Itaúna tem 2,65 médicos para cada mil habitantes
OCDE cobra 3,5 médicos. Com média atual, população de Itaúna tem um médico para cada 378 habitantes, e não conta com nefrologistas registrados no município, apesar da existência de um “hospital do câncer”
Conforme matéria divulgada pelo portal de notícias Brasil61, a média de médicos para cada mil habitantes no Brasil é de 2,81, e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) preconiza a necessidade de 3,5 médicos para cada mil habitantes. E Itaúna não está muito distante da média nacional, mantendo 2,65 médicos para cada mil habitantes, bem abaixo do necessário. Com isso, a cidade tem um médico para cada 378 habitantes, arredondando os números, pois, em se tratando de pessoas, não há como fracionar. A realidade de Minas Gerais é melhor do que a de Itaúna, pois o estado conta com 3,39 médicos para cada mil mineiros.
Analisando a situação dos quatro maiores municípios da região, Divinópolis é a cidade que apresenta a melhor relação médico/habitantes dentre elas, com 4,32 médicos para cada mil habitantes. Assim, os divinopolitanos contam com um médico para atender a cada 232 pessoas. E a pior situação é a de Nova Serrana, que não alcança o dígito de um médico para cada mil habitantes, ficando com 0,82. Assim, naquela cidade, um médico teria que atender 1.220 pessoas. A outra cidade das quatro maiores é Pará de Minas, que apresenta situação mais próxima da de Itaúna, porém abaixo dos índices itaunenses, com 2,16 médicos para cada mil habitantes, ou seja, um médico para atender a 463 pessoas. No Brasil, a melhor situação é a do estado de São Paulo, que conta com 4,16 médicos para cada mil habitantes, portanto acima da média necessária, conforme os organismos mundiais de saúde. Minas Gerais está próxima de alcançar o índice proposto de 3,5 médicos por mil habitantes (tem, hoje, 3,39). Porém, quando se analisa a situação com mais proximidade, vê-se que a maioria dos profissionais se concentra nos grandes centros. Com isso, obriga a migração de pacientes para estes locais. Desta forma, cidades como Divinópolis, que conseguem número confortável de médicos, convivem com a falta destes profissionais, pois eles são demandados pelos pacientes de municípios vizinhos.
O mesmo acontece, por exemplo, com Itaúna, que já conta com número inferior de médicos do que o necessário conforme os parâmetros mundiais e, ainda, “divide” a atenção destes profissionais com pacientes de municípios vizinhos. Assim, a demanda de Itaúna, na realidade, é maior do que os números frios demonstram, pois a população a ser atendida é maior do que a residente no município.
Quando se trata de “especialidades médicas”, a situação é pior
A reportagem da FOLHA fez pesquisa em relação às especialidades dos médicos que têm registro de “ativos” em Itaúna e constatou a precariedade em algumas áreas, além de questões sem respostas. Uma delas é com relação, por exemplo, à falta constante de médicos pediatras em Itaúna, sendo que, dos 259 profissionais registrados no município, conforme página do CFM (https://portal.cfm.org.br/buscamedicos/), 20 são especialistas em pediatria, uma das especialidades com maior número de profissionais. No caso, por exemplo, de Clínica Médica (que são tratados como clínicos gerais ou generalistas) são 21 registros. Especialistas em Cardiologia são 9 profissionais. Cirurgia Geral conta com 11 profissionais registrados em Itaúna. Uma outra especialidade que apresentou carência recente é a de Anestesiologia, tendo apenas 5 profissionais registrados no município.
A reportagem apurou, ainda, algumas especialidades mais demandadas, conforme levantamentos superficiais entre a comunidade, e encontrou a seguinte situação na página de médicos com registros no CFM em Itaúna: Cirurgia Plástica, um profissional; Cirurgia Pediátrica, sem registro; Endocrinologia, um; Endocrinologia e Metabolismo, quatro; Geriatria, dois; Medicina da Família e Comunidade, sete; Medicina do Trabalho, 11; Nefrologia, 7; Neurologia, 4; Oftalmologia, 7; Urologia, 3.
Um problema bastante recorrente em Itaúna é a falta de perito. No caso de profissional especializado em Medicina Legal, não há registro local, assim como Oncologia, mesmo Itaúna mantendo em funcionamento o Centro de Oncologia, uma das mais festejadas conquistas dos itaunenses nos últimos anos. Essas situações são encontradas devido ao fato de que, não havendo profissionais locais em disponibilidade, são contratados profissionais de outras cidades, que atendem em Itaúna. Portanto o fato de o profissional ter o seu registro em um município não garante que ele atenda aos pacientes locais, o que gera ainda mais disparidades.
Consórcios municipais como alternativa
A situação da falta de médicos na realidade da saúde no país não é nova. E uma das propostas de maior alcance para enfrentar o problema surgiu em Minas Gerais, quando o ex-secretário de Saúde de Minas Rafael Guerra, posteriormente eleito deputado federal – muito bem votado em Itaúna, por sinal –, implantou os consórcios intermunicipais de saúde, que depois foram aprovados em lei federal, em 2005. Porém, além da legislação, é necessário contar com a vontade política dos mandatários.
A valorização de profissionais não só em relação a salários, mas a oferta de condições de trabalho, seria um caminho. Muitos municípios pagam salários melhores que outros, porém não conseguem preencher as lacunas no atendimento em diversas especialidades. Isso se deve à falta de condições de trabalho nas unidades de saúde, à organização da rotina de trabalho, dentre outras medidas necessárias. E outra situação que atrai profissionais para o município é, também, a qualidade de vida ofertada à comunidade.
Portanto a falta de profissionais, mesmo com a existência de cursos de formação, como é o caso de Itaúna, passa pela estrutura social do município, além da questão salarial. Itaúna, com uma faculdade de Medicina em seu território, por outro lado, tem um hospital e as unidades de saúde municipais. Mas não conta com uma UPA, por exemplo. E um outro fator é que nem todos os médicos registrados no município, conforme o CRM – Conselho Regional de Medicina, atuam na cidade. E se o recorte for feito com observação na oferta de médicos por habitantes, no serviço público essa disparidade é ainda maior.
Investir na saúde curativa, sem um planejamento detalhado da situação, cria situações como a de Itaúna: tem faculdade de Medicina, investe quase o dobro do obrigatório em lei, na área da saúde, porém está com a defasagem de oferta de profissionais comparada às das regiões mais carentes do estado. Falta planejamento, apontam os críticos.