Festa “popular” itaunense tem gastos “astronômicos”

Divulgação fala em 20 mil foliões/dia. Gasto pode ter sido de mais de R$ 3,8 milhões

Festa “popular” itaunense tem gastos “astronômicos”
Foto: Reprodução/JOMI


A página do Instagram da Prefeitura comemorou: “Em enquete realizada pelo portal @g1.centrooeste o Carnavaliza Itaúna foi eleito o melhor Carnaval do Centro-Oeste de Minas com 89,93% dos votos! O resultado consagra o sucesso do evento pelo segundo ano consecutivo! Milhares de foliões de diversas cidades passaram pelo circuito ofi cial aproveitando uma festa para toda a família! A palavra de ordem é GRATIDÃO!”. E no fechamento do jornal do meio do dia da TV Integração o secretário de Cultura de Itaúna, Ilimane Lopes, vulgo Joe, afirmou que a média de público foi de 20 mil pessoas/dia. Mas o que nem a assessoria, nem a tevê Integração, nem o secretário de Cultura falaram, ainda, é que “o melhor Carnaval do Centro-Oeste de Minas” também pode ter sido o mais caro da região, com gasto de quase R$ 4 milhões. Isso mesmo: somados os gastos relacionados à festa, chega-se a R$ 3.812.555,27. 

Essa é a soma a que a reportagem da FOLHA conseguiu chegar apurando os gastos relacionados à festa já publicados no site da Prefeitura (www.itauna.mg.gov.br), informados em várias edições do JOMI – Jornal Oficial do Município de Itaúna, órgão que publica os atos oficiais do Município. Vamos aos números: foram informadas as contratações dos seguintes shows para a festa, começando com Val do Cavaco e D. Sousa, os shows locais, mais o DJ Gui, que movimentou os foliões no desfile do Pau de Gaiola, em um total de R$ 13 mil. Também foram gastos mais R$ 4.500,00 com a “premiação” do “melhor folião vestido de mulher” e “melhor foliã vestida de homem”, além da “drag queen”, ao custo de R$1,5 mil cada. Também foi anunciado o repasse de R$ 20 mil para cada bloco que desfilou no “circuito oficial”. Até aqui, R$ 97,5 mil. Foram contratados os shows da Bateria da Beija-Flor (R$ 56 mil), a dupla Henrique & Diego (R$ 115 mil), a Banda Oba Oba (R$ 105 mil), Leandro Pika Pau (R$ 85 mil) e os palhaços Patati & Patatá (R$ 70 mil). Também foram contratados o trio elétrico para acompanhar os blocos (R$ 210 mil) e uma UTI Móvel, junto ao Consórcio Cispará (R$ 59.466,00). Aqui, mais R$ 700.466,00. Chega-se a R$ 797.966,00. 

Contratos “guarda-chuva” 

Uma série de outros contratos foram usados, conforme apurou a reportagem, para abrigar gastos relativos ao carnaval. Não se pode afirmar que todo o valor relativo a eles foi investido no carnaval, pois esses contratos se referem ao ano de 2024, com validade até 31 de dezembro deste ano. Alguns deles já foram suplementados em 25%, conforme pode ser conferido na publicação de “extratos de termos de contratos”, da edição de número 2.299 do JOMI, com data de 9 de fevereiro de 2024. Caberá aos vereadores, por exemplo, conferirem quanto de cada contrato foi gasto com o carnaval, para se chegar ao valor exato das despesas com a festa momesca deste ano. Ou à Secretaria de Cultura divulgar um balanço exato do que foi investido no carnaval e o que sobrou para as ações do restante deste ano. 

Conforme uma pessoa que tem conhecimento do setor, estes contratos são chamados de “guarda-chuva” por abrigarem um gasto que pode ser tanto do carnaval como da festa de final de ano e, assim, dificultar a prestação de contas específica. Para se chegar ao valor exato do que foi gasto no carnaval, vai ser preciso conferir nota a nota que será paga dentro de cada contrato. 

Os contratos, com as especificações de material a ser consumido pelo Município são os seguintes, com os respectivos contratados: Bruno H. S. Lara, no valor de R$ 136.183,00, mais uma suplementação de R$ 29.278,00 relativa à locação de brinquedos infanto-juvenis, totalizando R$ 165.461,00; Benfica Júnior (sonorização), R$ 89.600,00; Superfesta (som, palco, iluminação), R$ 904.901,27, mais 25% de um contrato no valor de R$ 27.250,00, totalizando R$ 932.151,27; Épico Eventos (rádios transmissores), R$ 35.717,50. 

E continua: Phama Produções (catracas eletrônicas), R$ 88.400,00; Macedo Seg. Privada (segurança desarmada), R$ 663.500,00; Contraste Publicidade (lona para identidade visual), R$ 159.285,00; M.F. Eventos (locação de tendas), R$ 165.000,00; Fest. Eventos (locação de tendas e barracas), R$ 444.774,50; M.F. Eventos (locação de gradil e placas de fechamento), R$ 80.534,00; Macedo Seg. Privada (monitoramento de câmeras), R$ 139.376,00. 

Também foram feitas suplementações de contratos sem especificação de que produtos/serviços estavam sendo contratados: Épico Eventos, suplementação de 25% em contrato, R$ 8.792,00; Phama Produções, suplementação de 25%, R$ 22.100,00; e M.F. Eventos, suplementação de 25%, R$ 20.098,00. Nesses contratos o valor total é de R$ 3.014.789,27. Somados todos os gastos até aqui apurados, dá um total de R$ 3.812.55,27. Agora é preciso, como afirmamos, detalhar sobre quanto cada um desses contratos foi utilizado para o carnaval. O fato de ter havido suplementação em alguns deles indica que possivelmente todo o valor já foi utilizado na festa de momo.