“PARA POUCOS” - Carnavaliza 2023 pode custar R$ 2 milhões

Prefeitura deve investir pesado para levar carnaval para o Boulevard Lago Sul em um circuito fechado

“PARA POUCOS” - Carnavaliza 2023 pode custar R$ 2 milhões
A intenção é usar a mesma estrutura do Festival de Inverno. O carnaval do povo será transformado em circuito fechado


Conforme a FOLHA publicou na edição passada, carnavalescos e comerciantes estão questionando a transferência da festa de momo para o Boulevard Lago Sul, sob a alegação de que vai prejudicar os comércios legalmente estabelecidos, inicialmente. Outra alegação, esta na entrelinha das falas de carnavalescos, é que tudo está sendo feito para beneficiar uns poucos e quem faz a festa, que são os blocos, não deve receber qualquer ajuda. Nos bastidores a FOLHA recebeu informações de que a Prefeitura deve gastar em torno de R$ 2 milhões com a festa. “Tudo para satisfazer a vontade da administração, que já decidiu a transferência”, afirmou um cidadão envolvido com a festa e que pediu para não ser identificado.

Se na semana passada, como informou a reportagem, faltavam 34 dias úteis para a festa, agora faltam 28, já que o primeiro dia de carnaval é dia 16 de fevereiro, data em que desfila o bloco Pau de Gaiola. E os preparativos estão no início. Na semana que vem devem se reunir, novamente, os diretores de blocos e a Secretaria de Cultura, para acertar como será a festa. De início, conforme a FOLHA apurou com diretores das agremiações, a Prefeitura não deve repassar recursos aos blocos. “Sem ajuda, não temos como sair’, disse Ricardo Magalhães, dirigente do Bloco Allfaces. “Somente com a venda de abadás não dá para colocar o bloco na rua, pois as coisas estão muito caras”, disse.

Outro que afirmou ser difícil levar o bloco para as ruas é o conhecido Manoel da Zinha, dirigente do bloco “Deu No que Deu”. Assim como Ricardo, ele disse que não se opõe à transferência do local da festa, mas afirmou que, sem ajuda (recursos), não tem como participar.  Já o pessoal do Pau de Gaiola, tendo o Delmar e o Osnofa (Afonso Silva) à frente, já fez até propaganda na internet informando que o Pau de Gaiola vai sair, no lugar de sempre, na Praça da Lagoinha. Mas a Prefeitura lançou uma enquete para que a população decida o lugar onde o bloco vai desfilar. A proposta já é contestada e até acusada de “manipulação”. Veja matéria ao lado.

Prefeitura anuncia megaestrutura

Talvez em resposta às contestações, a Prefeitura está fazendo campanha para “mostrar” que a opção pelo Carnavaliza do Boulevard é o melhor para os foliões. E na sexta-feira divulgou através de suas redes sociais, release em que afirma “a maravilha” que será o Carnavaliza no Boulevard. Conforme o release, após dizer que o Carnavaliza Itaúna “é o melhor do Centro-Oeste”, informa que “a prefeitura (sic) de Itaúna, por meio da secretaria municipal de Cultura e Turismo, fará o maior carnaval da história da cidade. Uma megaestrutura com foco em conforto e segurança. Circuito fechado gratuito, banheiros, praça de alimentação, área de recreação infantil, acesso de transporte coletivo, revista na entrada, grandes shows e os blocos que você já conhece” assim mesmo com os erros de grafia de sempre...

E completa: “O novo local será o Boulevard Lago Sul, uma área ampla e de fácil acesso, que já recebeu com grande sucesso o Festival de Inverno”. E a lembrança do Festival de Inverno está também na fotografia que mostra uma estrutura cercada, com as pessoas, e o entorno bastante escuro, o que contrasta com a segurança aventada. E a citação do Festival de Inverno faz relembrar a reclamação da semana passada, quando comerciantes apontavam um possível beneficiamento ao mesmo grupo que tem realizado eventos na cidade, sem alvará e com o apoio total da Prefeitura. Neste quesito, o prefeito concedeu entrevista nesta semana à Rádio Sol quando respondeu aos comerciantes que questionavam o prejuízo que podem ter com a mudança de local. Disse que “quem quiser pode ter a sua barraca no local”. Só não adiantou que esta barraca que “quem quiser, pode ter” custa investimento extra em estrutura que os comerciantes da Jove Soares terão que fazer, o que não é o caso de quem já atua com barracas e estruturas de venda de comida e bebida em eventos que vem sendo promovidos pelo Município. 

Mas este caso e a questão da ausência de alvarás para eventos como festivais de cerveja e o evento do período de Natal, na Praça, são outras situações que, se espera, sejam apurado pela Câmara, pelas entidades representantes dos comerciantes e até pelo Ministério Público, como afirmado anteriormente. Voltando à questão do carnaval e ao Pau de Gaiola, o release da Prefeitura de Itaúna informa ainda que será realizada uma enquete. “O Pau de Gaiola sempre foi realizado na Praça da Lagoinha, porém, com a qualidade do bloco, tem crescido a números impressionantes. No último, em 2020, estima-se que mais de 20 mil pessoas passaram pelo local. É lindo, mas não oferece o conforto e até segurança que a festa merece. Até mesmo como forma preventiva a se evitar algum transtorno grave, e mesmo pelo fato de que na Lagoinha não conseguimos garantir o conforto e até recreação para nossos pequenos, queremos integrar o Pau de Gaiola no circuito do Boulevard”. Dito isso, aborda a enquete.

Enquete já tem denúncia de possível manipulação

A proposta da Prefeitura é de que “queremos ouvir você. Está disponível uma enquete no site da prefeitura até a próxima segunda-feira, 9 de janeiro, às 8h, onde você pode escolher: manter o bloco Pau da Gaiola na Praça da Lagoinha ou ir para o Boulevard”. E em seguida, volta a propagandear o “circuito oficial, com mais segurança, conforto e outros atrativos”. “Só faltou dizer: com cerveja artesanal...”, brincou um crítico ao fazer a leitura do release. Brincadeiras à parte, a enquete pode se tornar outro problema, pois já tem denúncia de possível manipulação contra ela.

Um folião, que acompanha o Pau de Gaiola há algumas décadas, disse à reportagem que entrou o site da Prefeitura e votou... por quatro vezes seguidas, sendo computados todos os seus votos. E questionou: “Se eu consegui sem problemas, será que não pode ser disparada uma votação em massa, direcionando o resultado?”, perguntou. E concluiu, afirmando que, “assim, essa enquete não pode ser levada a sério e sobrepor a 43, isso mesmo, quarenta e três anos de história, de tradição, do Pau de Gaiola”.