando”. E concluiu afirmando que “em resposta à frase de Voltaire: ‘Não concordar com o que se diz, mas defender o direito de dizê-lo’, ela poderia ter usado a resposta de Sócrates à mensagem de Apolo: ‘Só sei que nada sei’. Seria menos arrogante e mais simpático”.