Desaparecimento da Irmã Benigna, uma das personagens mais importantes da história de Itaúna-MG, completa 76 anos

Processo de beatificação da religiosa está em andamento e encontra-se no segundo estágio

Desaparecimento da Irmã  Benigna, uma das personagens mais importantes da história  de Itaúna-MG, completa 76 anos


A AMAIBEN (Associação dos Amigos de Irmã Benigna), mantém um acervo de livros de memórias, fotos, vídeos e áudios, além de publicações do Jornal Irmã Benigna Notícias, contendo inúmeros depoimentos de diversos amigos da freira, que foram coletados ao longo dos anos, com muitas informações, principalmente sobre o período em que ela esteve em Itaúna e do local para onde foi transferida na noite em que sumiu.

Num destes livros, a memorialista Maria do Carmo Mariano narrou o fato do sumiço da freira com riqueza de detalhes: “Da noite para o dia, dentro da casa que ela dirigia, espalharam que ela estava grávida e retiraram-na de lá presa, numa viatura policial, dizendo ser ela irmã do povo e comunista. […] Levaram-na para a Serra da Piedade, em 1948, e para o Asilo São Luiz em Caeté. […] Na Serra da Piedade, em oração e meditação, pedia a Deus e à Nossa Senhora forças para continuar, bem como perdoar tantos que a caluniaram, perseguiram-na e injustiçaram-na. […] Lá sofreu grandes dores por não poder se quer se defender. […] Foi colocada até num chiqueiro onde adquiriu várias doenças. […] Depois de mais de um ano na Serra da Piedade, os amigos conseguiram descobri-la e quando chegavam para visitá-la a encontravam nos serviços mais pesados, mas sempre alegre e recebendo a todos com amor e oração. Sua saúde já estava bastante debilitada e, quando Dr. José Nogueira, médico e amigo, foi visitá-la ficou horrorizado. […] Comunicou, então, à diretora da casa que a saúde de Irmã Benigna estava muito abalada […] dessa forma ela não aguentaria mais e que ele responsabilizaria a congregação por sua morte.”

Segundo o relato de Lúcia Moreira de Andrade, Irmã Benigna teria revelado a ela que passou 30 dias no “chiqueiro”, na Serra da Piedade, onde teve que se alimentar da ração dos porcos em um local extremamente frio. Foi nesse período que desenvolveu artrose e outras doenças.

O relato mais impressionante é de Geralda Maria de Jesus, em 18 de junho de 2008, natural de Angicos, município de Carmo do Cajuru – MG. Ela saiu da roça para Itaúna e foi trabalhar na Casa de Caridade, onde conheceu Irmã Benigna e viu de perto suas virtudes. Foi seu único emprego, onde se aposentou. Com uma voz cansada e emocionada, Geralda descreveu a bondade, a dedicação e a caridade que testemunhou vindo de Irmã Benigna e que, segundo ela, era incansável na missão de cuidar de todos, pacientes e funcionários, sempre com amor e carinho.

De acordo com o depoimento de Geralda, uma situação mal interpretada causou toda a confusão. “Nessa época, trabalhava no hospital um enfermeiro chamado Rubens, que bebia muito. Um dia, a Irmã Benigna estava ajudando o Padre Oscar a ungir os pacientes e esse enfermeiro entrou no quarto, viu e colocou maldade. Ele nem sabia o que estava acontecendo. Esse enfermeiro contou para sua namorada Lia, que era empregada do Dr. Coutinho, que encontrou Irmã Benigna no quarto com o padre, mas ele nem sabia o que ela estava fazendo lá com o Padre. Ele foi muito maldoso.”

Um ano após seu desaparecimento, a irmã foi encontrada no Asilo da Piedade, localizado na Serra da Piedade, no município de Caeté-MG. O amigo e médico José Nogueira a encontrou em um ambiente degradante e com a saúde debilitada, em consequência dos maus tratos que vinha sofrendo. Descobriu-se, então, que todas as acusações não passaram de boatos.

Contudo, irmã Benigna não perdeu o ânimo, nem sua fé desfaleceu diante de todas essas dificuldades. Ela seguiu sua vida, prestando serviços em diversas cidades de Minas Gerais: Lambari, Lavras, Sabará e Belo Horizonte. Por onde passou, fez inúmeras amizades e, mesmo após sua morte, continua sendo uma figura importante para muitos. Milhares de devotos continuam a pedir sua intercessão junto a Deus, tornando seu túmulo, localizado no jazigo 145, quadra 9, do Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, um dos mais visitados há mais de 30 anos, por causa dos inúmeros milagres atribuídos a ela.

Antes de ser considerado santo, um candidato passa por três estágios. Primeiro, é reconhecido como “Servo de Deus”, quando o Vaticano aceita abrir o processo de beatificação encaminhado por alguma diocese. Nesse primeiro estágio é feito o exame das virtudes ou martírio, uma etapa que requer mais tempo, pois o postulador precisa investigar minuciosamente a vida do Servo de Deus. Em fevereiro de 2022, foi concedido pelo Papa Francisco o reconhecimento das virtudes heroicas da Serva de Deus Irmã Benigna Víctima de Jesus, levando-a, à condição de “Venerável Benigna”. Este é o segundo estágio no processo de beatificação.

Parte 3 na próxima edição

* Toni Ramos Gonçalves nasceu em 1971, em Itaúna-MG. Escritor e editor, publicou livros solos e organizou antologias. Venceu vários prêmios literários pelo país e atualmente é graduando em História e Jornalismo. Redes sociais: @toniramosgoncalves