Professora denuncia falta de respeito e desiste da profissão
A educadora itaunense Luciene Parreiras, postou na sua rede social (Instagram) um vídeo onde faz desabafo em relação às condições da educação no País e anuncia que, por ter sido agredida verbalmente em sala de aula, por um aluno, estaria abandonando a profissão, “após 35 anos”. A fala de Luciene é incisiva, onde ela aponta problemas em relação à profissão e aponta a questão da “não reprovação” como uma mola para se colocar na sociedade, alunos despreparados para a vida. O vídeo repercutiu e, inclusive, a Superintendência Regional de Ensino, com sede em Divinópolis, divulgou nota em que afirma que está apurado o caso. Em um trecho do vídeo, ela fala que os professores precisam “mendigar valorização, enquanto são desrespeitados por alunos que só querem seus direitos, mas não cumprem seus deveres!”
À FOLHA, Luciene Parreiras falou na tarde de quarta-feira, 23, quando lembrou que diferente do que havia sido noticiado no “ViuItaúna”, ela era professora da rede estadual e não municipal. O fato a que ela se refere, da agressão verbal, teria ocorrido na E.E. “Padre Luís Turkenburg”, no Bairro Padre Eustáquio, na segunda-feira, 21. Porém este caso seria “a gota d´água” que a levou a deixar a profissão, já que nos últimos anos ela, assim como outros profissionais, estão convivendo com a falta de respeito de alunos, bem como de seus familiares que os apoiam nestas questões e, ainda, com a pressão exercida sobre os educadores para “aprovar alunos sem a mínima capacidade para tanto”, como deixou claro.
Em conversa com a reportagem, Luciene afirmou que “desde 2008 os alunos não são mais reprovados”. Ela se refere a uma medida bastante contestada do Governo Lula, de quando Fernando Haddad era ministro da Educação. Essa medida teria alterado questões da LDB, impedindo assim que houvesse reprovação dos alunos. Porém o caso vem “ganhando corpo” desde 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo como ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Naquele ano foi implantada a não-reprovação escolar em anos de alfabetização.
Para Luciene Parreiras, com o término da reprovação, professores acabam sendo levados a dar notas a alunos para que eles alcancem os 60% necessários para não serem reprovados. Com isso, alunos que não conseguem o mínimo exigido para seguir adiante nos estudos, continuam a trajetória, fatalmente sem preparo para tanto. Luciene aponta a dualidade criada nesta situação, quando um aluno tem de prestar o Enem, e não consegue concorrer com os alunos das escolas particulares que, por outro lado, são levados ao aprendizado de reforço quando não alcançam o mínimo necessário exigido.
“Não vejo luz no fim do túnel”
Perguntada se teria uma indicação de como mudar esta situação, a professora foi cética, afirmando que “não vejo uma luz no fim do túnel”. Para a professora, enquanto não for revista esta questão, os alunos continuarão sendo promovidos de série sem que tenham aprendido o necessário para tanto. E vai além ao afirmar que “é uma propaganda, de educação 100%, que não existe. Estamos formando uma geração sem preparo”, comenta.
Outros profissionais da área, que pediram sigilo de seus nomes afirmaram à reportagem que Luciene Parreiras foi “bastante corajosa por denunciar esta situação que temos vivenciado no dia a dia”, afirmou uma professora. Outra lembrou que no caso de Luciene a agressão foi verbal, mas que é comum até ocorrerem agressões físicas, ameaças, enquanto as autoridades não tomam providências em relação a isso. “É uma política educacional produzida no papel, que não se casa com a realidade das salas de aula. Estão levando os professores a fingir que ensinam, pois os alunos fingem que aprendem, sabendo que não serão reprovados. E a situação se complica na medida em que muitos pais repassam para a escola, que teria a tarefa de ensinar, a obrigação de educar os alunos”, desabafou uma outra profissional da área.